Catecismo da Igreja Católica

QUARTA PARTE - A ORAÇÃO CRISTÃ

CAPÍTULO II

A TRADIÇÃO DA ORAÇÃO

2650     A [§1] oração não se reduz ao surgir espontâneo de um impulso interior; para rezar é preciso querer. Não basta saber o que as Escrituras revelam sobre a oração; também é indispensável aprender a rezar. E é por uma transmissão viva (a sagrada Tradição) que o Espírito Santo, na "Igreja crente e orante[a2] ", ensina os filhos de Deus a rezar.

2651     A [§3] tradição da oração cristã é uma das formas de crescimento da Tradição da fé, sobretudo pela contemplação e pelo estudo dos difíceis, que guardam em seu coração os acontecimentos e as palavras da Economia da salvação, e pela penetração profunda das realidades espirituais que eles experimentam[a4] .

ARTIGO 1

NAS FONTES DA ORAÇÃO

2652     O[§5]  Espírito Santo é "a água viva" que, no coração orante, “jorra para a Vida eterna[a6] ". É Ele que nos ensina a haurir essa água na própria fonte: Cristo. Ora, existem na vida cristã fontes em que Cristo nos espera para nos dessedentar com o Espírito Santo.

A Palavra de Deus

2653     A [§7] Igreja "exorta todos os fiéis cristãos, com veemência e de modo peculiar... a que pela freqüente leitura das divinas Escrituras aprendam 'a eminente ciência de Jesus Cristo' Lembrem-se, porém, de que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração, a fim de que se estabeleça o colóquio entre Deus e o homem; pois 'a Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos[a8] ”.

2654     Os Padres espirituais, parafraseando Mt 7,7, resumem assim as disposições do coração alimentado pela Palavra de Deus na oração: "Procurai pela leitura, e encontrareis medi­tando; batei orando, e vos será aberto pela contemplação[a9] "

A Liturgia da Igreja

2655     A [§10] missão de Cristo e do Espírito Santo, que, na liturgia sacramental da Igreja, anuncia, atualiza e comunica o Mistério da salvação, prolonga-se no coração de quem reza. Os Padres espi­rituais comparam às vezes o coração a um altar. A oração interioriza e assimila a Liturgia durante e após sua celebração. Mesmo quando é vivida "no segredo" (Mt 6,6), a oração é sem­pre oração da Igreja, comunhão com a Santíssima Trindade[a11] .

As [§12] virtudes teologais

2656     Entramos na oração como entramos na Liturgia: pela porta estreita da fé. Por meio dos sinais de sua Presença, procuramos e desejamos a Face do Senhor, e é sua Palavra que que­remos ouvir e guardar.

2657     O Espírito Santo, que nos ensina a celebrar a Liturgia na expectativa da volta de Cristo, nos educa a orar na esperança. Por sua vez, a oração da Igreja e a oração pessoal alimentam em nós a esperança. Especialmente os salmos, com sua linguagem concreta e variada, nos ensinam a fixar nossa esperança em Deus: "Esperei ansiosamente pelo Senhor, Ele se inclinou para mim e ouviu o meu grito" (Sl ,2). "Que o Deus da esperança vos cumule de toda alegria e paz em vossa fé, a fim de que pela ação do Espírito Santo a vossa esperança transborde" (Rm 15,13).

2658     "A [§13] esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado" (Rm 5,5). A oração, formada pela vida litúrgica, tudo haure do Amor com que somos amados em Cristo e que nos concede responder-lhe, amando como Ele nos amou. O Amor é a fonte de oração; quem dela bebe atinge o cume da oração:

Meu Deus, eu vos amo, e meu único desejo é amar-vos até o último suspiro de minha vida. Meu Deus infinitamente amável, eu vos amo e preferiria morrer amando-vos a viver sem vos amar. Senhor, eu vos amo, e a única graça que vos peço é amar­-vos eternamente... Meu Deus, se minha língua não pode dizer a cada instante que eu vos amo, quero que meu coração vo-lo repita tantas vezes quantas eu respiro[a14] .

"Hoje"

2659     Aprendemos [§15] a rezar em certos momentos ouvindo a Pa­lavra do Senhor e participando de seu Mistério pascal, mas é em todos os tempos, nos acontecimentos de cada dia, que seu Espírito nos é oferecido para fazer jorrar a oração. O ensinamento de Jesus sobre a oração a nosso Pai está na mesma linha que o ensinamento sobre a Providência[a16] . O tempo está nas mãos do Pai; no presente é que nós o encontramos, nem ontem, nem amanhã, mas hoje: "Oxalá ouvísseis hoje a sua voz! Não endureçais vossos corações" (Sl 95,8).

2660     Orar [§17] nos acontecimentos de cada dia e de cada instante é um dos segredos do Reino revelados aos "pequeninos", aos servos de Cristo, aos pobres das bem-aventuranças. E justo e bom orar para que a vinda do Reino de justiça e de paz influa na marcha da história, mas é também importante modelar pela oração a massa das humildes situações do cotidiano. Todas as formas de oração podem ser esse fermento ao qual o Senhor compara o Reino[a18] .

RESUMINDO

2661     É por uma transmissão viva, a Tradição, que, na Igreja, o Espírito Santo ensina os filhos de Deus a orar.

2662     A Palavra de Deus, a liturgia da Igreja, as virtudes da fé, esperança e caridade são fontes da oração.

ARTIGO 2

O CAMINHO DA ORAÇÃO

2663     Na [§19] tradição viva da oração, cada Igreja propõe aos fiéis, segundo o contexto histórico, social e cultural, a linguagem de Jesus na sua oração: palavras, melodias, gestos, iconografia. Cabe ao Magistério [a20] discernir a fidelidade desses caminhos de oração à tradição da fé apostólica, e compete aos pastores e aos catequistas explicar seu sentido, sempre relacionado com Jesus Cristo.

A oração ao Pai

2664     Não [§21]  existe outro caminho da oração cristã senão Cristo. Seja a nossa oração comunitária ou pessoal, vocal ou interior, ela só tem acesso ao Pai se orarmos "em nome" de Jesus. A santa humanidade de Jesus é, portanto, o caminho pelo qual o Espírito Santo nos ensina a orar a Deus, nosso Pai.

A oração a Jesus

2665     A [§22] oração da Igreja, alimentada pela Palavra de Deus, e a celebração da Liturgia nos ensinam a orar ao Senhor Jesus. Ainda que seja dirigida sobretudo ao Pai, ela inclui, em todas as tradições litúrgicas, formas de oração dirigidas a Cristo. Certos Salmos, conforme sua atualização na Oração da Igreja, e o Novo Testamento põem em nossos lábios e gravam em nossos corações as invocações desta oração a Cristo: Filho de Deus, Verbo de Deus, Senhor, Salvador, Cordeiro de Deus, Rei, Filho bem-amado, Filho da Virgem, Bom Pastor, nossa Vida, nossa Luz, nossa Esperança, nossa Ressurreição, Amigo dos homens...

2666     Mas [§23] o Nome que contém tudo é o que o Filho de Deus recebe em sua Encarnação: JESUS. O Nome divino é indizível pelos lábios humanos [a24] , mas, assumindo nossa humanidade, o Verbo de Deus no-lo entrega e podemos invocá-lo: “Jesus", Javé salva'[a25] . O Nome de Jesus contém tudo: Deus e homem e toda a economia da criação e da salvação. Orar a "Jesus" e invocá-lo, chamá-lo em nós. Seu Nome é o único que contém a Presença que significa. Jesus é Ressuscitado, todo aquele que invoca seu nome acolhe o Filho de Deus que o amou e por ele se entregou[a26] .

2667      Esta [§27] invocação de fé muito simples foi desenvolvida na tradição da oração em várias formas no Oriente e no Ocidente. A formulação mais comum, transmitida pelos monges do Sinai, da Síria e do monte Athos é a invocação: "Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de nós, pecadores!" Esta associa o hino cristológico de (Fl 2,6-11 com o pedido do publicano e dos mendigos da luz[a28] . Por ela, o coração se põe em consonância com a miséria dos homens e com a Misericórdia de seu Salvador.

2668       A [§29] invocação do santo nome de Jesus é o caminho mais simples oração contínua. Muitas vezes repetida por um coração humilde­mente atento, ela não se dispersa numa torrente de palavras (Mc 6,7), mas "conserva a Palavra e produz fruto pela perseverança[a30] .

É possível "em todo tempo", pois não é uma ocupação ao lado de outra, mas a única ocupação, a de amar a Deus, que anima e transfigura toda ação em Cristo Jesus.

2669   A [§31] oração da Igreja venera e honra o Coração de Jesus, como invoca o seu Santíssimo nome. Adora o Verbo encamado e seu Coração, que por nosso amor se deixou traspassar por nossos pecados. A oração cristã gosta de seguir o caminho da cruz (Via-Sacra), seguindo o Salvador. As estações, do Pretório ao Gólgota e ao Túmulo, marcam o caminho de Jesus, que resga­tou o mundo por sua santa Cruz.

"Vinde, Espírito Santo"

2670     "Ninguém [§32] pode dizer 'Jesus é Senhor' a não ser no Es­pírito Santo" (1 Cor 12,3). Cada vez que começamos a orar a Jesus, é o Espírito Santo que, por sua graça proveniente, nos atrai ao caminho da oração. Se Ele nos ensina a orar recordan­do-nos Cristo, como não orar a Ele mesmo? Por isso, a Igreja nos convida a implorar cada dia o Espírito Santo, sobretudo no início e no fim de toda ação importante.

Se o Espírito não deve ser adorado, como é que Ele me diviniza pelo Batismo? E se Ele deve ser adorado, não deve ser o objeto de um culto particular[a33] ?

2671     A forma tradicional para pedir a vinda do Espírito Santo é invocar o Pai por Cristo, nosso Senhor, para que nos dê o Espíri­to Consolador[a34] . Jesus insiste nesse pedido em seu nome exata­mente no momento em que promete o dom do Espírito de Verdade[a35] . Mas a oração mais simples e mais direta é também tradi­cional: "Vinde, Espírito Santo", e cada tradição litúrgica a de­senvolveu em antífonas e hinos:

Vinde, Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo de vosso amor[a36] .

Rei celeste, Espírito Consolador, Espírito de Verdade, presente em toda parte e plenificando tudo, tesouro de todo bem e fonte da Vida, vinde, habitai em nós, purificai-nos e salvai-nos, ó Vós, que sois bom[a37] !

2672     O [§38] Espírito Santo, cuja Unção impregna todo o nosso ser, é o Mestre interior da oração cristã. E o artífice da tradição viva da oração. Sem dúvida, existem tantos caminhos na oração quantos orantes, mas é o mesmo Espírito que atua em todos e com todos. Na comunhão do Espírito Santo, a oração cristã se torna oração da Igreja.

Em comunhão com a Santa Mãe de Deus

2673     Na [§39] oração, o Espírito Santo nos une à Pessoa do Filho Único, em sua humanidade glorificada. Por ela e nela, nossa oração filial entra em comunhão, na Igreja, com a Mãe de Jesus[a40] .

2674     A [§41] partir do consentimento dado na fé por ocasião da Anunciação e mantido sem hesitação sob a cruz, a maternidade de Maria se estende aos irmãos e às irmãs de seu Filho "que ainda são peregrinos e expostos aos perigos e às misérias[a42] ”. Jesus, o único Mediador, é o Caminho de nossa oração; Maria, sua Mãe e nossa Mãe, é pura transparência dele. Maria "mostra o Caminho" ("Hodoghitria"), é seu "sinal” conforme a iconografia tradicional no Oriente e no Ocidente.

2675     A [§43] partir dessa cooperação singular de Maria com a ação do Espírito Santo, as Igrejas desenvolveram a oração à santa Mãe de Deus, centrando-a na Pessoa de Cristo manifestada em seus mistérios. Nos inúmeros hinos e antífonas que exprimem essa oração, alternam-se geralmente dois movimentos: um "exalta" o Senhor pelas "grandes coisas" que fez para sua humilde serva e, por meio dela, por todos os seres humanos[a44] ; o outro confia à Mãe de Jesus as súplicas e louvores dos filhos de Deus, pois ela conhece agora humanidade que nela é desposada pelo Filho de Deus.

2676     Esse duplo movimento da oração a Maria encontrou uma expressão privilegiada na oração da Ave-Maria:

"Ave[§45] , Maria (alegra-te, Maria)." A saudação do anjo Gabriel abre a oração da Ave-Maria. E o próprio Deus que, por intermédio de seu anjo, saúda Maria. Nossa oração ousa retomar a saudação de Maria com o olhar que Deus lançou sobre sua humilde serva[a46] , alegrando-nos com a mesma alegria que Deus encontra nela[a47] .

"Cheia de graça, o Senhor é convosco." As duas palavras de saudação do anjo se esclarecem mutuamente. Maria é cheia de graça porque o Senhor está com ela. A graça com que ela é cumulada é a presença daquele que é a fonte de toda graça. "Alegra-te, filha de Jerusalém... o Senhor está no meio de ti" (Sf 3,14.17a). Maria, em quem vem habitar o próprio Senhor, é em pessoa a filha de Sião, a Arca da Aliança, o lugar onde reside a glória do Senhor: ela é "a morada de Deus entre os homens" (Ap 21,3). "Cheia de graça", e toda dedicada àquele que nela vem habitar e que ela vai dar ao mundo.

"Bendita [§48] sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus." Depois da saudação do anjo, tornamos nossa a palavra de Isabel. "Repleta do Espírito Santo" (Lc 1,41), Isabel é a primeira na longa série das gerações que declaram Maria bem-aventurada[a49] : "Feliz [§50] aquela que creu..." (Lc 1,45): Maria é "bendita entre as mulheres" por­que acreditou na realização da palavra do Senhor. Abraão, por sua fé, se tomou uma bênção para "todas as nações da terra" (Gn 12,3). Por sua fé, Maria se tomou a mãe dos que crêem, porque, graças a ela, todas as nações da terra recebem Aquele que é a própria bênção de Deus: "Ben­dito é o fruto do vosso ventre, Jesus".

2677     "Santa [§51] Maria, Mãe de Deus, rogai por nós..." Com Isabel também nós nos admiramos: "Donde me vem que a mãe de meu Senhor me visite?" (Lc 1,43). Porque nos dá Jesus, seu filho, Maria é Mãe de Deus e nossa Mãe; podemos lhe confiar todos os nossos cuidados e pedidos: ela reza por nós como rezou por si mesma: "Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Confiando-nos à sua oração, abandonamo-nos com ela à vontade de Deus: "Seja feita a vossa vontade".

"Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte." Pedindo a Maria que reze por nós, reconhecemo-nos como pobres pecadores e nos dirigimos à "Mãe de misericórdia", à Toda Santa. Entregamo-nos a ela "agora", no hoje de nossas vidas. E nossa con­fiança aumenta para desde já entregar em suas mãos "a hora de nossa morte". Que ela esteja então presente, como na morte na Cruz de seu Filho, e que na hora de nossa passagem ela nos acolha como nossa Mãe[a52] , para nos conduzir a seu Filho, Jesus, no Paraíso.

2678     A [§53] piedade medieval do Ocidente desenvolveu a oração do Ro­sário como alternativa popular à Oração das Horas. No Oriente, a forma litânica da oração "Acatisto" e da Paráclise ficou mais pró­xima do ofício coral nas Igrejas bizantinas, ao passo que as tradições armênia, copta e siríaca preferiram os hinos e os cânticos populares à Mãe de Deus. Mas na Ave-Maria, nos "theotokia", nos hinos de Sto. Efrém ou de S. Gregório de Narek, a tradição da oração é fundamen­talmente a mesma.

2679     Maria [§54] é a Orante perfeita, figura da Igreja. Quando reza­mos a ela, aderimos com ela ao plano do Pai, que envia seu Filho para salvar todos os homens. Como o discípulo bem-amado, acolhemos em nossa casa [a55] a Mãe de Jesus, que se tornou a mãe de todos os vivos. Podemos rezar com ela e a ela. A oração da Igreja é acompanhada pela oração de Maria, que lhe está unida na esperança[a56] .

RESUMINDO

2680     A oração é dirigida sobretudo ao Pai; também é dirigida ~ Jesus, sobretudo pela invocação de seu santo nome: "Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tende piedade de nós, pecadores!"

2681     "Ninguém pode dizer: 'Jesus é Senhor', a não ser no Espírito Santo" (1 Cor 12,3). A Igreja nos convida a invocar o Espírito Santo como o Mestre interior da oração cristã.

2682     Em virtude da cooperação singular da Virgem Maria com a ação do Espírito Santo, a Igreja gosta de rezar em comunhão com ela, para exaltar com ela as grandes coisas que Deus realizou nela e para confiar-lhe súplicas e louvores.

ARTIGO 3

GUIAS PARA A ORAÇÃO

Uma nuvem de testemunhas

2683     As [§57] testemunhas que nos precederam no Reino[a58] , especialmente as que a Igreja reconhece como "santos", participam da tradição viva da oração pelo exemplo modelar de sua vida, pela transmissão de seus escritos e por sua oração hoje. Contemplam a Deus, louvam-no e não deixam de velar por aqueles que dei­xaram na terra. Entrando "na alegria" do Mestre, eles foram "postos sobre o muito[a59] ". Sua intercessão é o mais alto serviço que prestam ao plano de Deus. Podemos e devemos pedir-lhes que intercedam por nós e pelo mundo inteiro.

2684     Na [§60] comunhão dos santos, desenvolveram-se, ao longo da história das Igrejas, diversas espiritualidades. O carisma pes­soal de uma testemunha do Amor de Deus aos homens pôde ser transmitido, como "o espírito" de Elias a Eliseu[a61]  e a João Batista[a62] , para que alguns discípulos tenham parte nesse espi­rito[a63] . Há uma espiritualidade igualmente na confluência de outras correntes, litúrgicas e teológicas, atestando a inculturação da fé num meio humano e em sua história. As espiritualidades cristãs participam da tradição viva da oração e são guias indis­pensáveis para os fiéis, refletindo, em sua rica diversidade, a pura e única Luz do Espírito Santo.

O   Espírito é de fato o lugar dos santos, e o santo é para o Espírito um lugar próprio, pois se oferece para habitar com Deus e é chamado seu templo[a64] .

Servidores da oração

2685     A [§65] família cristã é o primeiro lugar da educação para a oração. Fundada sobre o sacramento do matrimônio, ela é "a Igreja doméstica", onde os filhos de Deus aprendem a orar "como Igre­ja" e a perseverar na oração. Para as crianças, particularmente, a oração familiar cotidiana é o primeiro testemunho da memória viva da Igreja reavivada pacientemente pelo Espírito Santo.

2686     Os [§66] ministros ordenados também são responsáveis pela for­mação para a oração de seus irmãos e irmãs em Cristo. Servido­­res do bom Pastor que são, eles são ordenados para guiar o povo de Deus às fontes vivas da oração: a Palavra de Deus, a Liturgia, a vida teologal, o Hoje de Deus nas situações concretas[a67] .

2687     Muitos [§68] religiosos consagraram toda a vida à oração. Desde o deserto do Egito, eremitas, monges e monjas consagraram seu tempo ao louvor de Deus e à intercessão por seu povo. A vida consagrada não se mantém e não se propaga sem a oração; esta é uma das fontes vivas da contemplação e da vida espiritual na Igreja.

2688     A [§69] catequese das crianças, dos jovens e adultos procura fazer com que a Palavra de Deus seja meditada na oração pessoal, atualizada na oração litúrgica e interiorizada em todo tempo, a fim de produzir seu fruto numa vida nova. A catequese é também o momento em que a piedade popular pode ser avaliada e educada[a70] . A memorização das orações funda­mentais oferece um apoio indispensável à vida de oração, mas importa grandemente fazer com que saboreie o sentido das mesmas[a71] .

2689     Os grupos de oração, e mesmo as "escolas de oração", são hoje um dos sinais e molas da renovação da oração na Igreja, contanto que se beba nas fontes autênticas da oração cristã. O cuidado com a comunhão é sinal da verdadeira oração na Igreja.

2690     O Espírito Santo dá a certos fiéis dons de sabedoria, de fé e de discernimento em vista do bem comum que é a oração (direção espiritual). Aqueles e aquelas que têm esses dons são verdadeiros servidores da tradição viva da oração:

Por isso, se a alma deseja avançar na perfeição, conforme o conselho de S. João da Cruz, deve "considerar bem em que mãos se entrega, pois, conforme o mestre, assim será o discípulo; conforme o pai, assim será o filho". E ainda: "O diretor deve não somente ser sábio e prudente, mas também experimentado... Se o guia espiritual não tem a experiência da vida espiritual, é incapaz de nela conduzir as almas que Deus chama, e nem sequer as compreenderá[a72] ".

Lugares favoráveis à oração

2691     A [§73] Igreja, casa de Deus, é o lugar próprio para a oração litúrgica da comunidade paroquial. E também o lugar privile­giado da adoração da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento. A escolha de um lugar favorável é importante para a verdade da oração:

ü      para a oração pessoal, pode ser um "recanto de ora­ção", com as Sagradas Escrituras e imagens sagradas, para aí estar "no segredo" diante do Pai[a74] . Numa fa­mília cristã, essa espécie de peque no oratório favorece a oração em comum;

ü      nas regiões onde existem mosteiros, a vocação dessas comunidades é favorecer a partilha da Oração das Horas com os fiéis e permitir a solidão necessária a uma oração pessoal mais intensa[a75] ;

ü      as peregrinações evocam nossa caminhada pela terra em direção ao céu. São tradicionalmente tempos fortes de renovação da oração. Os santuários são para os peregri­nos, em busca de suas fontes vivas, lugares excepcionais para viver "como Igreja" as formas da oração cristã.

RESUMINDO

2692     Na oração, a Igreja peregrina é associada à dos santos, cuja intercessão solicita.

2693     As diferentes espiritualidades cristãs participam da tradição viva da oração e são guias preciosos para a vida espiritual.

2694     A família cristã é o primeiro lugar da educação à oração.

2695     Os ministros ordenados, a vida consagrada, a catequese, os grupos de oração e a "direção espiritual" garantem na Igreja uma ajuda à oração.

2696     Os lugares mais favoráveis à oração são o oratório pessoal ou familiar, os mosteiros, os santuários de peregrinações e, sobretudo, a igreja, que é lugar próprio da oração litúrgica para a comunidade paroquial e o lugar privilegiado da ado­ração eucarística.

CAPÍTULO III.

A VIDA DE ORAÇÃO

2697     A [§76] oração é a vida do coração novo e deve nos animar a cada momento. Nós, porém, esquecemo-nos daquele que é nossa Vida e nosso Tudo. Por isso os Padres espirituais, na tradição do Deuteronômio e dos profetas, insistem na oração como "recor­dação de Deus", como um despertar freqüente da "memória do coração": "E preciso se lembrar de Deus com mais freqüência do que se respira[a77] ". Mas não se pode orar "sempre", se não se reza em certos momentos, por decisão própria: são os tempos fortes da oração cristã, em intensidade e duração.

2698     A [§78] Tradição da Igreja propõe aos fiéis ritmos de oração desti­nados a nutrir a oração continua. Alguns são cotidianos: a ora­ção da manhã e da tarde, antes e depois das refeições, a Liturgia das Horas. O domingo, centrado na Eucaristia, é santificado prin­cipalmente pela oração. O ciclo do ano litúrgico e suas grandes festas são os ritmos fundamentais da vida de oração dos cristãos.

2699     O [§79] Senhor conduz cada pessoa pelos caminhos e na ma­neira que lhe agradam. Cada fiel responde ao Senhor segundo a deter­minação de seu coração e as expressões pessoais de sua oração. Entretanto, a tradição cristã conservou três expressões principais da vida de oração: a oração vocal, a meditação, a oração contemplativa. Uma característica fundamental lhes é comum: o recolhimento do coração. Esta vigilância em guar­dar a Palavra e em permanecer na presença de Deus faz dessas três expressões tempos fortes da vida de oração.

ARTIGO 1

AS EXPRESSÕES DA ORAÇÃO

I. A oração vocal

2700     Deus [§80] fala ao homem por sua Palavra. É por palavras, mentais ou vocais, que nossa oração cresce. Mas o mais im­portante é a presença do coração naquele a quem falamos na oração. "Que a nossa oração seja ouvida depende não da quantidade das palavras, mas do fervor de nossas almas[a81] ."

2701     A [§82] oração vocal é um dado indispensável da vida cristã. Aos discípulos, atraídos pela oração silenciosa do Mestre, este ensina uma oração vocal: o "Pai-Nosso". Jesus não só rezou as orações litúrgicas da sinagoga; os Evangelhos O mostram elevando a voz para exprimir sua oração pessoal, da bênção exultante do Pai [a83] até a angústia do Getsêmani[a84] .

2702     Essa [§85] necessidade de associar os sentidos à oração interior responde a uma exigência de nossa natureza humana. Somos corpo e espírito, e sentimos a necessidade de traduzir exterior­mente nossos sentimentos. É preciso rezar com todo o nosso ser para dar à nossa súplica todo o poder possível.

2703     Essa [§86] necessidade corresponde também a uma exigência divina. Deus procura adoradores em Espírito e Verdade e, por conseguinte, a oração que sobe viva das profundezas da alma. Ele também quer a expressão exterior que associa o corpo à oração interior, pois ela Lhe traz esta homenagem perfeita de tudo aquilo a que Ele tem direito.

2704     Sendo exterior e tão plenamente humana, a oração vocal é por excelência a oração das multidões. Mas também a ora­ção mais interior não pode menosprezar a oração vocal. A oração se torna interior na medida em que tomamos consciên­cia daquele "com quem falamos[a87] ". Então a oração vocal é uma primeira forma da oração contemplativa.

II.      A meditação

2705     A [§88] meditação é sobretudo uma procura. O espírito procura com­pre­ender o porquê e o como da vida cristã, a fim de aderir e respon­der ao que o Senhor pede. Para tanto, é indispensável uma atenção difícil de ser disciplinada. Geralmente, utiliza-se um livro, e os cristãos dispõem de muitos: as Sagradas Escrituras, especialmente o Evangelho, as imagens sacras, os textos litúrgicos do dia ou do tempo, os escritos dos Padres espirituais, as obras de espiritualidade, o grande livro da criação e o da história, a página do "Hoje" de Deus.

2706     Meditando no que lê, o leitor se apropria do conteúdo lido, confrontando-o consigo mesmo. Neste particular, outro livro está aberto: o da vida. Passamos dos pensamentos à realidade. Con­­du­zidos pela humildade e pela fé, descobrimos os movimentos que agitam o coração e podemos discerni-los. Trata-se de fazer a verdade para se chegar à luz: "Senhor, que queres que eu faça?"

2707     Os [§89] métodos de meditação são tão diversos quanto os mes­tres espirituais. Um cristão deve querer meditar regularmente. Caso contrario, assemelha-se aos três primeiros terrenos da parábola do semeador[a90] . Mas um método é apenas um guia; o importante é avançar, com o Espírito Santo, pelo único caminho da oração: Jesus Cristo.

2708     A [§91] meditação mobiliza o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Essa mobilização é necessária para aprofundar as convicções de fé, suscitar a conversão do coração e fortificar a vontade de seguir a Cristo. A oração cristã procura meditar de preferência "os mistérios de Cristo", como na "lectio (leitura) divina" ou no Rosário. Esta forma de reflexão orante é de grande valor, mas a oração cristã deve procurar ir mais longe: ao conhe­cimento de amor do Senhor Jesus, à união com Ele.

III.    A oração mental

2709     O [§92] que é a oração mental? Sta. Teresa responde: "A ora­ção mental, a meu ver, é apenas um relacionamento íntimo de amizade em que conversamos muitas vezes a sós com esse Deus por quem nos sabemos amados[a93] ".

A oração mental busca "aquele que meu coração ama[a94] ". É Jesus e, nele, o Pai. Ele é procurado porque desejá-lo é sempre o começo do amor, e é procurado na fé pura, esta fé que nos faz nascer dele e viver nele. Na oração, podemos ainda meditar; contudo, o olhar se fixa no Senhor.

2710     A [§95] escolha do tempo e da duração da oração mental depende de uma vontade determinada, reveladora dos segredos do coração. Não fazemos oração quando temos tempo: reservamos um tempo para sermos do Senhor, com a firme determinação de, durante o caminho, não o tomarmos de volta enquanto caminhamos, quais­quer que sejam as provações e a aridez do encontro. Nem sempre se pode meditar, mas sempre se pode estar em oração, independen­temente das condições de saúde, trabalho ou afetividade. O cora­ção é o lugar da busca e do encontro, na pobreza e na fé.

2711     Entrar [§96] em oração é algo análogo ao que ocorre na Liturgia Eucarística: reunir" o coração, recolher todo o nosso ser sob a moção do Espírito Santo, habitar na morada do Senhor (e esta morada somos nós), despertar a fé, para entrar na Pre­sença daquele que nos espera, fazer cair nossas máscaras e voltar nosso coração para o Senhor que nos ama, a fim de nos 0 entregar a Ele como uma oferenda que precisa ser purificada e transformada.

2712     A [§97] oração é a prece do filho de Deus, do pecador perdoado que  consente em acolher o amor com que é amado e que quer respon­der-lhe amando mais ainda[a98] . Esse pecador perdoado sabe, porém, que o amor com que responde é precisamente o que o Espírito derrama em seu coração, pois tudo é graça da parte de Deus. A oração é a entrega humilde e pobre à vontade amorosa do Pai, em união cada vez mais profunda com seu Filho bem-amado.

2713     Dessa [§99] forma, a oração mental é a expressão mais simples do mistério da prece. A oração é um dom, uma graça; não pode ser acolhida senão na humildade e na pobreza. A oração é uma relação de aliança estabelecida por Deus no fundo de nosso ser[a100] . A oração é comunhão: a Santíssima Trindade, nesta relação, conforma o homem, imagem de Deus, "a sua semelhança".

2714     A oração mental é também um tempo forte por excelência da prece. Na oração, o Pai nos "arma de poder por seu Espírito, para que se fortifique em nós o homem interior, para que Cristo habite em nossos corações pela fé e sejamos arraigados e fundados no amor".[a101] 

2715     A [§102] contemplação é olhar de fé fito em Jesus. "Eu olho para Ele e Ele olha para mim", dizia, no tempo de seu santo pároco, o camponês de Ars em oração diante do Tabernáculo[a103] . Essa atenção a Ele é renúncia ao "eu". Seu olhar purifica o coração; A luz do olhar de Jesus ilumina os olhos de nosso coração; ensina-nos a ver tudo na luz de sua verdade e de sua compaixão por todos os homens. A contemplação considera também os mistérios da vida de Cristo, proporcionando-nos "o conhecimento íntimo do Senhor", para mais O amar e seguir[a104] .

2716     A [§105] oração mental é escuta da Palavra de Deus. Longe de ser passiva, essa escuta é a obediência da fé, acolhida incondi­cional do servo e adesão amorosa do filho. Participa do "sim" do Filho que se tornou Servo e do "Fiat" de sua humilde serva.

2717     A [§106] oração mental é silêncio, este "símbolo do mundo que vem [a107] ou "amor silencioso[a108] . As palavras na oração não são discursos, mas gravetos que alimentam o fogo do amor. É neste silêncio, insuportável ao homem "exterior", que o Pai nos diz seu Verbo encarnado, sofredor, morto e ressuscitado e que o Espírito filial nos faz participar na oração de Jesus.

2718     A oração mental é união â prece de Cristo na medida em nos faz participar de seu Mistério. O Mistério de Cristo é celebrado pela Igreja na Eucaristia, e o Espírito o faz viver na oração para que esse Mistério seja manifestado pela caridade em ato.

2719     A [§109] oração mental é uma comunhão de amor portadora de Vida para a multidão, na medida em que ela é consentimento a habitar na noite da fé. A Noite pascal da Ressurreição passa pela da agonia e do túmulo. São esses três tempos fortes da Hora de Jesus que, seu Espírito (e não a "carne, que é fraca") faz viver na oração. E preciso consentir em "vigiar uma hora com ele[a110] ".

RESUMINDO

2720     A Igreja convida os fiéis a uma oração regular: orações diá­rias, Liturgia das Horas, Eucaristia dominical, festas do ano litúrgico.

2721     A tradição cristã compreende três expressões maiores da vida de oração: a oração vocal, a meditação e a oração mental. Estas têm em comum o recolhimento do coração.

2722     A oração vocal, fundada na união do corpo e do espírito na natureza humana, associa o corpo á oração interior do cora­ção, a exemplo de Cristo, que reza a seu Pai e ensina o "Pai-Nosso" a seus discípulos.

2723     A meditação é uma busca orante que põe em ação o pensa­mento, a imaginação, a emoção, o desejo. Tem por finalidade a apropriação crente do assunto meditado, confrontado com a realidade de nossa vida.

2724     A oração mental é a expressão simples do mistério da oração. E um olhar de fé fito em Jesus, uma escuta da Palavra de Deus, um silencioso amor. Realiza a união à oração de Cristo na medida em que nos faz participar de seu Mistério.

 

ARTIGO 2

O COMBATE DA ORAÇÃO

2725     A [§111] oração é um dom da graça e uma resposta decidida de nossa parte. Supõe sempre um esforço. Os grandes orantes da Antiga Aliança antes de Cristo, como também a Mãe de Deus e os santos com Ele, nos ensinam: a oração é um combate. Contra quem? Con­tra nós mesmos e contra os embustes do Tentador, que tudo faz para desviar o homem da oração, da união com seu Deus. Reza-se como se vive, porque se vive como se reza. Se não quisermos habitualmente agir segundo o Espírito de Cristo, também não poderemos habitualmente rezar em seu Nome. O "combate espiritual" da vida nova do cristão é inseparável do combate da oração.

I. As objeções à oração

2726     No [§112] combate da oração, devemos enfrentar, em nós mesmos e à nossa volta, concepções errôneas da oração. Algumas vêem nela uma simples operação psicológica; outras, um esforço de concentração para se chegar ao vazio mental. Algumas a codifi­cam em atitudes e palavras rituais. No inconsciente de muitos cristãos, rezar é uma ocupação incompatível com tudo o que eles devem fazer: não têm tempo. Os que procuram a Deus pela oração desanimam depressa, porque ignoram que a oração também procede do Espírito Santo e não apenas deles.

2727     Devemos [§113] também enfrentar mentalidades "deste mundo" que nos contaminam se não formos vigilantes, por exemplo: a afirmação de que o verdadeiro seria apenas o que é verificado pela razão e pela ciência (rezar, pelo contrário, é um mistério que ultrapassa nossa consciência e nosso inconsciente); os valores de produção e rendimento (a oração, sendo improdutiva, é inútil); o sensualismo e o bem-estar material, considerados como critério da verdade, do bem e da beleza (a oração, porém, "amor da Beleza" [filocalia, é enamorada da glória do Deus vivo e verdadeiro); em reação contra o ativismo, a oração é apresentada como fuga do mundo (a oração cristã, no entanto, não é um sair da história nem está divorciada da vida).

2728     Enfim, nosso combate deve enfrentar aquilo que sentimos como nossos fracassos na oração: desânimo diante de nossa aridez, tristeza por não ter dado tudo ao Senhor, por ter ''mui­tos bens[a114] ", decepção por não ser atendidos segundo nossa vontade própria, insulto ao nosso orgulho (o qual não aceita nossa indignidade de pecadores), alergia à gratuidade da ora­ção etc. A conclusão é sempre a mesma: para que rezar? Para superar esses obstáculos é preciso lutar para ter a humildade, a confiança, a perseverança.

II.      A humilde vigilância do coração

DIANTE DAS DIFICULDADES DA ORAÇÃO

2729     A [§115] dificuldade comum de nossa oração é a distração. Esta pode referir-se às palavras e ao seu sentido, na oração vocal. Pode, porém, referir-se mais profundamente àquele a quem oramos, na oração vocal (1itúrgica ou pessoal), na meditação e na oração mental. Perseguir obsessivamente as distrações seria cair em suas armadi­lhas, já que e suficiente o voltar ao nosso coração: uma distração nos revela aquilo a que estamos amarrados, e essa tomada de consciência humilde diante do Senhor deve despertar nosso amor preferencial por Ele, oferecendo-lhe resolutamente nosso co­ração, para que Ele o purifique. Aí se situa o combate: a escolha do Senhor a quem servir[a116] .

2730     Positivamente[§117] , o combate contra nosso "eu" possessivo e dominador é a vigilância, a sobriedade do coração. Quando Jesus insiste na vigilância, ela está sempre relacionada com Ele, com sua vinda, com o último dia e com cada dia: "hoje". O Esposo vem no meio da noite; a luz que não deve ser extinta é a da fé: "Meu coração diz a teu respeito: 'Procurai a sua face"' (Sl 27,8).

2731     Outra [§118] dificuldade, especialmente para aqueles que que­rem sinceramente orar, é a aridez. Esta acontece na oração, quando o coração está desanimado, sem gosto com relação aos pensamentos, às lembranças e aos sentimentos, mesmo espirituais. E o momento da fé pura que se mantém fielmente com Jesus na agonia e no túmulo. "Se o grão de trigo que cai na terra morrer, produzirá muito fruto" (Jo 12,24). Se a aridez é causada pela falta de raiz, porque a Palavra caiu sobre as pedras, o combate deve ir na linha da conversão[a119] .

DIANTE DAS TENTAÇÕES NA ORAÇÃO

2732     A [§120] tentação mais comum, mais oculta, é nossa falta de fé, que se exprime não tanto por uma incredulidade declarada quanto por uma opção de fato. Quando começamos a orar, mil trabalhos ou cuidados, julgados urgentes, apresentam-se como prioritários; de novo, é o momento da verdade do coração e de seu amor preferen­cial. Com efeito, voltamo-nos para o Senhor como o último recur­so: mas de fato acreditamos nisso? As vezes tomamos o Senhor como aliado, mas o coração ainda está na presunção. Em todos os casos, nossa falta de fé revela que não estamos ainda na disposição do coração humilde: "Sem mim, nada podeis fazer" (Jo 15,5).

2733     Outra [§121] tentação, cuja porta é aberta pela presunção, é a acídia (chamada também "preguiça"). Os Padres espirituais entendem esta palavra como uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência do coração. "O espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt 26,). Quanto mais alto se sobe, tanto maior a queda. O desânimo doloroso é o inverso da presunção. Quem é humilde não se surpreende com sua miséria Passa então a ter mais confiança, a perseverar na constância.

III.    A confiança filial

2734     A [§122] confiança filial é experimentada - e se prova - na tribulação[a123] . A dificuldade principal se refere à oração de súplica por si ou pelos outros, na intercessão. Alguns deixam até de orar porque, pensam eles, seu pedido não é ouvido. Aqui surgem duas questões: por que pensamos que nosso pedido não foi ouvido? De que maneira é atendida, ou é "eficaz", nossa oração?

POR QUE NOS LAMENTAR POR NÃO SERMOS ATENDIDOS?

2735     Um [§124] fato deveria provocar admiração em nós. Quando louva­mos a Deus ou lhe damos graças pelos benefícios em geral, pouco nos preocupamos em saber se nossa oração lhe é agradável. Em compensação, temos a pretensão de ver o resultado de nosso pedido. Qual é, pois, a imagem de Deus que nos motiva à ora­ção? Um meio a utilizar ou o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo?

2736     Estamos [§125] acaso convencidos de que "nem sabemos o que con­vém pedir" (Rm 8,26)? Pedimos a Deus "os bens convenientes"? Nosso Pai sabe do que precisamos, antes de lho pedirmos[a126] , mas espera nosso pedido porque a dignidade de seus filhos está preci­samente em sua liberdade. Mas é preciso rezar com seu Espírito de liberdade para poder conhecer na verdade o seu desejo[a127] .

2737     "Não possuís porque não pedis. Pedis, mas não recebeis, porque pedis mal, com o fim de gastardes nos vossos prazeres" (Tg 4,2-3). [a128] Se pedimos com um coração dividido, "adúlte­ro[a129] " Deus não nos pode ouvir, porque deseja nosso bem, nossa vida. "Ou julgais que é em vão que a Escritura diz: Ele reclama com ciúme o espírito que pôs dentro de nós (Tg 4,5)?" Nosso Deus é "ciumento" de nós, o que é o sinal da verdade de seu amor. Entremos no desejo de seu Espírito e seremos ouvidos:

Não te aflijas se não recebes imediatamente de Deus o que lhe pedes: pois Ele quer fazer-te um bem ainda maior por tua per­severança em permanecer com Ele na oração[a130] . Ele quer que nosso desejo seja provado na oração. Assim Ele nos prepara para receber aquilo que Ele está pronto a nos dar[a131] .

DE QUE MANEIRA É EFICAZ NOSSA ORAÇÃO?

2738     A [§132] revelação da oração na economia da salvação nos en­sina que a fé se apóia na ação de Deus na história. A con­fiança filial é suscitada por sua ação por excelência: a Paixão e a Ressurreição de seu Filho. A oração cristã é cooperação com sua Providência, com seu plano de amor para os homens.

2739     Em [§133] S. Paulo, esta confiança é audaciosa[a134] , fundada na oração do Espírito em nós e no amor fiel do Pai, que nos deu seu Filho único[a135] . A transformação do coração que reza é a primeira resposta a nosso pedido.

2740     A [§136] oração de Jesus faz da oração cristã uma súplica eficaz. É Ele o seu modelo. Jesus reza em nos e conosco. Já que o coração do Filho não busca senão o que agrada ao Pai, como haveria (o coração dos filhos adotivos) de apegar-se mais aos dons do que ao Doador?

2741     Jesus [§137] também reza por nós, em nosso lugar e em nosso favor. Todos os nossos pedidos foram recolhidos uma vez por todas em seu Grito na Cruz e ouvidos pelo Pai em sua Ressurreição, e por isso Ele não deixa de interceder por nós junto do Pai[a138] . Se nossa oração está resolutamente unida à de Jesus, na confiança e na audácia filial, obteremos tudo o que pedimos em seu nome; bem mais do que pequenos favores, receberemos o próprio Espírito Santo, que possui todos os dons.

IV.    Perseverar no amor

2742     Orai [§139] sem cessar" (1 Ts 5,17), "sempre e por tudo dando graças a Deus Pai, em nome de nosso Senhor, Jesus Cristo" (Ef 5,20), "com orações e súplicas de toda sorte, orai em todo tempo, no Espírito e, para isso, vigiai com toda perseverança e súplica por todos os santos" (Ef 6,18). "Não nos foi prescri­to que trabalhemos, vigiemos e jejuemos constantemente, en­quanto, para nós, é lei rezar sem cessar." [a140] Esse ardor incansável só pode provir do amor. Contra nossa pesada lentidão e preguiça, o combate da oração é o do amor humilde, confiante e perseverante. Esse amor abre nossos corações para três evidências de fé, luminosas e vivificantes:

2743     Orar é sempre possível: o tempo do cristão é o de Cristo ressuscitado que "esta conosco todos os dias" (Mt 28,20), apesar de todas as tempestades[a141] . Nosso tempo está nas mãos de Deus:

É possível até no mercado ou num passeio solitário fazer uma oração freqüente e fervorosa. Sentados em vossa loja, compran­do ou vendendo, ou mesmo cozinhando[a142] .

2744     Orar é uma necessidade vital. A prova contrária não é menos convincente: se não nos deixarmos levar pelo Espírito, cairemos de novo na escravidão do pecado[a143] . Como o Espírito Santo pode ser "nossa Vida", se nosso coração está longe dele?

Nada se compara em valor à oração; ela toma possível o que é impossível, fácil o que é difícil. E impossível que caia em pe­cado o homem que reza[a144] .

Quem reza certamente se salva; quem não reza certamente se condena[a145] .

2745     Oração [§146] e vida cristãs são inseparáveis, pois se trata do mesmo amor e da mesma renúncia que procede do amor. Trata-se da mesma conformidade filial e amorosa ao plano de amor do Pai; da mesma união transformadora no Espírito Santo, a qual nos conforma sempre mais a Cristo Jesus; trata-se do mesmo amor por todos os homens, aquele amor com que Jesus nos amou. "Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome Ele vos dará. Isto vos mando: amai-vos uns aos outros" (Jo 15,16-17).

Ora sem cessar aquele que une a oração às obras e as obras à oração. Somente dessa forma podemos considerar como reali­zável o principio de orar sem cessar[a147] .

V.      A oração da Hora de Jesus

2746     Quando [§148] chega sua Hora, Jesus ora ao Pai[a149] . Sua oração, a mais longa transmitida pelo Evangelho, abarca toda a eco­nomia da criação e da salvação, como sua Morte e Ressurrei­ção. A oração da Hora de Jesus é sempre a sua, assim como sua Páscoa, acontecida "uma vez por todas", estará sempre presente na Liturgia de sua Igreja.

2747     A tradição cristã a chama com toda propriedade a oração "sacerdotal" de Jesus. E a oração de nosso Sumo Sacerdote, inseparável de seu Sacrifício, de sua "passagem" [páscoa] para o Pai, onde Ele é "consagrado" inteiramente ao Pai[a150] .

2748     Nessa [§151] oração pascal, sacrifical, tudo é "recapitulado" nele[a152] : Deus e o mundo, o Verbo e a carne, a vida eterna e o tempo, o amor que se entrega e o pecado que o trai, os dis­cípulos presentes e aqueles que crerão nele por meio da pala­vra deles, a humilhação e a glória. E a oração da Unidade.

2749     Jesus [§153] realizou toda a obra do Pai, e sua oração, como seu Sacrifício, se estende até a consumação dos tempos. A oração da Hora enche os últimos tempos e os leva até sua consuma­ção. Jesus, o Filho a quem o Pai deu tudo, está todo entregue ao Pai e, ao mesmo tempo, se exprime com uma liberdade soberana[a154] , em virtude do poder que o Pai lhe deu sobre toda carne. O Filho, que se tomou Servo, é o Senhor, o Pantocrátor (o Todo-Poderoso). Nosso Sumo Sacerdote, que por nós reza é também aquele que ora em nós e o Deus que nos ouve.

2750     E [§155] entrando no santo nome do Senhor Jesus que podemos acolher, interiormente, a oração que Ele nos ensina: "Pai nosso!” Sua oração sacerdotal inspira os grandes pedidos do Pai-Nosso: a solicitude pelo nome do Pai[a156] , a paixão por seu Reino (a glória), [a157] o cumprimento da vontade do Pai, de seu plano de salvação[a158] , e a libertação do mal[a159] .

2751     Por [§160] fim, é nesta oração que Jesus nos revela e nos dá o "conhecimento" indissociável do Pai e do Filho[a161] , que é o próprio mistério da Vida de oração.

RESUMINDO.

2752     A oração supõe um esforço e uma luta contra nós mesmos e contra os embustes do Tentador. O combate da oração é inseparável do "combate espiritual" necessário para agir habitualmente segundo o Espírito de Cristo: reza-se como se vive, porque se vive como se reza.

2753     No combate da oração devemos enfrentar concepções errô­neas, diversas correntes de mentalidade, a experiência de nossos fracassos. A essas tentações que lançam dúvida sobre a utilidade ou a própria possibilidade da oração convém responder pela humildade, confiança e perseverança.

2754     As dificuldades principais no exercício da oração são a dis­tração e a aridez. O remédio está na fé, na conversão e na vigilância do coração.

2755     Duas tentações freqüentes ameaçam a oração: a falta de fé e a acídia, que é uma forma de depressão devida ao relaxamen­to da ascese, que leva ao desânimo.

2756     A confiança filial é posta â prova quando temos o sentimento de não ser sempre ouvidos. O Evangelho nos convida a nos interrogar sobre a conformidade de nossa oração com o de­sejo do Espírito.

2757     "Orai sem cessar" (1 Ts 5,17). Rezar sempre é possível. É mesmo uma necessidade vital. Oração e vida cristã são inseparáveis.

2758     A oração da Hora de Jesus, chamada com propriedade "ora­ção sacerdotal[a162] , recapitula toda a Economia da criação e da salvação e inspira os grandes pedidos do "Pai-Nosso".

 

 

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Folha de Apresentação

Posterior =>  § 2759 a § 2865

 

 
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Rev.2 de  dez/2003


 [§1]75

 [a2]Cf Concilio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 8: AAS 58 (1966) 821.

 [§3] 94

 [a4]Cf Concilio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 8: AAS 58 (1966) 821.   

 [§5] 694

 [a6]Cf Jo 4,14.

 [§7]133,1100

 [a8]Concilio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 25: AAS 58 (1966) 829; cf Santo Ambrósio, De officiis ministrorum, 1, 88: ed. N. Testard (Paris 1984) p. 138 (PL 16, 50).

 [a9]Guigo il Certosino, Scala claustralium, 2, 2: PL 184, 476. Tuttavia queste parole non sono recepite nel testo dell'edizione critica SC 163, 84; vedi ivi l'apparato critico.

 [§10] 1073,368

 [a11]Cf Princípios e normas para a Liturgia das Horas, 9: Liturgia delle Ore, v. 1 (Livraria Editora Vaticana 1981) p. 31.

 [§12] 1812-1829

 [§13]826

 [a14]São João Maria Vianney, Oratio, in B. Nodet, Le Curé d'Ars. Sa pensée-son cœur (Le Puy 1966) p. 45.

 [§15] 1165,2837,305

 [a16]Cf Mt 6,11.34.

 [§17] 2546,2632

 [a18]Cf Lc 13,20-21

 [§19] 1201

 [a20]Cf Concilio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 10: AAS 58 (1966) 822.

 [§21] 2780

 [§22]451

 [§23] 432,435

 [a24]Cf Ex 3,14; 33,19-23.

 [a25]Cf Mt 1,21.

 [a26]Cf Rm 10,13; At 2,21; 3,15-16; Gl 2,20.

 [§27]2616

 [a28]Cf Lc 18,13; Mc 10,46-52.

 [§29] 435

 [a30]Cf Lc 8,15.

 [§31] 478,1674

 [§32]686,2001,1310

 [a33]São Gregório Nazianzeno, Oração 31 (theologica 5), 28: SC 250, 332 (PG 36, 165)

 [a34]Cf Lc 11,13.

 [a35]Cf Jo 14,17; 15,26; 16,13.

 [a36]Domingo de Pentecostes, Antifona al « Magnificat » das primeiras Vésperas: Liturgia das Horas, v. 2 (Livraria Editora Vaticana 1981) p. 923; cf Domenica de Pentecoste, Alla Messa del giorno, Sequenza: Lezionario domenicale e festivo (Livraria Editora Vaticana 1972) p. 216. 582. 946.

 [a37]Ofício das Horas bizantino, Vésperas do dia de Pentecostes, Stico 4: A, (Roma 1884) p. 394.

 [§38] 695

 [§39] 689

 [a40]Cf At 1,14.

 [§41] 494

 [a42]Cf Concilio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, 62: AAS 57 (1965) 63.

 [§43] 970,512,2619

 [a44]Cf Lc 1,46-55.

 [§45]490

 [a46] Lc 1, 48  porque olhou para a humilhação de sua serva. Doravante todas as gerações me felicitarão,

 [a47] Sf 3,17 Javé, o seu Deus, o valente libertador, está no meio de você. Por causa de você, ele está contente e alegre e renova o seu amor por você; está dançando de alegria por sua causa,

 [§48]490

 [a49]Cf Lc 1,48.

 [§50] 435,146

 [§51] 495,1020

 [a52] Jo 19, 27 Depois disse ao discípulo: «Eis aí a sua mãe.» E dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa.

 [§53] 971,1674

 [§54]967,972

 [a55] Jo 19, 27

 [a56]Cf Concilio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, 68-69: AAS 57(1965) 66-67.

 [§57] 956

 [a58]Cf Hb 12,1.

 [a59]Cf Mt 25,21.

 [§60] 917,919,1202

 [a61]Cf 2 Rs 2,9.

 [a62]Cf Lc 1,17.

 [a63]Cf Concilio Vaticano II, Decreto Perfectae caritatis, 2: AAS 58 (1966) 703.

 [a64]São Basílio Magno, Livro de Espírito Santo, 26, 62: SC 17bis, 472 (PG 32, 184).

 [§65]1657

 [§66] 1547

 [a67]Cf Concilio Vaticano II, Decreto Presbyterorum ordinis, 4-6: AAS 58 (1966) 995-1001.

 [§68] 916

 [§69]1674

 [a70]Cf João Paulo II, Exortação apostólica Catechesi tradendae, 54: AAS 71 (1979) 1321-1322.

 [a71]Cf João Paulo II, Exortação apostólica Catechesi tradendae, 55: AAS 71 (1979) 1322-1323.

 [a72] São João da Cruz, chama de amor viva, segunda redação, stropha 3, declaratio, 30: Biblioteca Mística Carmelitana, v. 13 (Burgos 1931) p. 171.

 [§73] 1181,2097,1379,1175,1674

 [a74]Cf Mt 6,6.

 [a75]Cf Concilio Vaticano II, Decreto Perfectae caritatis, 7: AAS 58 (1966) 705.

 [§76]1099

 [a77]São Gregório Nazianzeno, Oração 27 (theologica 1), 4: SC 250, 78 (PG 36, 16).

 [§78] 1168,1174,2177

 [§79]2563

 [§80]1176

 [a81]São João Crisóstomo, De Ana, sermão 2, 2: PG 54, 646.

 [§82]  2603,612

 [a83]Cf Mt 11,25-26.

 [a84]Cf Mc 14,36.

 [§85]1146

 [§86]2097

 [a87]Cf Santa Teresa de Jesus, Caminho da perfeição, 26: Biblioteca Mística Carmelitana, v. 3 (Burgos 1916) p. 122.

 [§88]158,127

 [§89]2690,2664

 [a90]Cf Mc 4,4-7.15-19.

 [§91] 516,2678

 [§92]2562-2564

 [a93]Santa Teresa de Jesus, Livro da vida, 8: Biblioteca Mística Carmelitana, v. 1 (Burgos 1915) p. 57.

 [a94]Cf Ct 3,1-4.

 [§95] 2726

 [§96] 1348,2100

 [§97]2822

 [a98]Cf Lc 7,36-50; 19,1-10.

 [§99]2559

 [a100]Cf Jr 31,33.

 [a101]Cf Ef 3,16-17.

 [§102] 1380,521

 [a103]Cf F. Trochu, o Cura d'Ars S.João Maria Vianney (Lyon-Paris 1927) p. 223-224.

 [a104]Cf Santo Inácio de Loiola, Exercitia spiritualia, 104: MHSI 100, 224.

 [§105] 494

 [§106] 533,498

 [a107]Santo Isaac de Ninive, Tractatus mystici, 66: ed. A.J. Wensinck (Amsterdam 1923) p. 315; ed. P. Bedjan (Parigi-Lipsia 1909) p. 470.

 [a108]São João da Cruz, Carta, 6: Biblioteca Mística Carmelitana, v. 13 (Burgos 1931) p. 262.

 [§109] 165,2730

 [a110]Cf Mt 26,40-41

 [§111] 2612,409,2015

 [§112] 2710

 [§113] 37,2500

 [a114]Cf Mc 10,22

 [§115] 2711

 [a116]Cf Mt 6,21.24.

 [§117]2659

 [§118] 1426

 [a119]Cf Lc 8,6.13.

 [§120] 2609,2089,2092,2074

 [§121] 2094,2559

 [§122] 2629

 [a123]Cf Rm 5,3-5.

 [§124] 2779

 [§125] 2559,1730

 [a126]Cf Mt 6,8.

 [a127]Cf Rm 8,27.

 [a128]Cf todo o contexto Tg 1,5-8; 4,1-10; 5,16.

 [a129]Cf Tg 4,4.

 [a130]Evágrio Pôntico, De oratione, 34: PG 79, 1173.

 [a131]Santo Agostinho, Epistula 130, 8, 17: CSEL 44, 59 (PL 33, 500).

 [§132]2568,307

 [§133] 2778

 [a134]Cf Rm 10,12-13.

 [a135]Cf Rm 8,26-39.

 [§136]2604

 [§137] 2606,2614

 [a138]Cf Hb 5,7; 7,25; 9,24

 [§139] 2098,162

 [a140]Evágrio Pôntico, Capita practica ad Anatolium, 49: SC 171, 610 (PG 40, 1245).

 [a141]Cf Lc 8,24.

 [a142]São João Crisóstomo, De Anna, sermo 4, 6: PG 54, 668.

 [a143]Cf Gl 5,16-25.

 [a144]São João Crisóstomo, De Anna, sermo 4, 5: PG 54, 666.

 [a145]Santo Alonso Maria de Ligório, “Del gran mezzo della preghiera”, parte 1, c. 1, ed. G. Cacciatore (Roma 1962) p. 32.

 [§146] 2660

 [a147]Origines, oração, 12, 2: GCS 3, 324-325 (PG 11, 452).

 [§148] 1085

 [a149]Cf Jo 17.

 [a150]Cf Jo 17,11.13.19.

 [§151] 518,820

 [a152]Cf Ef 1,10.

 [§153] 2616

 [a154]Cf Jo 17,11.13.19.24.

 [§155] 2815

 [a156]Cf Jo 17,6.11.12.26.

 [a157]Cf Jo 17,1.5.10.22.23-26.

 [a158]Cf Jo 17,2.4.6.9.11.12.24.

 [a159]Cf Jo 17,15.

 [§160]740

 [a161]Cf Jo 17,3.6-10.25.

 [a162]Cf Jo 17.