Catecismo da Igreja Católica

TERCEIRA PARTE - A VIDA EM CRISTO

Capítulo I  - ARTIGO 6

A CONSCIÊNCIA MORAL

1776     Na [§1] intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei ressoa no íntimo de seu coração... É uma lei inscrita por Deus no coração do homem.. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz[a2] . "

I. O juízo da consciência

1777     Presente [§3] no coração da pessoa, a consciência moral [a4] lhe impõe, no momento oportuno, fazer o bem e evitar o mal. Julga, portanto, as escolhas concretas, aprovando as boas e denunciando as más[a5] . Atesta a autoridade da verdade referen­te ao Bem supremo, de quem a pessoa humana recebe a atra­ção e acolhe os mandamentos. Quando escuta a consciência moral, o homem prudente pode ouvir a Deus, que fala.

1778     A [§6] consciência moral é um julgamento da razão pelo qual a pessoa humana reconhece a qualidade moral de um ato concreto que vai planejar, que está a ponto de executar ou que já praticou. Em tudo o que diz e faz, o homem é obrigado a seguir fielmente o que sabe ser justo e correto. E pelo julgamento de sua consciência que o homem percebe e reconhece as pres­crições da lei divina:

A consciência é uma lei de nosso espírito que ultrapassa nosso espírito, nos faz imposições, significa responsabilidade e dever, temor e esperança... E a mensageira daquele que, no mundo da natureza bem como no mundo da graça, nos fala através de um véu, nos instrui e nos governa. A consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo[a7] .

1779     É [§8] importante que cada qual esteja bastante presente a si mesmo para ouvir e seguir a voz de sua consciência. Esta exigên­cia de interioridade é muito necessária, pelo fato de a vida nos deixar freqüentemente em situações que nos afastam:

Volta à tua consciência, interroga-a... Voltai, irmãos, ao interior e em tudo o que fizerdes atentai para a testemunha, Deus[a9] .

1780     A[§10]  dignidade da pessoa humana implica e exige a retidão da consciência moral. A consciência moral compreende a percepção dos princípios da moralidade ("sindérese"), sua aplicação a cir­cunstâncias determinadas por um discernimento prático das ra­zões e dos bens e, finalmente, o juízo feito sobre atos concretos a praticar ou já praticados. A verdade sobre o bem moral, decla­rada na lei da razão, é reconhecida prática e concretamente pelo juízo prudente da consciência. Chamamos de prudente o homem que faz suas opções de acordo com este juízo.

1781     A [§11] consciência permite assumir a responsabilidade dos atos praticados. Se o homem comete o mal, o julgamento justo da consciência pode continuar nele como testemunho da verdade universal do bem e ao mesmo tempo da malícia de sua escolha singular. O veredicto do juízo de consciência continua sendo um penhor de esperança e misericórdia. Atestando a falta cometida lembra a necessidade de pedir perdão, de praticar novamente o bem e de cultivar sem cessar a virtude com a graça de Deus.

Diante dele tranqüilizaremos nosso coração, se nosso coração nos acusa, porque Deus é maior que nosso coração e conhece todas as coisas (1 Jo 3,19-20).

1782     O[§12]  homem tem o direito de agir com consciência e liberdade, a fim de tomar pessoalmente as decisões morais. "O homem não pode ser forçado a agir contra a própria consciência. Mas também não há de ser impedido de proceder segundo a consciência, sobretudo em matéria religiosa[a13] ."

II.      A formação da consciência

1783     A [§14] consciência deve ser educada e o juízo moral, esclarecido. Uma consciência bem formada é reta e verídica. Formula seus julgamentos seguindo a razão, de acordo com o bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador. A educação da consciência e indispensável aos seres humanos submetidos a influências negativas e tentados pelo pecado a preferir seu julgamento próprio e a recusar os ensinamentos autorizados.

1784     A [§15] educação da consciência é uma tarefa de toda a vida. Desde os primeiros anos, alerta a criança para o conhecimento e a prática da lei interior reconhecida pela consciência moral. Uma educação prudente ensina a virtude, preserva ou cura do medo, do egoísmo e do orgulho, dos sentimentos de culpabilidade e dos movimentos de complacência, nascidos da fra­queza e das faltas humanas. A educação da consciência garan­te a liberdade e gera a paz do coração.

1785     Na [§16] formação da consciência, a Palavra de Deus é a luz de nosso caminho; é preciso que a assimilemos na fé e na oração e a ponhamos em prática. É preciso ainda que examinemos nossa consciência, confrontando-nos com a Cruz do Senhor. Somos assistidos pelos dons do Espírito Santo, ajudados pelo testemunho e con­selhos dos outros e guiados pelo ensinamento autorizado da Igreja[a17] .

III.    Escolher segundo a consciência

1786     Posta diante de uma escolha moral, a consciência pode emitir um julgamento correto, de acordo com a razão e a lei divina, ou, ao contrário, um julgamento errôneo, que se afasta da razão e da lei divina.

1787     Às [§18] vezes o homem depara com situações que tornam o juízo moral menos seguro e a decisão difícil. Mas ele deverá sempre procurar o que é justo e bom e discernir a vontade de Deus expressa na lei divina.

1788     Para [§19] tanto, o homem deve se esforçar por interpretar os dados da experiência e os sinais dos tempos graças à virtude da prudência, aos conselhos de pessoas avisadas e à ajuda do Espírito Santo e de seus dons.

1789     Algumas [§20] regras se aplicam a todos os casos:

ü      Nunca é permitido praticar um mal para que daí resul­te um bem.

ü      A "regra de ouro": "Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles[a21] ".

ü      A caridade respeita sempre o próximo e sua consciência: "Pecando contra vossos irmãos e ferindo sua consciên­cia... pecais contra Cristo" (1 Cor 8,12). "E bom se abs­ter... de tudo o que seja causa de tropeço, de queda ou enfraquecimento para teu irmão" (Rm 14,21).

IV.    O juízo errôneo

1790     O ser humano deve sempre obedecer ao juízo certo de sua consciência. Se agisse deliberadamente contra este último, estaria condenando a si mesmo. Mas pode acontecer que a consciência moral esteja na ignorância e faça juízos errôneos sobre atos a praticar ou já praticados.

1791     Muitas [§22] vezes esta ignorância pode ser imputada à responsabilidade pessoal. É o que acontece "quando o homem não se preocupa suficientemente com a procura da verdade e do bem, e a consciência pouco a pouco, pelo hábito do pecado, se torna quase obcecada[a23] ". Neste caso, a pessoa é culpável pelo mal que comete.

1792     A [§24] ignorância de Cristo e de seu Evangelho, os maus exem­plos de outros, o servilismo às paixões, a pretensão de uma mal-entendida autonomia da consciência, a recusa da autoridade da Igreja e de seus ensinamentos, a falta de conversão ou de caridade podem estar na origem dos desvios do julgamento na conduta moral.

1793     Se [§25] - ao contrário - a ignorância for invencível ou o julgamento errôneo não for da responsabilidade do sujeito moral, o mal cometido pela pessoa não lhe poderá ser imputado. Mas nem por isso deixa de ser um mal, uma privação, uma desordem. É preciso trabalhar, pois, para corrigir a consciência moral de seus erros.

1794      A [§26] consciência boa e pura é esclarecida pela fé verdadeira, pois a caridade procede ao mesmo tempo "de um coração puro de uma boa consciência e de uma fé sem hipocrisia" (l Tm 1,5[a27] ).

"Quanto mais prevalece a consciência reta, tanto mais as pessoas e os grupos se afastam de um arbítrio cego e se esforçam por conformar-se às normas objetivas da moralidade[a28] ."

RESUMINDO

1795     "A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz[a29] . "

1796     A consciência moral é um julgamento da razão pelo qual a pessoa humana reconhece a qualidade moral de um ato concreto.

1797     Para o homem que cometeu o mal, o veredicto de sua cons­ciência permanece um penhor de conversão e de esperança.

1798     Uma consciência bem formada é reta e verídica. Formula seus julgamentos seguindo a razão, de acordo com o bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador. Cada qual deve usar os meios adequados para formar sua consciência.

1799     Colocada diante de uma escolha moral, a consciência pode emitir um julgamento correto de acordo com a razão e a lei divina ou, ao contrário, um julgamento errôneo, que se afasta da razão e da lei divina.

1800     O ser humano deve obedecer sempre ao julgamento certo de sua consciência.

1801     A consciência moral pode estar na ignorância ou fazer julga­mentos errôneos. Essa ignorância e esses erros nem sempre são isentos de culpa.

1802     A Palavra de Deus é luz para nossos passos. É preciso que a assimilemos na fé e na oração e a coloquemos em pratica. Assim se forma a consciência moral.

ARTIGO 7

AS VIRTUDES

1803     "Ocupai[§30] -vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, tudo o que há de louvável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor" (Fl 4,8).

A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só praticar atos bons, mas dar o    melhor de si. Com todas as suas forças sensíveis e espiri­tuais, a pessoa virtuosa tende ao bem, procura-o e escolhe­-o na prática.

"O objetivo da vida virtuosa é tornar-se semelhante a Deus[a31] ."

          I As virtudes humanas

1804     As [§32] virtudes humanas são atitudes firmes, disposições es­táveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé. Propiciam, assim, facilidade, domínio e alegria para levar uma vida moralmente boa. Pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem.

As virtudes morais são adquiridas humanamente. São os frutos e os germes de atos moralmente bons; dispõem todas as forças do ser humano para entrar em comunhão com o amor divino.

DISTINÇÃO DAS VIRTUDES CARDEAIS

1805     Quatro virtudes têm um papel de "dobradiça" (que, em latim, se diz "cardo, cardinis"). Por esta razão são chamadas “cardeais": todas as outras se agrupam em torno delas. São a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança. "Ama-se a retidão? As virtudes são seus frutos; ela ensina a temperança e a prudência a justiça e a fortaleza" (Sb 8,7). Estas virtudes são louvadas em numerosas passagens da Escritura sob outros nomes.

1806     A [§33] prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo. "O homem sagaz discerne os seus passos" (Pr 14,15). "Sede prudentes e sóbrios para entregardes às orações" (1 Pd 4,7). A prudência é a "regra certa da ação", escreve Sto. Tomás [a34] citando Aristóteles. Não se confunde com a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulação. E chamada "auriga virtutum" ("cocheiro", isto é "portadora das virtudes"), porque, conduz as outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida. E a prudência que guia imediatamente o juízo da consciência. O homem prudente decide e ordena sua conduta seguindo este juízo. Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos casos particulares e superamos as dúvidas sobre o bem a praticar e o mal a evitar.

1807     A [§35] justiça é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se "virtude de religião". Para com os homens, ela nos dispõe a respeitar os direitos de cada um e a estabelecer nas relações humanas a harmonia que pro­move a equidade em prol das pessoas e do bem comum. O homem justo, muitas vezes mencionado nas Escrituras, distin­gue-se pela correção habitual de seus pensamentos e pela retidão de sua conduta para com o próximo. "Não favoreças o pobre, nem prestigies o poderoso. Julga o próximo conforme a justiça" (Lv 19,15). "Senhores, dai aos vossos servos o justo e eqüitativo, sabendo que vós tendes um Senhor no céu" (Cl 4,1).

1808     A [§36] fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas difi­culdades, firmeza e constância na procura do bem. Ela firma a resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza nos torna capazes de vencer o medo, inclusive da morte, de suportar a provação e as per­seguições. Dispõe a pessoa a aceitar até a renúncia e o sacri­fício de sua vida para defender uma causa justa. "Minha força e meu canto é o Senhor" (Sl 118,14). "No mundo tereis tribu­lações, mas tende coragem: eu venci o mundo" (Jo 16,33).

1809     A [§37] temperança é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem seus apetites sensíveis, guarda uma santa discrição e "não se deixa levar a seguir as paixões do coração[a38] ". A temperança é muitas vezes louvada no An­tigo Testamento: "Não te deixes levar por tuas paixões e re­freia os teus desejos" (Eclo 18,30). No Novo Testamento, é chamada de "moderação" ou "sobriedade". Devemos "viver com moderação, justiça e piedade neste mundo" (Tt 2,12).

Viver bem não é outra coisa senão amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e em toda forma de agir. Dedicar-lhe um amor integral (pela temperança) que nenhum infortúnio poderá abalar (o que depende da fortaleza), que obedece exclusivamente a Ele (e nisto consiste a justiça), que vela para discernir todas as coisas com receio de deixar-se surpreender pelo ardil e pela mentira (e isto é a prudência[a39] ).

As VIRTUDES E A GRAÇA

1810     As [§40] virtudes humanas adquiridas pela educação, por atos deliberados e por uma perseverança sempre retomada com esforço são purificadas e elevadas pela graça divina. Com o auxílio de Deus, forjam o caráter e facilitam a prática do bem. O homem virtuoso sente-se feliz em praticá-las.

1811     Não [§41] é fácil para o homem ferido pelo pecado manter o equilíbrio moral. O dom da salvação, trazida por Cristo, nos concede a graça necessária para perseverar na conquista das virtudes. Cada um deve sempre pedir esta graça de luz e de fortaleza, recorrer aos sacramentos, cooperar com o Espírito Santo, seguir seus apelos de amar o bem e evitar o mal.

II[§42] .      As virtudes teologais

1812     As [§43] virtudes humanas se fundam nas virtudes teologais que adaptam as faculdades do homem para que possa participar da natureza divina[a44] . Pois as virtudes teologais se referem diretamente a Deus. Dispõem os cristãos a viver em relação com a Santíssima Trindade e têm a Deus Uno e Trino por origem, motivo e objeto.

1813     As [§45] virtudes teologais fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão. Informam e vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para torná-los capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna. São o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. Há três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade[a46] .

A [§47] 

1814     A [§48] fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, "o homem livremente se entrega todo a Deus[a49] . Por isso o fiel procura conhecer e fazer a vontade de Deus. "O justo viverá da fé" (Rm 1,17). A fé viva "age pela caridade" (Gl 5,6).

1815     O dom da fé permanece naquele que não pecou contra ela[a50] . Mas "é morta a fé sem obras" (Tg 2,26): privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um membro vivo de seu Corpo.

1816     O [§51] discípulo de Cristo não deve apenas guardar a fé e nela vi­ver, mas também professá-la, testemunhá-la com firmeza e difun­di-la: "Todos devem estar prontos a confessar Cristo perante os homens e segui-lo no caminho da Cruz, entre perseguições que nunca faltam à Igreja[a52] . O serviço e o testemunho da fé são requi­sitos da salvação: "Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens tam­bém o renegarei diante de meu Pai que está nos céus" (Mt 10,32-33).

A ESPERANÇA

1817     A [§53] esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. "Continuemos a afirmar nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa" (Hb 10,23). "Este Espírito que ele ricamente derramou sobre nós, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que fôssemos justificados por sua graça e nos tornás­semos herdeiros da esperança da vida eterna" (Tt 3,6-7).

1818     A [§54] virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem; assume as espe­ranças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as, para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo esmorecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade.

1819     A [§55] esperança cristã retoma e realiza a esperança do povo eleito, que tem sua origem e modelo na esperança de Abraão, cumulada em Isaac, das promessas de Deus, e purificada pela prova do sacrifício[a56] . "Ele, contra toda a esperança, acreditou na esperança de tornar-se pai de muitos povos" (Rm 4,18).

1820     A [§57] esperança cristã se manifesta desde o inicio da pregação de Jesus no anúncio das bem-aventuranças. As bem-aventuranças elevam nossa esperança ao céu, como para a nova Terra prometida; traçam o caminho por meio das provação reservadas aos discípulos de Jesus. Mas, pelos méritos de Jesus Cristo e de sua Paixão, Deus nos guarda na "esperança que não decepciona" (Rm 5,5). A esperança é a "âncora da alma) segura e firme, "penetrando... onde Jesus entrou por nós, como precursor" (Hb 6,19-20). Também é uma arma que nos protege no combate da salvação: "Revestidos da couraça da fé e da caridade e do capacete da esperança da salvação" (l Ts 5,8) Ela nos traz alegria mesmo na provação: "alegrando-vos na esperança, perseverando na tribulação" (Rm 12,12). Ela se exprime e se alimenta na oração, especialmente no Pai-Nosso resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar.

1821     Podemos [§58] esperar, pois, a glória do céu prometida por Deus aos que o amam [a59] e fazem sua vontade[a60] . Em qualquer circunstância, cada qual deve esperar, com a graça de Deus, "perseverar até o fim[a61] " e alcançar a alegria do céu comi recompensa eterna de Deus pelas boas obras praticadas com graça de Cristo. Na esperança, a Igreja pede que "todos ó homens sejam salvos" (1Tm 2,4). Ela aspira a estar unida a Cristo, seu Esposo, na glória do céu.

Espera, ó minha alma, espera. Ignoras o dia e a hora. Vigia cuidadosamente, tudo passa com rapidez, ainda que tua impaciência torne duvidoso o que é certo, e longo um tempo bem curto. Con­sidera que, quanto mais pelejares, mais provarás o amor que tens a teu Deus e mais te alegrarás um dia com teu Bem-Amado numa felicidade e num êxtase que não poderão jamais terminar[a62] .

A CARIDADE

1822     A [§63] caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.

1823     Jesus [§64] fez da caridade o novo mandamento[a65] . Amando os seus "até o fim" (Jo 13,1), manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: "Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor" (Jo 15,9). E ainda: "Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12).

1824     Fruto [§66] do Espírito e da plenitude da lei, a caridade guarda os mandamentos de Deus e de seu Cristo: "Permanecei em meu amor. Se observais os meus mandamentos, permanecereis no meu amor" (Jo 15,9-10[a67] ).

1825     Cristo [§68] morreu por nosso amor quando éramos ainda "inimi­gos" (Rm 5,10). O Senhor exige que amemos, como Ele, mesmo os nossos inimigos[a69] , que nos tornemos o próximo do mais afas­tado[a70] , que amemos como Ele [a71] as crianças e os pobres[a72] .

O apóstolo S. Paulo traçou um quadro incomparável da carida­de: "A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é inve­josa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rego­zija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (l Cor 13,4-7).

1826     Diz ainda o apóstolo: "Se não tivesse a caridade, nada se­ria...". E tudo o que é privilégio, serviço e mesmo virtude... "se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria[a73] ". A caridade superior a todas as virtudes. E a primeira das virtudes teologais "Permanecem fé, esperança, caridade, estas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade" (1 Cor 13,13).

1827     O [§74] exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade, que é o "vinculo da perfeição" (Cl 3,14); é a forma das virtudes, articulando-as e ordenando-as entre si; é fonte e termo de sua prática cristã. A caridade assegura purifica nossa capacidade humana de amar, elevando-a à feição sobrenatural do amor divino.

1828     A [§75] prática da vida moral, animada pela caridade, dá ao cristão a liberdade espiritual dos filhos de Deus. Já não está diante de Deus como escravo em temor servil, nem como mercenário à espera do pagamento, mas como um filho que responde ao amor daquele "que nos amou primeiro" (1 Jo 4,19):

Ou nos afastamos do mal por medo do castigo, estando assim na posição do escravo; ou buscamos o atrativo da recompensa, assemelhando-nos aos mercenários; ou é pelo bem em si mo e por amor de quem manda que nós obedecemos... e estaremos então na posição de filhos[a76] .

1829     A [§77] caridade tem como frutos a alegria, a paz e a misericórdia exige a beneficência e a correção fraterna; é benevolência; suscita a reciprocidade; é desinteressada e liberal; é amizade e comunhão:

A finalidade de todas as nossas obras é o amor. Este é o fim, é para alcançá-lo que corremos, é para ele que corremos; uma vez chegados, é nele que repousaremos[a78] .

III.    Os dons e frutos do Espírito Santo

1830     A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do Espírito Santo. Estes são disposições permanentes que tornam o homem dócil para seguir os impulsos do mesmo Espírito.

1831     Os [§79] sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Em pleni­tude, pertencem a Cristo, Filho de Davi[a80] . Completam e levam ã perfeição as virtudes daqueles que os recebem. Tornam os fiéis dóceis para obedecer prontamente às inspirações divinas.

Que o teu bom espírito me conduza por uma terra aplanada (Sl 143,10)

Todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus são filhos de Deus... Filhos e, portanto, herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo (Rm 8,14.17).

1832     Os [§81] frutos do Espírito são perfeições que o Espírito Santo forma em nós como primícias da glória eterna. A Tradição da Igreja enumera doze: "caridade, alegria, paz, paciência, longani­midade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modés­tia, continência e castidade" (Gl 5,22-23 vulg.).

RESUMINDO

1833     A virtude é uma disposição habitual e firme de fazer o bem.

1834     As virtudes humanas são disposições estáveis da inteligência e da vontade que, regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé. Podem ser agrupadas em torno de quatro virtudes cardeais: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.

1835     A prudência dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo.

1836     A justiça consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido.

1837     A fortaleza garante, nas dificuldades, a firmeza e a constân­cia na busca do bem.

1838     A temperança modera a atração dos prazeres sensíveis e pro­cura o equilíbrio no uso dos bens criados.

1839     As virtudes morais crescem pela educação, pelos atos deliberados e pela perseverança no esforço. A graça divina purifica e as eleva.

1840     As virtudes teologais dispõem os cristãos a viver em relação com a Santíssima Trindade. Têm a Deus por origem, motivo e objeto, Deus conhecido pela fé, esperado e amado por casa de si mesmo.

1841     Há três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade[a82] . Estas informam e vivificam todas as virtudes morais.

1842     Pela fé, nós cremos em Deus e em tudo o que Ele nos revelou e que a Santa Igreja nos propõe para crer.

1843     Pela esperança, desejamos e aguardamos de Deus, com firme confiança, a vida eterna e as graças para merecê-la.

1844         Pela caridade, amamos a Deus sobre todas as coisas e a nosso próximo como a nós mesmos por amor a Deus. Ela é o "vínculo da perfeição" (Cl 3,14) e a forma de todas as virtudes.

1845     Os sete dons do Espírito Santo concedidos ao cristão sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.

ARTIGO 8

O PECADO

I. A misericórdia e o pecado

1846     O [§83] Evangelho é a revelação, em Jesus Cristo, da misericórdia de Deus para com os pecadores[a84] . O anjo anuncia a José: "Tu chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará seu povo de seus pecados" (Mt 1,21). O mesmo se dá com a Eucaristia, sacramento da redenção: "Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mt 26,28).

1847     "Deus [§85] nos criou sem nós, mas não quis salvar-nos sem nós[a86] ." Acolher sua misericórdia exige de nossa parte a confissão de nossas faltas. "Se dissermos: 'Não temos pecado', enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos nossos pecados, Ele, que é fiel e justo, perdoará nossos pecados e nos purificará de toda injustiça" (1Jo 1,8-9).

1848     Como [§87] afirma S. Paulo: "Onde avultou o pecado, a graça superabundou" (Rm 5,20). Mas, para realizar seu trabalho, deve a graça descobrir o pecado, a fim de converter nosso coração e nos conferir "a justiça para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rm 5,21). Como o médico que examina a ferida antes de curá-la, assim Deus, por sua palavra e por seu Espírito, projeta uma luz viva sobre o pecado.

A conversão requer que se lance luz sobre o pecado; ela con­tém em si mesma o julgamento interior da consciência. Pode-se ver nisso a prova da ação do Espírito de verdade no mais íntimo do homem, e isso se torna ao mesmo tempo o início de um novo dom da graça e do amor: "Recebei o Espírito Santo". Assim, nesta ação de "lançar luz sobre o pecado" descobrimos um duplo dom: o dom da verdade da consciência e o dom da certeza da redenção. O Espírito de verdade é o Consolador[a88] .

II.      A definição do pecado

1849     O[§89]  pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a cons­ciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidarie­dade humana. Foi definido como "uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna[a90] ".

1850     O[§91]  pecado é ofensa a Deus: "Pequei contra ti, contra ti somente; pratiquei o que é mau aos teus olhos" (Sl 51,6). O pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós e desvia dele os nossos corações. Como o primeiro pecado, é uma desobediência, uma revolta contra Deus, por vontade de tornar-se "como deuses", conhecendo e determinando o bem e o mal (Gn 3,5). O pecado é, portanto, "amor de si mesmo até o desprezo de Deus[a92] ". Por essa exaltação orgulhosa de si, o pecado é diametralmente contrário à obediência de Jesus, que realiza a salvação[a93] .

1851     É [§94] justamente na paixão, em que a misericórdia de Cristo vai vencê-lo, que o pecado manifesta o grau mais alto de sua violência e de sua multiplicidade: incredulidade, ódio assassino, rejeição e zombarias da parte dos chefes e do povo, covardia de Pilatos e crueldade dos soldados, traição de Judas, tão dura para Jesus, negação de Pedro e abandono da parte dos discípulos. Mas, na própria hora das trevas e do príncipe deste mundo[a95] , o sacrifício de Cristo se toma secretamente a fonte de onde brotará inesgotavelmente o perdão de nossos pecados.

III.    A diversidade dos pecados

1852     A variedade dos pecados é grande. As Escrituras nos fornecem várias listas. A Carta aos gálatas opõe as obras da carne ao fruto do Espírito: "As obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos previno, como já vos preveni: os que tais coisas praticam não herdarão o Reino de Deus" (Gl 5,19-21[a96] )".

1853     Pode[§97] -se distinguir os pecados segundo seu objeto, como em todo ato humano, ou segundo as virtudes a que se opõem, por excesso ou por defeito, ou segundo os mandamentos que eles contrariam. Pode-se também classificá-los conforme dizem respeito a Deus, ao próximo ou a si mesmo; pode-se dividi-los em pecados espirituais e carnais, ou ainda em pecados por pensamento, palavra, ação ou omissão. A raiz do pecado está no coração do homem, em sua livre vontade, segundo o ensinamento do Senhor: "Com efeito, é do coração que procedem más inclinações, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações. São estas as coisas que tomam o homem impuro" (Mt 15,19-20). No coração reside também a caridade, princípio das obras boas e puras, que o pecado fere.

IV.    A gravidade do pecado: pecado mortal e venial

1854     Convém avaliar os pecados segundo sua gravidade. Per­ceptível já na Escritura[a98] , a distinção entre pecado mortal e pecado venial se impôs na tradição da Igreja. A experiência humana a corrobora.

1855     O [§99] pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é seu fim último e sua bem-aventurança, preferindo um bem inferior.

O pecado venial deixa subsistir a caridade, embora a ofen­da e fira.

1856     O [§100] pecado mortal, atacando em nós o princípio vital, que é a caridade, exige uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coração, que se realiza normalmen­te no sacramento da Reconciliação:

Quando a vontade se volta para uma coisa contrária â caridade pela qual estamos ordenados ao fim último, há no pecado, por seu próprio objeto, matéria para ser mortal... quer seja contra o amor a Deus, como a blasfêmia, o perjúrio etc., quer seja contra o amor ao próximo, como o homicídio, o adultério etc. Por outro lado, quando a vontade do pecador se dirige às vezes a um objeto que contém em si uma desordem, mas não é contrá­rio ao amor a Deus e ao próximo, como por exemplo palavra ociosa, riso supérfluo etc., tais pecados são veniais' [a101] 

1857     Para que um pecado, seja mortal requerem-se três condi­ções ao mesmo tempo: "E pecado mortal todo pecado que tem como objeto uma matéria grave, e que é cometido com plena consciência e deliberadamente[a102] ".

1858     A [§103] matéria grave é precisada pelos Dez mandamentos, segundo a resposta de Jesus ao jovem rico: "Não mates, não come-tas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não dó fraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe" (Mc 10,19). A gravidade dos pecados é maior ou menor: um assassinato é mais grave que um roubo. A qualidade das pessoas lesadas é levada também em consideração. A Violência exercida contra os pais é em mais grave que contra um estranho.

1859     O [§104] pecado mortal requer pleno conhecimento e pleno consentimento. Pressupõe o conhecimento do caráter pecaminoso do ato, de sua oposição à lei de Deus. Envolve também um consentimento suficientemente deliberado para ser uma escolha pessoal. A ignorância afetada e o endurecimento do coração [a105] não diminuem, antes aumentam, o caráter voluntário do pecado.

1860     A [§106] ignorância involuntária pode diminuir ou até escusar a imputabilidade de uma falta grave, mas supõe-se que ninguém ignora os princípios da lei moral inscritos na consciência de todo ser humano. Os impulsos da sensibilidade, as paixões podem igualmente reduzir o caráter voluntário e livre da falta, como também pressões exteriores e perturbações patológicas. O pecado por malícia, por opção deliberada do mal, é o mais grave.

1861     O [§107] pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça. Se este estado não for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno, já que nossa liberdade tem o poder de fazer opções para sempre, sem regresso. No entanto, mesmo podendo julgar que um ato é em si falta grave, devemos confiar o julgamento sobre as pessoas à justiça e à misericórdia de Deus.

1862     Comete-se um pecado venial quando não se observa, em matéria leve, a medida prescrita pela lei moral, ou então quando se desobedece à lei moral em matéria grave, mas sem pleno conhecimento ou sem pleno consentimento.

1863     O [§108] pecado venial enfraquece a caridade; traduz uma afei­ção desordenada pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e a prática do bem moral; merece penas temporais. O pecado venial deliberado e que fica sem arrependimento dispõe-nos pouco a pouco a cometer o pecado mortal. Mas o pecado venial não quebra a aliança com Deus. É humanamente reparável com a graça de Deus. "Não priva da graça santificante, da amizade com Deus, da caridade nem, por conseguinte, da bem-aventurança eterna[a109] ."

O homem não pode, enquanto está na carne, evitar todos os pecados, pelo menos os pecados leves. Mas esses pecados que chama­mos leves, não os consideras insignificantes: se os consideras insig­nificantes ao pesá-los, treme ao contá-los. Um grande número de objetos leves faz uma grande massa; um grande número de gotas enche um rio; um grande número de grãos faz um montão. Qual é então nossa esperança? Antes de tudo, a confissão[a110] ...

1864     "Todo [§111] pecado, toda blasfêmia será perdoada aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada" (Mt 12,31[a112] ). Pelo contrário, quem a profere é culpado de um pecado eterno. A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo[a113] . Semelhante endu­recimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna.

V. A proliferação do pecado

1865     O [§114] pecado cria uma propensão ao pecado; gera o vício pela repetição dos mesmos atos. Disso resultam inclinações perversas que obscurecem a consciência e corrompem a avaliação concreta do bem e do mal. Assim, o pecado tende a reproduzir-se e a reforçar-se, mas não consegue destruir o senso moral até a raiz.

1866     Os [§115] vícios podem ser classificados segundo as virtudes que contrariam, ou ainda ligados aos pecados capitais que a experiência cristã distinguiu seguindo S. João Cassiano [a116] e S. Gregório Magno[a117] . São chamados capitais porque geram outros pecados, outros vícios. São o orgulho, a avareza, inveja, a ira, a impureza, a gula, a preguiça ou acídia.

1867     A [§118] tradição catequética lembra também que existem “pecados que bradam ao céu". Bradam ao céu o sangue de Abel[a119] , o pecado dos sodomitas[a120] ; o clamor do povo oprimido no Egito[a121] ; a queixa do estrangeiro, da viúva e do órfão[a122] ; a injustiça contra o assalariado[a123] .

1868     O [§124] pecado é um ato pessoal. Além disso, temos responsabilidade nos pecados cometidos por outros, quando neles cooperamos:

ü      participando neles direta e voluntariamente;

ü      mandando, aconselhando, louvando ou aprovando esses pecados;

ü      não os revelando ou não os impedindo, quando a somos obrigados;

ü      protegendo os que fazem o mal.

1869     Assim[§125] , o pecado toma os homens cúmplices uns dos outros, faz reinar entre eles a concupiscência, a violência e a injustiça. Os pecados provocam situações sociais e instituições contrárias à bondade divina. As "estruturas de pecado" são a expressão e o efeito dos pecados pessoais. Induzem suas vítimas a cometer, por sua vez, o mal. Em sentido analógico, constituem um "pecado social[a126] ".

RESUMINDO

1870     "Deus encerrou todos na desobediência, para a todos fazer misericórdia" (Rm 11,32).

1871     O pecado é "uma palavra, um ato ou um desejo contrário à lei eterna[a127] ". É uma ofensa a Deus. Insurge-se contra Deus numa desobediência contrária à obediência de Cristo.

1872     O pecado é um ato contrário à razão. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana.

1873     A raiz de todos os pecados está no coração do homem. As espécies e a gravidade dos mesmos medem-se principalmente segundo seu objeto.

1874     Escolher deliberadamente, isto é, sabendo e querendo, uma coi­sa gravemente contrária à lei divina e ao fim último do homem é cometer pecado mortal. Este destrói em nós a caridade, sem a qual é impossível a bem-aventurança eterna. Caso não haja arrependimento, o pecado mortal acarreta a morte eterna.

1875     O pecado venial constitui uma desordem moral reparável pela caridade, que ele deixa subsistir em nós.

1876     A repetição dos pecados, mesmo veniais, produz os vícios, entre os quais avultam os pecados capitais.

 

 

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Folha de Apresentação

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Rev.2 de  dez/2003


 [§1] 1954

 [a2]Concílio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 16: AAS 58 (1966) 1037

 [§3] 1766,2071

 [a4]Cf Rm 2,14-16

 [a5]Cf Rm 1,32

 [§6] 1749

 [a7]John Henry Newman, Carta ao Duque de Norfolk, 5: Certain Difficulties felt by Anglicans in Catholic Teaching, v. 2 (Westminster 1969) p. 248

 [§8]1886

 [a9]Santo Agostinho, In epistulam Ioannis ad Parthos tractatus, 8, 9: PL 35, 2041

 [§10] 1806

 [§11]1731

 [§12] 2106

 [a13]Concílio Vaticano II, Declaração Dignitatis humanae, 3: AAS 58 (1966) 932

 [§14]2039

 [§15]1742

 [§16] 890

 [a17]Cf Concílio Vaticano II, Declaração Dignitatis humanae, 14: AAS 58 (1966) 940

 [§18]1955

 [§19]1806

 [§20] 1756,1970,1927,1971

 [a21] Mt 7,12;Cf Lc 6,31; Tb 4,15

 [§22] 1704

 [a23]Concílio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 16: AAS 58 (1966) 1037

 [§24]133

 [§25]1860

 [§26]1751

 [a27]Cf 1 Tm 3,9; 2 Tm 1,3; 1 Pd 3,21; At 24,16

 [a28]Concílio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 16: AAS 58 (1966) 1037

 [a29]Concílio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 16: AAS 58 (1966) 1037

 [§30] 1733,1768

 [a31]São Gregário de Nissa, De beatitudinibus, oratio 1: Gregorii Nysseni opera, ed. W. Jaeger, v. 72 (Leiden 1992) p. 82 (PG 44, 1200).

 [§32]2500,1827

 [§33]1788,1780

 [a34]São Tomás de Aquino, Summa theologiae, II-II, q. 47, a. 2, sed contra: Ed. Leon. 8, 349

 [§35] 2095,2401

 [§36] 2848,2473

 [§37] 2341,2517

 [a38]Cf Eclo 5,2; 37,27-31

 [a39]Santo Agostinho, De moribus Ecclesiae catholicae, 1, 25, 46: CSEL 90, 51 (PL 32, 1330-1331)

 [§40] 1266

 [§41] 2015

 [§42]2086-2094,2656-2658

 [§43] 1266

 [a44] Cf 2 Pd 1,4

 [§45]2008

 [a46]Cf 1 Cor 13,13

 [§47]142-175

 [§48] 806

 [a49]Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Dei Verbum, 5: AAS 58 (1966) 819

 [a50]Cf Concílio de Trento, Sessão 6a, Decretum de iustificatione, c. 15: DS 1544

 [§51] 2471

 [a52]Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium, 42: AAS 57 (1965) 48; cf. Id., Declaração Dignitatis humanae, 14: AAS 58 (1966) 940.

 [§53] 1024

 [§54] 27

 [§55] 146

 [a56]Cf Gn 17,4-8; 22,1-18

 [§57] 1716,2772

 [§58] 2016,1037

 [a59]Cf Rm 8,28-30

 [a60]Cf Mt 7,21

 [a61]Cf Mt 10,22; Concílio de Trento, Sessão 6a, Decretum de iustificatione, c. 13: DS 1541

 [a62]Santa Teresa de Jesus, Exclamaciones do alma a Dios, 15, 3: Biblioteca Mística Carmelitana, v. 4 (Burgos 1917) p. 290

 [§63] 1723

 [§64] 1970

 [a65]Cf Jo 13,34

 [§66] 735

 [a67]Cf Mt 22,40; Rm 13,8-10

 [§68] 604

 [a69]Cf Mt 5,44

 [a70]Cf Lc 10,27-37

 [a71]Cf Mt 25,40.45

 [a72] Cf Mc 9,37

 [a73]Cf 1 Cor 13,1-3

 [§74] 815,826

 [§75] 1972

 [a76]São Basílio Magno, Regulae fusius tractatae, prol. 3: PG 31, 896

 [§77] 2540

 [a78]Santo Agostinho, In epistulam Ioannis ad Parthos tractatus, 10, 4: PL 35, 2056-2057.

 [§79] 1299,1266

 [a80]Cf Is 11,1-2

 [§81] 736

 [a82]Cf 1 Cor 13,13

 [§83] 430,1365

 [a84]Cf Lc 15

 [§85] 387,1455

 [a86]Santo Agostinho, Sermão 169, 11, 13: PL 38, 923

 [§87] 385,1433

 [a88]João Paulo II, Carta encíclica Dominum et vivificantem, 31: AAS 78 (1986) 843

 [§89] 311,1952

 [a90]Santo Agostinho, Contra Faustum manichaeum, 22, 27: CSEL 25, 621 (PL 42, 418); cf. São Tomás de Aquino, Summa theologiae, I-II, q. 71, a. 6: Ed. Leon. 7, 8-9

 [§91] 1440,397,615

 [a92]Santo Agostinho, De civitate Dei, 14, 28: CSEL 402, 56 (PL 41, 436).

 [a93]Cf Fl 2,6-9

 [§94] 598,2746,616

 [a95]Cf Jo 14,30

 [a96]Cf Rm 1,28-32; 1 Cor 6,9-10; Ef 5,3-5; Cl 3,5-9; 1 Tm 1,9-10; 2 Tm 3,2-5

 [§97] 1751,2067,368

 [a98]Cf 1 Jo 5,16-17

 [§99] 1395

 [§100] 1446

 [a101]São Tomás de Aquino, Summa theologiae, I-II, q. 88, a. 2, c: Ed. Leon. 7, 135.

 [a102]João Paulo II, Exortação apostólica Reconciliatio et paenitentia, 17: AAS 77 (1985) 221

 [§103]2072,2214

 [§104] 1734

 [a105]Cf Mc 3,5-6; Lc 16,19-31

 [§106]1735,1767

 [§107] 1742,1033

 [§108]1394,1472

 [a109]João Paulo II, Exortação apostólica Reconciliatio et paenitentia, 17: AAS 77 (1985) 221.

 [a110]Santo Agostinho, In epistulam Iohannis ad Parthos tractatus, 1, 6: PL 35, 1982

 [§111]2091,1037

 [a112]Cf Mc 3,29; Lc 12,10

 [a113]Cf João Paulo II, Carta encíclica Dominum et vivificantem, 46: AAS 78 (1986) 864-865

 [§114]401,1768

 [§115]2539

 [a116]Cf São João Cassiano, Conlatio, 5, 2: CSEL 13, 121 (PL 49, 611)

 [a117]Cf São Gregório Magno, Moralia in Iob, 31, 45, 87: CCL 143B, 1610 (PL 76, 621)

 [§118]2268

 [a119]Cf Gn 4,10

 [a120]Cf Gn 18,20; 19,13

 [a121]Cf Ex 3,7-10

 [a122]Cf Ex 22,20-22

 [a123]Cf Dt 24,14-15; Tg 5,4

 [§124] 1736

 [§125] 408,1887

 [a126]Cf João Paulo II, Exortação apostólica Reconciliatio et paenitentia, 16: AAS 77 (1985) 216.

 [a127]Santo Agostinho, Contra Faustum manichaeum, 22, 27: CSEL 25, 621 (PL 42, 418).