Catecismo da Igreja Católica

QUARTA PARTE - A ORAÇÃO CRISTÃ

SEGUNDA SEÇÃO

A ORAÇÃO DO SENHOR: "PAI NOSSO!"

2759     "Um dia, em certo lugar, Jesus rezava. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: 'Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos"' (Lc 11,1). E em resposta a este pedido que o Senhor confia a seus discípulos e à sua Igreja a oração cristã fundamental. S. Lucas traz um texto breve (de cinco pedidos[a1] ); S. Mateus, uma versão mais desenvolvi da (de sete pedidos[a2] ). A tradição litúrgica da Igreja conservou o texto de S. Mateus:

Pai nosso que estais nos céus,

santificado seja o vosso nome;

venha a nós o vosso reino;

seja feita a vossa vontade,

assim na terra como no céu;

pão nosso de cada dia nos dai hoje;

perdoai-nos as nossas ofensas,

assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido;

e não nos deixeis cair em tentação.

mas livrai-nos do mal.

2760     Bem [§3] cedo, o uso litúrgico concluiu a Oração do Senhor com uma doxologia. Na Didaché (8,2): "Pois vosso é o poder e a glória para sempre[a4] ". As Constituições Apostólicas (7,24,1) acrescentam no começo: “o reino[a5] ”, e é esta a fórmula conservada hoje na oração ecumênica. A tradição bizantina, logo em seguida à "glória”, acrescenta "Pai, Filho e Espírito Santo". O missal romano desdobra o último pedido [a6] na perspectiva explícita da expectativa da "bem-aventurada esperança[a7] " e da Vinda de Jesus Cristo, nosso Senhor vindo em seguida a aclamação da assembléia, que retoma a doxologia das Constituições Apostólicas.

ARTIGO 1

"O RESUMO DE TODO O EVANGELHO"

2761     "A Oração dominical é realmente o resumo de todo o Evangelho[a8] ." "Depois de nos ter legado esta fórmula de ora­ção, o Senhor acrescentou: 'Pedi e vos será dado' (Jo 16,24). Cada qual pode, portanto, dirigir ao céu diversas orações con­forme as suas necessidades, mas começando sempre pela Oração do Senhor, que permanece a oração fundamental[a9] ."

1.       No centro das Escrituras

2762     Depois de mostrar como os Salmos são o alimento prin­cipal da oração cristã e convergem nos pedidos do Pai-Nosso, Sto. Agostinho conclui:

Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja incluí­do na oração do Senhor[a10] .

2763     Todas [§11] as Escrituras (a Lei, os Profetas e os Salmos) se realizam em Cristo[a12] . O Evangelho é esta "Boa nova". Seu primeiro anúncio é resumido por S. Mateus no Sermão da Montanha[a13] . Ora,, a oração ao Nosso Pai encontra-se no centro deste anúncio. E este contexto que ilumina cada pedido da oração que o Senhor nos deixou:

A [§14] Oração dominical é a mais perfeita das orações... Nela, não só pedimos tudo quanto podemos desejar corretamente, mas ainda segundo a ordem em que convém desejá-lo. De modo que esta oração não só nos ensina a pedir, mas ordena também todos os nossos afetos[a15] .

2764     O [§16] Sermão da Montanha é doutrina de vida, a Oração do Senhor é oração, mas em ambos o Espírito do Senhor dá forma nova aos nossos desejos, isto é, a estas moções interiores que animam nossa vida. Jesus nos ensina esta vida nova por suas palavras e nos ensina a pedi-la pela oração. Da retidão de nossa oração dependerá a retidão de nossa vida em Cristo.

II- "A Oração do Senhor"

2765     A [§17] tradicional expressão "Oração dominical" [ou seja, "Oração do Senhor"] significa que a oração ao nosso Pai nos foi ensinada e dada pelo Senhor Jesus. Esta oração que nos vem de Jesus é realmente única: ela é "do Senhor". Com efeito, por um lado, mediante as palavras desta oração, o Filho único nos dá as palavras que o Pai lhe deu[a18] ; Ele é o Mestre de nossa oração. Por outro lado, como Verbo encarnado, Ele conhece em seu coração de homem as necessidades de seus irmãos e irmãs humanos e no-las revela; é o Modelo de nossa oração.

2766     Jesus[§19] , no entanto, não nos deixa uma fórmula a ser repetida maquinalmente[a20] . Como vale em relação a toda oração vocal, é pela Palavra de Deus que o Espírito Santo ensina aos filhos de Deus como rezar a seu Pai. Jesus nos dá não só as palavras de nossa oração filial, mas também, ao mesmo tempo, o Espírito pelo qual elas se tornam em nós "espírito e vida" (Jo 6,). Mais ainda: a prova e a possibilidade de nossa oração filial consiste no fato de que o Pai "enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Abba, Pai!" ( 4,6). Já que nossa oração in­terpreta nossos desejos diante de Deus, é ainda "aquele que pers­cruta os corações", o Pai, quem "sabe qual é o desejo do Espíri­to; pois é segundo Deus que ele intercede pelos santos" (Rm 8,27). A oração a Nosso Pai insere-se na missão misteriosa de Filho e do Espírito.

III.    A oração da Igreja

2767     A Igreja recebeu e viveu desde as origens este dom indissociável das palavras do Senhor e do Espírito Santo, que a elas dá vida no coração dos crentes. As primeiras comuni­dades rezam a Oração do Senhor "três vezes ao dia[a21] ", em lugar das "Dezoito bênçãos" em uso na piedade judaica.

2768     Segundo a Tradição apostólica, a Oração do Senhor está essencialmente arraigada na oração litúrgica.

O Senhor nos ensina a rezar nossas orações em comum por todos os nossos irmãos. Pois não diz "meu Pai" que estás nos céus, mas "nosso" Pai, a fim de que nossa oração seja, com um só coração e uma só alma, por todo o Corpo da Igreja[a22] .

Em todas as tradições litúrgicas, a Oração do Senhor é parte integrante das grandes horas do Ofício Divino. Mas é sobretudo nos três sacramentos da iniciação cristã que seu caráter eclesial aparece claramente.

2769     No [§23] Batismo e na Confirmação, a entrega ["traditio"] da Oração do Senhor significa o novo nascimento para a vida divi­na. Já que a oração cristã consiste em falar a Deus com a própria Palavra de Deus, os que são "regenerados mediante a Palavra do Deus vivo" (l Pd 1,23) aprendem a invocar seu Pai mediante a única Palavra que ele sempre atende. E já podem invocá-lo desde agora, pois o Selo da Unção do Espírito Santo foi-lhes gravado, indelevelmente, sobre o coração, os ouvidos, os lábios, sobre todo o seu ser filial. É por isso que a maioria dos comentários patrísticos do Pai-Nosso são dirigidos aos catecúmenos e aos neófitos. Quando a Igreja reza a Oração do Senhor, é sempre o povo dos "renascidos" que reza e obtém misericórdia[a24] .

2770     Na [§25] Liturgia Eucarística, a Oração do Senhor aparece como a oração de toda a Igreja. Nela revela-se seu sentido pleno e sua efi­cácia. Situada entre a Anáfora (Oração eucarística) e a Liturgia da comunhão, ela recapitula por um lado todos os pedidos e interces­sões expressos no movimento da Epiclese e, por outro, bate à porta do Festim do Reino que a Comunhão sacramental vai antecipar.

2771     Na[§26]  Eucaristia, a Oração do Senhor manifesta também o caráter escatológico de seus pedidos. E a oração própria dos "últi­mos tempos", dos tempos da salvação que começaram com a efusão do Espírito Santo e que terminarão com a Volta do Se­nhor. Os pedidos ao nosso Pai, ao contrário das orações da Antiga Aliança, apoiam-se sobre o mistério da salvação já realizada, uma vez por todas, em Cristo crucificado e ressuscitado.

2772     Desta [§27] fé inabalável brota a esperança que anima cada um dos sete pedidos. Estes exprimem os gemidos do tempo presente, este tempo de paciência e de espera durante o qual "ainda não se manifestou o que nós seremos" (1 Jo 3,2). [a28] A Eucaristia e o Pai-Nosso apontam para a vinda do Senhor, "até que Ele venha" (1 Cor 11,26).

RESUMINDO

2773     Atendendo ao pedido de seus discípulos ("Senhor, ensina-nos a orar": Lc 11,1), Jesus lhes confia a oração cristã funda­mental do Pai-Nosso.

2774     "A Oração dominical é realmente o resumo de todo o Evan­gelho[a29] ", "a mais perfeita das orações[a30] " Está no centro das Escrituras.

2775     É chamada "Oração dominical" porque nos vem do Senhor; Jesus, Mestre e Modelo de nossa oração.

2776     A Oração dominical é a oração da Igreja por excelência. É parte integrante das grandes Horas do Oficio Divino e dos sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Confirmação e Eucaristia. Integrada na Eucaristia, ela manifesta o caráter "escatológico" de seus pedidos, na esperança do Senhor, "até que Ele venha" (1 Cor 11,26):

 

ARTIGO 2

"PAI NOSSO QUE ESTAIS NO CÉU"

I. "Ousar aproximar-nos com toda a confiança"

2777     Na [§31] liturgia romana, a assembléia eucarística é convidada a rezar o Pai-Nosso com ousadia filial; as liturgias orientais utilizam e desenvolvem expressões análogas: "Ousar com toda a segurança", "torna-nos dignos de". Diante da sarça ardente, foi dito a Moisés: "Não te aproximes daqui; tira as sandálias" (Ex 3,5). Este limiar da Santidade divina só Jesus podia transpor, Ele que, "depois de ter realizado a purificação dos pecados" (Hb 1,3), nos introduz diante da Face do Pai: "Eis-me aqui com os filhos que Deus me deu" (Hb 2,13).

A consciência que temos de nossa situação de escravos nos faria desaparecer debaixo da terra, nossa condição terrestre se reduziria a pó, se a autoridade de nosso Pai e o Espírito de seu Filho não nos levassem a clamar: "Abba, Pai!" (Rm 8,15)... Quando ousaria a fraqueza de um mortal chamar a Deus seu Pai, senão apenas quan­do o íntimo do homem é animado pela Força do a1to[a32] ?

2778     Esta [§33] força do Espírito que nos introduz na Oração do Se­nhor traduz-se nas liturgias do Oriente e do Ocidente pela bela expressão tipicamente cristã: "parrhesia", simplicidade sem ro­deios, confiança filial, jovial segurança, audácia humilde, cer­teza de ser amado[a34] .

II.      "Pai!"

2779     Antes [§35] de fazer nossa esta primeira invocação da Oração do Senhor, convém purificar humildemente nosso coração de certas imagens falsas a respeito "deste mundo". A humildade nos faz reconhecer que "ninguém conhece o Pai senão o Filho ele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11 ,27), isto e, aos pequeninos" (Mt 11,25). A purificação do coração diz respeito às imagens paternas ou maternas oriundas de nossa história pessoal e cultural e que influenciam nossa relação com Deus. Deus nosso Pai transcende as categorias do mundo criado. Transpor para Ele, ou contra Ele, nossas idéias neste campo seria fabricar ídolos, para adorar ou para demolir. Orar ao Pai é entrar em seu mistério, tal qual Ele é, e tal como o Filho no-lo revelou:

A expressão "Deus Pai" nunca fora revelada a ninguém. Quando o próprio Moisés perguntou a Deus quem Ele era, ouviu outro nome. A nós este nome foi revelado no Filho, pois este nome novo implica o nome novo de Pai[a36] .

2780     Podemos [§37] invocar a Deus como "Pai", porque Ele nos foi revelado por seu Filho feito homem e porque seu Espírito no-lo faz conhecer. Aquilo que o homem não pode conceber nem as potências angélicas podem entrever, isto é, a relação pessoal do Filho com o Pai[a38] , eis que o Espírito do Filho nos faz participar nela (nessa relação pessoal), nós, que cremos que Jesus é o Cristo e (cremos) que somos nascidos de Deus[a39] .

2781     Quando [§40] rezamos ao Pai, estamos em comunhão com Ele e com seu Filho, Jesus Cristo[a41] . E então que o conhecemos e o reconhecemos num maravilhamento sempre novo. A primei­ra palavra da Oração do Senhor é uma bênção de adoração, antes de ser uma súplica. Pois a Glória de Deus é que nós o reconheçamos como "Pai", Deus verdadeiro. Rendemo-lhe graças por nos ter revelado seu Nome, por nos ter concedido crer nele e por sermos habitados por sua Presença.

2782     Podemos adorar o Pai porque Ele nos fez renascer para sua Vida, adotando-nos como filhos em seu Filho único: pelo Batismo, Ele nos incorpora no Corpo de seu Cristo e, pela Unção de seu Espírito, que se derrama da Cabeça para os membros, faz de nós "cristos" (isto é, "ungidos").

Deus, que nos predestinou à adoção de filhos, tomou-nos conformes ao Corpo glorioso de Cristo. Doravante, portanto, como participan­tes do Cristo, vós sois com justa razão chamados "cristos[a42] ".

O homem novo, renascido e restituído a seu Deus pela graça, diz, antes de mais nada, "Pai!", porque se tornou filho[a43] .

2783     Assim[§44] , portanto, pela Oração do Senhor, somos revelados a nós mesmos ao mesmo tempo que o Pai nos é revelado[a45] :

Ó homem, não ousavas levantar teu rosto ao céu, baixavas os olhos para a terra, e de repente recebeste a graça de Cristo: todos os teus pecados te foram perdoados. De servo mau te tomaste um bom fi­lho... Levanta, pois, os olhos para o Pai que te resgatou por seu Filho e dize: Pai nosso... Mas não exijas nenhum privilégio. Somente de Cristo Ele é Pai, de modo especial; para nós é Pai em comum, porque gerou somente a Ele; a nós, ao invés, Ele nos criou. Dize, portanto, também tu, pela graça: Pai Nosso, a fim de mereceres ser seu filho[a46] .

2784     Este [§47] dom gratuito da adoção exige de nossa parte uma conversão contínua e uma vida nova. Rezar a nosso Pai deve desenvolver em nós, duas disposições fundamentais:

O desejo e a vontade de assemelhar-se a Ele. Criados à sua imagem, é por graça que a semelhança nos é dada e a ela devemos responder.

Quando chamamos a Deus de "nosso Pai", precisamos lembrar-nos de que devemos comportar-nos como filhos de Deus[a48] .

Não podeis chamar de vosso Pai ao Deus de toda bondade, se conservais um coração cruel e desumano; pois nesse caso já não tendes mais em vós a marca da bondade do Pai celeste[a49] .

É preciso contemplar sem cessar a beleza do Pai e com ela impregnar nossa alma[a50] .

2785     Um [§51] coração humilde e confiante que nos faz "retornar à condição de crianças" (Mt 18,3), porque e aos pequeninos que o Pai se revela (Mt 11,25):

É um olhar sobre Deus tão-somente, um grande fogo de amor.

A alma nele se dissolve e se abisma na santa dileção, e se entretém com Deus como com seu próprio Pai, bem familiarmente, com ternura de piedade toda particular[a52] .

Nosso Pai: este nome suscita em nós, ao mesmo tempo, o amor, a afeição na oração, (...) e também a esperança de alcançar o que vamos pedir... Com efeito, o que poderia Ele recusar ao pedido de seus olhos, quando já antes lhes permitiu ser seus filhos[a53] .

III. Pai "Nosso"

2786     Pai [§54] "Nosso" refere-se a Deus. De nossa parte, este adje­tivo não exprime uma posse, mas uma relação inteiramente nova com Deus.

2787     Quando [§55] dizemos Pai "nosso", reconhecemos primeiramente que todas as suas promessas de amor anunciadas pelos profetas se cumprem na nova e eterna Aliança em Cristo: nós nos torna­mos seu Povo e Ele é, doravante, "nosso" Deus. Esta relação nova é uma pertença mútua dada gratuitamente: é pelo amor e pela fidelidade [a56] que devemos responder "à graça e à verdade" que nos são dadas em Jesus Cristo[a57] .

2788     Como a Oração do Senhor é a de seu Povo nos "últimos tempos", este "nosso" exprime também a certeza de nossa espe­ran­ça na última promessa de Deus; na Jerusalém nova, dirá Ele ao vencedor: "Eu serei seu Deus e ele será meu filho" (Ap 21,7).

2789     Rezando [§58] ao "nosso" Pai, é ao Pai 4e Nosso Senhor Jesus Cristo que nos dirigimos pessoalmente. Não dividimos a divinda­de, porque o Pai é dela "a fonte e a origem", mas confessamos, com isso, que eternamente o Filho é gerado por Ele e que dele procede o Espírito Santo. Tampouco confundimos as Pessoas, porque confessamos que nossa comunhão é com o Pai e seu Filho, Jesus Cristo, em seu único Espírito Santo. A Santíssima Trindade é consubstancial e indivisível. Quando rezamos ao Pai, nós o adoramos e o glorificamos com o Filho e o Espírito Santo.

2790      [§59] Gramaticalmente, nosso qualifica uma realidade comum a vários. Não há senão um só Deus, e Ele é reconhecido como Pai pelos que, mediante a fé em seu Filho único, renasceram dele pela água e pelo Espírito[a60] . A Igreja é esta nova comunhão entre Deus e os homens; unida ao Filho único tornado "o primogênito entre muitos irmãos" (Rm 8,29), ela está em comunhão com um só e mesmo Pai, em um só e mesmo Espírito Santo[a61] . Rezando ao "nos­ Pai, cada batizado reza nesta Comunhão: "A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma" (At 4,32).

2791     Por [§62] isso, apesar das divisões dos cristãos, a oração ao "nosso" Pai continua sendo o bem comum e um apelo urgente para todos os batizados. Em comunhão mediante a fé em Cristo e mediante o Batismo, devem eles participar na oração de Jesus para a unidade de seus discípulos[a63] 

2792     Enfim, se rezamos verdadeiramente ao "Nosso Pai", saímos do individualismo, pois o Amor que acolhemos nos liberta (do individualismo). O "nosso" do início da Oração do Senhor, como o "nós" dos quatro últimos pedidos, não exclui ninguém. Para que seja dito em verdade[a64] , nossas divisões e oposições devem ser superadas.

2793     Os [§65] batizados não podem rezar ao Pai "nosso" sem levar para junto dele todos aqueles por quem Ele entregou seu Filho bem-amado. O amor de Deus é sem fronteiras; nossa oração também deve sê-lo[a66] . Rezar ao "nosso" Pai abre-nos para as dimensões de Seu amor manifestado no Cristo: rezar com e por todos os homens que ainda não O conhecem, a fim de que sejam "congregados na unidade[a67] ". Esta solicitude divina por todos os homens e por toda a criação animou todos os grandes orantes e deve dilatar nossa oração em amplidão de amor quando ousamos dizer Pai "nosso".

IV.    "Que estais no céu"

2794     Esta [§68] expressão bíblica não significa um lugar ["o espa­ço], mas uma maneira de ser; não o afastamento de Deus, mas sua majestade. Nosso Pai não está "em outro lugar", Ele está "para além de tudo" quanto possamos conceber a respeito de sua Santidade. Porque Ele é três vezes Santo, está bem próximo do coração humilde e contrito:

É com razão que estas palavras "Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca[a69] .

Os "céus" poderiam muito bem ser também aqueles que trazem a imagem do mundo celeste, nos quais Deus habita e passeia[a70] .

2795     O [§71] símbolo dos céus nos remete ao mistério da Aliança que vivemos quando rezamos ao nosso Pai. Ele está nos céus que são sua Morada; a Casa do Pai é, portanto, nossa "pátria". Foi da terra da Aliança que o pecado nos exilou [a72] e é para o Pai, para o céu, que a conversão do coração nos faz voltar[a73] . Ora, é no Cristo que o céu e a terra são reconciliados[a74] , pois o Filho "desceu do céu", sozinho, e para lá nos faz subir com ele, por sua Cruz, sua Ressurreição e Ascensão[a75] .

2796     Quando [§76] a Igreja reza "Pai nosso que estais nos céus", professa que somos o Povo de Deus já assentados nos céus, em Cristo Jesus[a77] ", "escondidos com Cristo em Deus[a78] " e, ao mesmo tempo, "gememos pelo desejo ardente de revestir por cima de nossa morada terrestre a nossa habitação celeste[a79] " (2Cor 5,2)

Os cristãos estão na carne, mas não vivem segundo a carne. Passam sua vida na terra, mas são cidadãos do céu[a80] .

RESUMINDO

2797     A confiança simples e fiel, a segurança humilde e alegre são as disposições que convêm a quem reza o Pai-Nosso.

2798     Podemos invocar a Deus como "Pai" porque o Filho de Deus feito homem no-lo revelou, Ele, em quem, pelo Batismo, somos incorporados e adotados como filhos de Deus.

2799     A oração do Senhor nos põe em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, ela nos revela a nós mesmos[a81] .

2800     Rezar ao Pai "nosso" deve desenvolver em nós a vontade de nos assemelhar a Ele e (fazer crescer em nós) um coração humilde e confiante.

2801     Dizendo Pai Nosso, invocamos a Nova Aliança em Jesus Cristo, a comunhão com a Santíssima Trindade e a caridade divina que se estende, pela igreja, às dimensões do mundo.

2802     "Que estais nos céus" não designa um lugar, mas a majesta­de de Deus e sua presença no coração dos justos. O céu, a Casa do Pai, constitui a verdadeira pátria para onde nos dirigimos e à qual já pertencemos.

ARTIGO 3

OS SETE PEDIDOS

2803     Depois [§82] de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, para adorá-lo, amá-lo e bendizê-lo, o Espírito filial faz subir de nossos corações sete pedidos, sete bênçãos. Os três primei­ros, mais teologais, nos atraem para a Glória do Pai; os quatro últimos, como caminhos para Ele, oferecem nossa miséria à sua Graça. "Um abismo grita a outro abismo" (Sl 42,8).

2804     A primeira série de pedidos nos leva em direção a Ele, para Ele: vosso Nome, vosso Reino, vossa Vontade! E próprio do amor pensar primeiro naquele que amamos. Em cada um destes três pedidos não nos mencionamos, mas o que se apodera de nós é "o desejo ardente", "a angústia" até, do Filho bem-amado para a Glória de seu Pai[a83] : "Seja santificado... Venha... Seja feita...": essas três súplicas já foram atendidas pelo Sacrifício do Cristo Salvador, mas se elevam doravante, na esperança, para seu cum­primento final, enquanto Deus ainda não é tudo em todos[a84] .

2805     A [§85] segunda série de pedidos desenrola-se no ritmo de cer­tas Epicleses eucarísticas: é apresentação de nossas expectati­vas e atrai o olhar do Pai das misericórdias. Sobe de nós e nos diz respeito desde agora, neste mundo: "Dai-nos... perdoai--nos... não nos deixeis... livrai-nos". O quarto e o quinto pedi­dos referem-se à nossa vida, como tal, seja para alimentá-la, seja para curá-la do pecado; os dois últimos referem-se ao nosso combate pela vitória da Vida, o combate da própria oração.

2806     Mediante [§86] os três primeiros pedidos, somos confirmados na fé, repletos de esperança e abrasados pela caridade. Criaturas e ainda pecadores, devemos pedir por nós, estendendo este "nós" até as dimensões do mundo e da história que oferecemos ao amor sem medida de nosso Deus. Porque é pelo Nome de seu Cristo e pelo Reino de seu Espírito Santo que nosso Pai realiza seu plano de salvação, por nós e pelo mundo inteiro.

I[§87] . Santificado seja vosso Nome

2807     O [§88] termo "santificar" deve ser entendido aqui não primei­ramente em seu sentido causativo (só Deus santifica, torna santo), mas sobretudo num sentido estimativo: reconhecer como santo, tratar de maneira santa. E assim que, na adoração, esta invocação é às vezes compreendida como um louvor e uma ação de graças[a89] . Mas este pedido, um nos é ensinado por Jesus como um optativo: um pedido, um desejo e uma espera em que Deus e o homem estão empenhados. Desde o primeiro pedido a nosso Pai, somos mergulhados no mistério íntimo de sua Divindade e no evento da salvação de nossa humanidade. Pedir-lhe que seu nome seja santificado nos envolve na "decisão prévia que lhe aprouve tomar" (Ef 1,9) para "ser santos e irrepreensíveis diante dele no amor" (Ef 1,4).

2808     Nos [§90] momentos decisivos de sua economia, Deus revela seu Nome, mas revela-o realizando sua obra. Ora, esta obra só se realiza para nós e em nós se seu nome for santificad9 por nós e em nós.

2809     A [§91] Santidade de Deus é o centro inacessível de seu ministério eterno. Ao que, deste mistério, está manifestado na criação e na história, a Escritura chama de Glória, a irradiação de sua majestade[a92] . Ao criar o homem "à sua imagem e semelhança" (Gn 1,26), Deus "o coroa de glória''[a93] , mas, pecando, o homem é "privado da Glória de Deus[a94] ". Sendo assim, Deus vai manifestar sua Santidade revelando e dando seu Nome, a fim de restaurar o homem "segundo a imagem de seu Criador" (Cl 3,10).

2810     Na [§95] promessa a Abraão, e no juramento que a acompanha[a96] , Deus empenha a si mesmo, mas sem revelar seu Nome. É a Moisés que começa a revelá[a97] -lo, e o manifesta aos olhos de todo o povo, salvando-o dos egípcios: "Ele se vestiu de glória" (Ex 15,1). A partir da Aliança do Sinai, este povo é "seu" e deve ser uma "nação santa" (ou consagrada: é a mesma palavra em hebraico[a98] ) porque o nome de Deus habita nele.

2811     Ora[§99] , apesar da Lei santa que o Deus Santo lhe dá e torna a dar[a100] , e embora o Senhor, "em consideração a seu nome", use de paciência, o povo se desvia do Santo de Israel e "pro­fana seu nome entre as nações[a101] ". Foi por isso que os justos da Antiga Aliança, os pobres que retornaram do exílio e os profetas, ficaram abrasados pela paixão do Nome.

2812     Por [§102] fim, em Jesus, o Nome do Deus Santo nos é revelado e dado, na carne, como Salvador[a103] : revelado, por aquilo que Ele E, por sua Palavra e por seu Sacrifício[a104] . E o cerne de sua oração sacerdotal: "Pai santo... por eles a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade" (Jo 17,19). E por "santificar" Ele mesmo o seu nome [a105] que Jesus nos manifesta" o Nome do Pai[a106] . Ao final de sua Páscoa, o Pai lhe dá então o nome que está acima de todo nome: Jesus é Senhor para a glória de Deus Pai[a107] .

2813     Na [§108] água do Batismo fomos "lavados, santificados, justi­ficados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus" (1 Cor 6,11). Durante toda nossa vida, nosso Pai "nos chama à santidade" (l Ts 4,7). E, já que é "por ele que vós sois em Cristo Jesus, que se tornou para nós santificação" (1 Cor 1,30), contribui para sua Glória e para nossa vida o fato de seu nome ser santificado em nós e por nós. Essa é a urgên­cia de nosso primeiro pedido.

Quem poderia santificar a Deus, já que é Ele mesmo quem santifica? Mas, inspirando-nos nesta palavra: "Sede santos por­que eu sou Santo" (Lv 11,44), nós pedimos que, santificado pelo Batismo, perseveremos naquilo que começamos a ser. pedimo-lo todos os dias, porque cometemos faltas todos os dia e devemos purificar-nos de nossos pecados por uma santificação retomada sem cessar... Recorremos, portanto, à oração para esta santidade permaneça em nós[a109] .

2814     Depende[§110] , inseparavelmente, de nossa vida e de nossa oração que seu Nome seja santificado entre as nações:

Pedimos a Deus que santifique seu Nome, porque é pela  santidade que Ele salva e santifica toda a criação... Trata-se do Nome que dá a salvação ao mundo perdido, mas pedimos que Nome de Deus seja santificado em nós por nossa vida. Pois, se vivermos bem, o Nome divino é bendito; mas, se vivermos mal, ele é blasfemado, segundo a palavra do Apóstolo: "O Nome de Deus está sendo blasfemado por vossa causa entre os pagãos” (Rm [a111] 2,24). Rezamos, portanto, para merecer ter em nossas almas tanta santidade quanto é santo o Nome de nosso Deus[a112] .

Quando dizemos "santificado seja o vosso Nome", pedimos que  ele seja santificado em nós que estamos nele, mas também nos outros que a graça de Deus ainda aguarda, a fim de conformar-nos aos preceito, que nos obriga a rezar por todos, mesmo por nossos inimigos. E por isso que não dizemos expressamente: vosso Nome seja santificado "em nós", porque pedimos que ele o seja em todos os homens[a113] .

2815     Este [§114] pedido, que contém todos os pedidos, é atendido pela oração de Cristo, como os seis outros que seguem. A oração ao nosso Pai é nossa oração se for rezada "no Nome” de Jesus[a115] . Jesus pede em sua oração sacerdotal: "Pai sai guarda em teu Nome os que me deste" (Jo 17,11).

II.      Venha a nós o vosso Reino

2816     No [§116] Novo Testamento o mesmo termo "Basiléia" pode ser traduzido por realeza (nome abstrato), reino (nome concreto) ou reinado (nome de ação). O Reino de Deus existe antes de nós. Apro­ximou-se no Verbo encarnado, é anunciado ao longo de todo o Evangelho, veio na morte e na Ressurreição de Cristo. O Reino de Deus vem desde a santa Ceia e na Eucaristia: ele está no meio de nós. O Reino virá na glória quando Cristo o restituir a seu Pai:

O Reino de Deus pode até significar o Cristo em pessoa, a quem invocamos com nossas súplicas todos os dias e cuja vinda queremos apressar por nossa espera. Assim como Ele é nossa Ressurreição, pois nele nós ressuscitamos, assim também pode ser o Reino de Deus, pois nele nós reinaremos[a117] .

2817     Este [§118] pedido é o "Marana Tha", o grito do Espírito e da Esposa:            "Vem, Senhor Jesus":

Mesmo que esta oração não nos tivesse imposto um dever de pedir a vinda deste Reino, nós mesmos, por nossa iniciativa, teríamos soltado este grito, apressando-nos a ir abraçar nossas esperanças. As almas dos mártires, sob o altar, invocam o Senhor com grandes gritos: "Até quando, Senhor, tardarás a pedir contas de nosso sangue aos habitantes da terra?" (Ap 6,10). Eles devem, com efeito, obter justiça no fim dos tempos. Senhor, apressa portanto a vinda de teu reinado[a119] .

2818     Na [§120] Oração do Senhor, trata-se principalmente da vinda final do Reinado de Deus mediante o retorno de Cristo[a121] . Mas este desejo não desvia a Igreja de sua missão neste mundo, antes a empenha ainda mais nesta missão. Pois a partir de Pentecostes a vinda do Reino é obra do Espírito do Senhor "para santificar todas as coisas, levando à plenitude a sua obra[a122] ".

2819     "O [§123] Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14,17). Os últimos tempos, que estamos vivendo, são os tempos da efusão do Espírito Santo. Trava-se, por conseguinte, um combate decisivo entre "a carne" e o Espírito[a124] :

Só um coração puro pode dizer com segurança: "Venha a nós o vosso Reino". E preciso ter aprendido com Paulo para dizer: "Portanto, que o pecado não impere mais em vosso corpo mortal" (Rm 6,12). Quem se conserva puro em suas ações, em seus pensa­mentos e em suas palavras pode dizer a Deus: "Venha o vosso Reino[a125] "

2820     Num [§126] trabalho de discernimento segundo o Espírito, devem os cristãos distinguir entre o crescimento do Reino de Deus e o progresso da cultura e da sociedade em que estão empenhados. Esta distinção não é separação. A vocação do homem para a vida eterna não suprime, antes reforça seu dever de acionar as energias e os meios recebidos do Criador para servir neste mundo à justiça e à paz[a127] 

2821     Este [§128] pedido está contido e é atendido na oração de Jesus[a129] , presente e eficaz na Eucaristia; produz seu fruto na vida nova segundo as Bem-aventuranças[a130] .

III. Seja feita a vossa Vontade assim na terra como no céu

2822     É [§131] Vontade de nosso Pai "que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2,3-4). Ele “usa de paciência, porque não quer que ninguém se perca" (2Pd [a132] 3,9). Seu mandamento, que resume todos os outros, e que nos diz toda a sua vontade, é que "nos amemos uns aos outros, como Ele nos amou[a133] ”.

2823     "Deu[§134] -nos a conhecer o mistério de sua vontade, conforme decisão prévia que lhe aprouve tomar: .. .a de em Cristo encabeçar todas as coisas... Nele, predestinados pelo propósito daquele que tudo opera segundo o conselho de sua Vontade, fomos feitos sua herança" (Ef 1,9-11). Pedimos que se realize plenamente este desígnio amoroso na terra, como já acontece no céu.

2824     No [§135] Cristo, e por sua vontade humana, a Vontade do Pai foi realizada completa e perfeitamente e uma vez por todas. Jesus disse ao entrar neste mundo: "Eis-me aqui, eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade" (Hb [a136] 10,7). Só Jesus pode dizer: “Faço sempre o que lhe agrada" (Jo 8,29). Na oração de sua agonia, ele consente totalmente com esta vontade: "Não a minha vontade mas a tua seja feita!" (Lc [a137] 22,42). É por isso que Jesus “se entregou a si mesmo por nossos pecados, segundo a vontade de Deus" (Gl 1,4). "Graças a esta vontade é que somos santifi­cados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo" (HB 10,10).

2825     Jesus[§138] , "embora fosse Filho, aprendeu, contudo, a obediên­cia pelo sofrimento" (Hb 5,8). Com maior razão, nós, criatu­ras e pecadores, que nos tornamos nele filhos adotivos, pedi­mos ao nosso Pai que una nossa vontade à de seu Filho para realizar sua Vontade, seu plano de salvação para a vida do mundo. Somos radicalmente incapazes de fazê-lo; mas, uni­dos a Jesus e com a força de seu Espírito Santo, podemos entregar-lhe nossa vontade e decidir-nos a escolher o que seu Filho sempre escolheu: fazer o que agrada ao Pai[a139] .

Aderindo a Cristo, podemos tornar-nos um só espírito com ele, e com isso realizar sua Vontade; dessa forma ela será cumprida perfeitamente na terra como no céu[a140] .

Considerai como Jesus Cristo nos ensina a ser humildes, ao fazer-nos ver que nossa virtude não depende só de nosso traba­lho, mas da graça de Deus. Ele ordena aqui, a cada fiel que reza, que o faça universalmente, isto é, por toda a terra. Pois não diz "seja feita a vossa vontade" em mim ou em vós, mas em toda a terra", a fim de que dela seja banido o erro, nela reine a verdade, o vício seja destruído, a virtude floresça nova­mente, e que a terra não mais seja diferente do céu[a141] .

2826     Pela oração é que podemos "discernir qual é a vontade de Deus[a142] " e obter "a perseverança para cumpri[a143] -la". Jesus nos ensina que entramos no Reino dos céus não por palavras, mas praticando a vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt 7,21).

2827     "Se [§144] alguém faz a vontade de Deus, a este Deus escuta" (Jo [a145] 9,31). Tal é a força da oração da Igreja em Nome de seu Senhor, sobretudo na Eucaristia; é comunhão de intercessão com a Santíssima Mãe de Deus [a146] e com todos os santos que foram "agradáveis" ao Senhor por não terem querido fazer senão a sua Vontade:

Podemos [§147] ainda, sem ferir a verdade, traduzir estas palavras: “Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu" por estas: na Igreja, como em nosso Senhor, Jesus Cristo; na Esposa que Ele desposou, como no Esposo que realizou a Vontade do Pai[a148] .

IV. O pão nosso de cada dia nos dai hoje

2828     "Dai[§149] -nos": é bela a confiança dos filhos que tudo esperam de seu Pai. "Ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons  e cair chuva sobre justos e injustos" (Mt 5,45) e dá a todos os seres vivos "o alimento a seu tempo" (Sl 104,27). Jesus nos ensina a fazer este pedido, que glorifica efetivamente nosso Pai, porque reconhece como Ele é Bom para além de toda bondade.

2829     "Dai[§150] -nos" é ainda expressão da Aliança: pertencemos a Ele e Ele pertence a nós, age em nosso favor. Mas esse “nós” o reconhece também como o Pai de todos os homens e nós lhe pedimos por todos eles, em solidariedade com suas necessidades e sofrimentos.

2830     "O [§151] pão nosso." O Pai, que nos dá a vida, não pode deixar de nos dar o alimento necessário à vida, todos os bens "úteis”, materiais e espirituais. No Sermão da Montanha, Jesus insiste nesta confiança filial que coopera com a Providência de nosso Pai[a152] . Não nos exorta a nenhuma passividade[a153] , mas quer libertar-nos de toda inquietação e de toda preocupação. É esse o abandono filial dos filhos de Deus:

Aos [§154] que procuram o Reino e a justiça de Deus, ele promete  dar tudo por acréscimo. Com efeito, tudo pertence a Deus: a quem possui Deus, nada lhe falta, se ele próprio não falta a Deus[a155] .

2831     A [§156] presença dos que têm fome por falta de pão, no entan­to, revela outra profundidade deste pedido. O drama da fome no mundo convoca os cristãos que rezam em verdade para uma responsabilidade efetiva em relação a seus irmãos, tanto nos comportamentos pessoais como em sua solidariedade com a família humana. Este pedido da Oração do Senhor não pode ser isolado das parábolas do pobre Lázaro [a157] e do Juízo Final[a158] 

2832     Como [§159] o fermento na massa, a novidade do Reino deve ele­var o mundo pelo Espírito de Cristo[a160] . Deve manifestar-se pela instauração da justiça nas relações pessoais e sociais, econômicas e internacionais, sem jamais esquecer que não existe estrutura justa sem seres humanos que queiram ser justos.

2833     Trata[§161] -se de "nosso" pão, "um" para "muitos". A pobreza das bem-aventuranças é a virtude da partilha que convoca a comunicar e partilhar os bens materiais e espirituais, não por coação, mas por amor, para que a abundância de uns venha em socorro das necessidades dos outros[a162] 

2834     "Reza [§163] e trabalha[a164] ." "Rezai como se tudo dependesse de Deus e trabalhai como se tudo dependesse de vós[a165] ." Tendo realizado nosso trabalho, o alimento fica sendo um dom de nosso Pai; convém pedi-lo e disso render-lhe graças. É esse o sentido da bênção da mesa numa família cristã.

2835     Este [§166] pedido e a responsabilidade que ele implica valem tam­bém para outra fome da qual os homens padecem: "O homem não vive apenas de pão, mas de tudo aquilo que procede da boca de Deus" (Mt 4,4[a167] ), isto é, sua Palavra e seu Sopro. Os cristãos devem envidar todos os seus esforços para "anunciar o Evange­lho aos pobres". Há uma fome na terra, "não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a Palavra de Deus" (Am 8,11). Por isso, o sentido especificamente cristão desse quarto pedido refe­re-se ao Pão de Vida: a Palavra de Deus a ser acolhida na fé, o Corpo de Cristo recebido na Eucaristia[a168] .

2836     "Hoje[§169] " é também uma expressão de confiança. O no-lo ensina[a170] ; nossa presunção não podia inventá-la. Como se trata sobretudo de sua Palavra e do Corpo de seu Filho, este "hoje não é só o de nosso tempo mortal: é o Hoje de Deus:

Se recebes o pão cada dia, cada dia é para ti hoje. Se Cristo es ao teu dispor hoje, todos os dias Ele ressuscita para ti. Como dá isso? "Tu és meu filho, eu hoje te gerei" (Sl 2,7). Hoje, isto é, quando Cristo ressuscita[a171] .

2837     "De [§172] cada dia." Esta palavra, "epiousios" (pronuncie: epiússios), não é usada em nenhum outro lugar no Novo Testamento. Tomada em um sentido temporal, é uma retomada pedagógica de "hoje[a173] " para nos confirmar numa confiança “sem reserva". Tomada em sentido qualitativo, significa o necessário à vida, e, em sentido mais amplo, todo bem suficiente para a subsistência[a174] . Literalmente (epiousios: "supersubstancial"), designa diretamente o Pão de Vida, o Corpo de Cristo, "remédio de imortalidade[a175] ", sem o qual não temos a Vida em nós[a176] . Enfim, ligado ao que precede, o sentido celeste é evidente: "este Dia” é o Dia do Senhor, o do Banquete do Reino, antecipado na Eucaristia que é já o antegozo do Reino que vem. Por isso convém que a Liturgia eucarística seja celebrada "cada dia.

A Eucaristia é nosso pão cotidiano. A virtude própria deste alimento divino é uma força de união que nos vincula ao Corpo do Salvador e nos faz seus membros, a fim de que nos transformemos naquilo que recebemos... Este pão cotidiano está ainda nas leituras que ouvis cada dia na Igreja, nos hinos que são cantados e que vós cantais. Tudo isso é necessário à nossa peregrinação[a177] .

O   Pai do céu nos exorta a pedir, como filhos do céu, o Pão do céu[a178] . Cristo "é Ele mesmo o pão que, semeado na Virgem, levedado na carne, amassado na Paixão, cozido no forno do sepulcro, colocado em reserva na Igreja, levado aos altares, proporciona cada dia aos fiéis um alimento celeste[a179] ".

V. Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido

2838     Este [§180] pedido é surpreendente. Se comportasse apenas o primeiro membro da frase "Perdoai-nos as nossas ofensas" - poderia ser incluído, implicitamente, nos três primeiros pedidos da Oração do Senhor, pois o Sacrifício de Cristo é "para a remissão dos pecados". Mas, de acordo com um segundo membro da frase, nosso pedido não será atendido, a não ser que tenhamos antes correspondido a uma exigência. Nosso pedido é voltado para o futuro, nossa resposta deve tê-lo precedido; uma palavra os liga: "Como".

PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS

2839     Com [§181] audaciosa confiança, começamos a rezar a nosso Pai. Ao suplicar-lhe que seu nome seja santificado, lhe pedimos a graça de sempre mais sermos santificados. Embora revestidos da veste batismal, nós não deixamos de pecar, de desviar-nos de Deus. Agora, neste novo pedido, nós nos voltamos a ele, como o filho pródigo[a182] , e nos reconhecemos pecadores, diante dele, como o publicano[a183] . Nosso pedido começa por uma "confissão", na qual declaramos, ao mesmo tempo, nossa miséria e sua Misericórdia. Nossa esperança é firme, porque, em seu Filho, "temos a redenção, a remissão dos pecados" (Cl [a184] 1,14). Encontramos o sinal eficaz e indubitável de seu perdão nos sacramentos de sua Igreja[a185] .

2840     Ora[§186] , e isso é tremendo, este mar de misericórdia não pode penetrar em nosso coração enquanto não tivermos perdoado aos que nos ofenderam. O amor, como o Corpo de Cristo, é indivisível: não podemos amar o Deus que não vemos, se não amamos o irmão, a irmã, que vemos[a187] . Recusando-nos a per­doar nossos irmãos e irmãs, nosso coração se fecha, sua dureza o torna impermeável ao amor misericordioso do Pai confessando nosso pecado, nosso coração se abre à sua graça.

2841     Este pedido é tão importante que é o único ao qual o Senhor volta e que desenvolve no Sermão da Montanha[a188] . Esta exigência crucial do mistério da Aliança é impossível para o homem. Mas "tudo é possível a Deus" (Mt 19,26).

...ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO

2842     Este [§189] "como" não é único no ensinamento de Jesus: "Deveis ser perfeitos 'como' vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5,48); "Sede  misericordiosos 'como' vosso Pai é misericordioso" (Lc 6,36); "Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros 'como' eu vos amei" (Lc 13,34). Observar o mandamento  do Senhor é impossível se quisermos imitar, de fora, o modelo divino. Trata-se de participar, de forma vital e "do fundo do coração", na Santidade, na Misericórdia, no Amor de nosso Deus. Só o Espírito que é "nossa Vida" (Gl 5,25) pode fazer "nossos" os mesmos sentimentos que teve Cristo Jesus[a190] . Então torna-se possível a unidade do perdão, "perdoando-nos mutuamente 'como Deus em Cristo nos perdoou" (Ef 4,32).

2843     Assim [§191] adquirem vida as palavras do Senhor sobre o perdão, esse Amor que ama até o extremo do amor[a192] . A parábola do servo desumano, que coroa o ensinamento do Senhor sobre a comunhão eclesial[a193] , termina com esta palavra: "Eis como meu Pai celeste agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, o seu irmão". Com efeito, é "no fundo do coração" que tudo se faz e se desfaz. Não está em nosso não mais sentir e esquecer a ofensa; mas o coração que entrega ao Espírito Santo transforma a ferida em compaixão purifica a memória, transformando a ofensa em intercessão.

2844     A [§194] oração cristã chega até o perdão dos inimigos[a195] . Transforma o discípulo, configurando-o a seu Mestre. O perdão é um ponto alto da oração cristã; o dom da oração não pode ser recebido a não ser num coração em consonância com a com­paixão divina. O perdão dá também testemunho de que, em nosso mundo, o amor é mais forte que o pecado. Os mártires, de ontem e de hoje, dão este testemunho de Jesus. O perdão é a condição fundamental da Reconciliação [a196] dos filhos de Deus com seu Pai e dos homens entre si[a197] .

2845     Não [§198] há limite nem medida a esse perdão essencialmente divino[a199] . Tratando-se de ofensas ("pecados", segundo Lc 11,4), ou "dívidas", segundo Mt 6,12), de fato somos sempre deve­dores: "Não devais nada a ninguém, a não ser o amor mútuo" (Rm 13,8). A Comunhão da Santíssima Trindade é a fonte e o critério da verdade de toda relação[a200] . Esta comunhão é vi­vida na oração, sobretudo na Eucaristia[a201] :

Deus não aceita o sacrifício dos que fomentam a desunião; Ele ordena que se afastem do altar para primeiro se reconciliarem com seus irmãos: Deus quer ser pacificado com orações de paz. Para Deus, a mais bela obrigação é nossa paz, nossa concórdia, a uni­dade no Pai, no Filho e no Espírito Santo de todo o povo fiel[a202] .

VI.    Não nos deixeis cair em tentação

2846     Este [§203] pedido atinge a raiz do precedente, pois nossos pecados são fruto do consentimento na, tentação. Pedimos ao nosso Pai que não nos "deixe cair" nela. E difícil traduzir, com uma palavra só, a expressão grega "me eisenegkes" (pronuncie: "me eissenenkes"), que significa "não permitas entrar em[a204] ", "não nos deixeis sucumbir à tentação". "Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta" (Tg 1,13); Ele quer, ao contrário, dela nos livrar. Nós lhe pedimos que não nos deixe enveredar pelo caminho que conduz ao pecado. Estamos empenhados no combate "entre a carne e o Espírito". Este pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza.

2847     O [§205] Espírito Santo nos faz discernir entre a provação, necessária ao crescimento do homem interior [a206] em vista de uma "virtude com­provada[a207] ", e a tentação, que leva ao pecado e à morte[a208] . Devemos também discernir entre "ser tentado e consentir" na tentação. Por fim, o discernimento desmascara a mentira da tentação: aparentemente, seu objeto é "bom, sedutor para a vista, agradável” (Gn 3,6), ao passo que, na realidade, seu fruto é a morte.

Deus não quer impor o bem, ele quer seres livres... Para alguma coisa a tentação serve. Todos, com exceção de Deus, ignoram  o que nossa alma recebeu de Deus, até nós mesmos. Mas a tentação o manifesta, para nos ensinar a conhecer-nos e, com isso, descobrir-nos nossa miséria e nos obrigar a dar graças pelos bens que a tentação nos manifestou[a209] .

2848     "Não [§210] cair em tentação" envolve uma decisão do coração". Onde está o teu tesouro, aí estará também teu coração... Ninguém pode servir a dois senhores" (Mt 6,21.24). "Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também nossa conduta" (Gl 5,25). Neste consentimento" dado ao Espírito Santo, o Pai nos dá a força. "As tentações que vos acometeram tiveram medida humana. Deus é fiel; não permitirá que sejais tentados acima de vossas forças. Mas, com a tentação, Ele vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar" (1 Cor 10,13).

2849     Ora[§211] , tal combate e tal vitória não são possíveis senão na oração. Foi por sua oração que Jesus venceu o Tentador, desde o começo [a212] e no último combate de sua agonia[a213] . E a seu combate e à sua agonia que Cristo nos une neste pedido a nosso Pai. A vigilância do coração é lembrada com insistência [a214] em comunhão com a de Cristo. A vigilância consiste em "guardar o coração", e Jesus pede ao Pai que "nos guarde em seu nome[a215] ”. O Espírito Santo procura manter-nos sempre alerta para essa vigilância[a216] . Esse pedido adquire todo seu sentido dramático no contexto da tentação final de nosso combate na terra; pede a perseverança final "Eis que venho como um ladrão: feliz aquele que vigia!" (Ap 16,15).

VII.   Mas livrai-nos do mal

2850     O[§217]  último pedido ao nosso Pai aparece também na oração de Jesus: "Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno" (Jo 17,15). Diz respeito a cada um de nós pessoalmente, mas somos sempre "nós" que rezamos em comunhão com toda a Igreja e pela libertação de toda a famí­lia humana. A Oração do Senhor não cessa de abrir-nos para as dimensões da economia da salvação. Nossa interdependência no drama do pecado e da morte se transforma em solidarieda­de no Corpo de Cristo, na "comunhão dos santos[a218] ".

2851     Neste [§219] pedido, o Mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O "dia­bo" ("diabolos") é aquele que "se atira no meio" do plano de Deus e de sua "obra de salvação" realizada em Cristo.

2852     "Homicida desde o princípio, mentiroso e pai da mentira" (Jo 8,), "Satanás, sedutor de toda a terra habitada" (Ap 12,9), foi por ele que o pecado e a morte entraram no mundo e é por sua derrota definitiva que a criação toda será "liberta da corrupção do pecado e da morte[a220] ". "Nós sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca; o Gerado por Deus se preserva e o Maligno não o pode atingir. Nós sabemos que Somos de Deus e que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno" (1 Jo 5,18-19).

O Senhor, que arrancou vosso pecado e perdoou vossas faltas, tem poder para vos proteger e vos guardar contra os ardis do Diabo que Vos combate, a fim de que o inimigo, que costuma engendrar a falta, não vos surpreenda. Quem se entrega a Deus não teme o Demônio. "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm [a221] 8,31).

2853     A [§222] vitória sobre o "príncipe deste mundo[a223] " foi alcançada, de unia vez por todas, na Hora em que Jesus se entregou livremente à morte para nos dar sua vida. É o julgamento deste mundo, e o príncipe deste mundo é "lançado fora[a224] ", "Ele põe-se a perseguir a Mulher[a225] ", mas não tem poder sobre ela: a nova Eva, "cheia de graça" por obra do Espírito Santo, é preservada do pecado e da corrupção da morte (Imaculada Conceição e Assunção da Santíssima Mãe de Deus, Maria, sempre virgem). "Enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto de seus descendentes" (Ap 12,17). Por isso o Espírito e a Igreja rezam: "Vem, Senhor Jesus" (Ap 22,17.20), porque a sua Vinda nos livrará do Maligno.

2854     Ao [§226] pedir que nos livre do Maligno, pedimos igualmente que sejamos libertados de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais ele é autor ou instigador. Neste última pedido, a Igreja traz toda a miséria do mundo diante do Pai. Com a libertação dos males que oprimem a humanidade, ela implora o dom precioso da paz e a graça de esperar perseve­rantemente o retorno de Cristo. Rezando dessa forma, ela antecipa, na humildade da fé, a recapitulação de todos e de tudo naquele que "detém as chaves da Morte e do Hades" (Ap 1,18), "o Todo-Poderoso, Aquele que é, Aquele que era Aquele que vem" (Ap 1,8):[a227] 

Livrai[§228] -nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados por vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador[a229] .

A doxologia final

2855     A [§230] doxologia final: "Pois vosso é o reino, o poder e a glória" retoma, mediante inclusão, os três primeiros pedidos a nosso Pai: a glorificação de seu Nome, a vinda de seu Reino e o poder de sua Vontade salvífica. Mas esta retomada ocorre então em forma de adoração e de ação de graças, como na Liturgia celeste[a231] . O príncipe deste mundo atribuíra a si mentirosamente estes três títulos de realeza, de poder e de glória[a232] ; Cristo, o Senhor, os restitui a seu Pai e nosso Pai, até entregar-lhe o Reino, quando será definitivamente consumado o Mistério da salvação e Deus será tudo em todos[a233] .

2856     "Em [§234] seguida, terminada a oração, tu dizes 'Amém', corroborando por este Amém, que significa 'Que isto se faça'[a235]  tudo quanto está contido na oração que Deus nos ensinou[a236] ."

RESUMINDO

2857     No "Pai-Nosso", os três primeiros pedidos têm por objeto a Glória do Pai: a santificação do Nome, a vinda do Reino e o cumprimento da Vontade divina. Os quatro seguintes apresen­tam-lhe nossos desejos: esses pedidos concernem à nossa vida, para nutri-la ou para curá-la do pecado, e se relacionam com nosso combate visando à vitória do Bem sobre o Mal.

2858     Ao pedir: "Santificado seja o vosso Nome" entramos no pla­no de Deus, a santificação de seu Nome - revelado a Moisés, depois em Jesus - por nós e em nós, bem como em todas as nações e em cada ser humano.

2859     Com o segundo pedido, a Igreja tem em vista principalmente a volta de Cristo e a vinda final do Reino de Deus, rezando também pelo crescimento do Reino de Deus no "hoje" de nossas vidas.

2860     No terceiro pedido rezamos ao nosso Pai para que una nossa vontade à de seu Filho, a fim de realizar seu plano de salvação na vida do mundo.

2861     No quarto pedido, ao dizer "Dai-nos", exprimimos, em comu­nhão com nossos irmãos, nossa confiança filial em nosso Pai do céu. "Pão Nosso" designa o alimento terrestre necessário à subsistência de todos nós e significa também o Pão de Vida:

Palavra de Deus e Corpo de Cristo. É recebido no "Hoje" de Deus como o alimento indispensável, (super) essencial do Banquete do Reino que a Eucaristia antecipa.

2862     O quinto pedido implora a misericórdia de Deus para nossas ofensas, misericórdia que só pode penetrar em nosso coração se soubermos perdoar nossos inimigos, a exemplo e com a ajuda de Cristo.

2863     Ao dizer "Não nos deixeis cair em tentação", pedimos a Deus que não nos permita trilhar o caminho que conduz ao pecado. Este pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza; solicita a graça da vigilância e a perseverança final.

2864     No último pedido, "mas livrai-nos do mal", o cristão pede  a Deus, com a Igreja, que manifeste a vitória, já alcançada por Cristo, sobre o "Príncipe deste mundo", sobre Satanás, o  anjo que se opõe pessoalmente a Deus e a seu plano salvação.

2865     Pelo "Amém" final exprimimos nosso 'fiat" em relação aos sete pedidos: "Que assim seja!"

 

 

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Folha de Apresentação

 Resumindo da 1ª Parte

 

 
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Qualquer falha constatada avise-nos

Rev.2 de  dez/2003


 [a1]Cf Lc 11,2-4.

 [a2]Cf Mt 6,9-13.

 [§3]2855,2854

 [a4]Didaché, 8, 2: SC 248, 174 (Funk, Patres apostolici 1, 20).

 [a5]Constitutiones apostolicae, 7, 24, 1: SC 336, 174 (Funk, Didascalia et Constitutiones Apostolorum, 1, 410).

 [a6]Cf Rito de Comunhão [Embolismo]: Missal Romano (Livraria Editora Vaticana, 1993) p. 419.

 [a7]Cf Tt 2,13.

 [a8]Tertuliano, De oratione, 1, 6: CCL 1, 258 (PL 1, 1255).

 [a9] Tertuliano, De oratione, 10: CCL 1, 263 (PL 1, 1268-1269).

 [a10]Santo Agostinho, Epistula 130, 12, 22: CSEL 44, 66 (PL 33, 502).

 [§11] 102

 [a12]Cf Lc 24,44.

 [a13]Cf Mt 5-7.

 [§14]2541

 [a15]São Tomás de Aquino, “Summa theologiae”, II-II, q. 83, a. 9, c:Ed. Leon. 9, 201.

 [§16] 1965,1969

 [§17] 2701

 [a18]Cf Jo 17,7.

 [§19]690

 [a20]Cf Mt 6,7; 1 Rs 18,26-29.

 [a21]Didaché, 8, 3: SC 248, 174 (Funk, Patres apostolici, 1, 20).

 [a22]São João Crisóstomo, In Matthaeum, homília 19, 4: PG 57, 278.

 [§23] 1243

 [a24]Cf 1 Pd 2,1-10.

 [§25] 1350

 [§26] 1403

 [§27]  1820

 [a28]Cf Cl 3,4.

 [a29]Tertuliano, De oratione, 1, 6: CCL 1, 258 (PL 1, 1255).

 [a30]São Tomás de Aquino, Summa theologiae, II-II, 83, 9, c: Ed. Leon. 9, 201. Epistula130, 12, 22: CSEL 44, 66 (PL 33, 502).

 [§31] 270

 [a32]São Pedro Crisólogo, Sermo 71, 3: CCL 24A, 425 (PL 52, 401).

 [§33] 2828

 [a34]Cf Ef 3,12; Hb 3,6; 4,16; 10,19; 1 Jo 2,28; 3,21; 5,14.

 [§35] 239

 [a36]Tertuliano, De oratione, 3, 1: CCL 1, 258-259 (PL 1, 1257).

 [§37]240

 [a38]Cf Jo 1,1.

 [a39]Cf 1 Jo 5,1

 [§40]2665

 [a41]Cf 1 Jo 1,3.

 [a42]São Cirilo de Jerusalém “Catecheses mystagogicae”, 3, 1: SC 126, 120 (PG 33, 1088).

 [a43] São Cipriano de Cartago, De dominica Oratione, 9: CCL 3A, 94 (PL 4, 541).

 [§44] 1701

 [a45]Cf Concilio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 22,1: AAS 58 (1966) 1042.

 [a46]Santo Ambrósio, De sacramentis, 5, 19: CSEL 73, 66 (PL 16, 450).

 [§47]1428,1997

 [a48]São Cipriano de Cartago, De dominica Oratione, 11: CCL 3A, 96 (PL 4, 543).

 [a49]São João Crisóstomo, De angusta porta et in Orationem dominicam, 3: PG 51, 44.

 [a50]São Gregório de Nissa, Homiliae in Orationem dominicam, 2: Gregorii Nysseni opera, ed. W. Jaeger-H. Langerbeck, v. 72 (Leiden 1992) p. 30 (PG 44, 1148).

 [§51]2562

 [a52]São João Cassiano, Conlatio 9, 18, 1: CSEL 13, 265-266 (PL 49, 788).

 [a53]Santo Agostinho, De sermone Domini in monte, 2, 4, 16: CCL 35, 106 (PL 34, 1276).

 [§54]443

 [§55]782

 [a56]Cf Os 2,21-22; 6,1-6.

 [a57]Cf Jo 1,17.

 [§58]245,253

 [§59]787

 [a60]Cf 1 Jo 5,1; Jo 3,5.

 [a61]Cf Ef 4,4-6.

 [§62]821

 [a63]Cf Concilio Vaticano II, Decreto Unitatis redintegratio, 8: AAS 57 (1965) 98; Ibid., 22: AAS 57 (1965) 105-106.

 [a64]Cf Mt 5,23-24; 6,14-15.

 [§65]604

 [a66]Cf Concilio Vaticano II, Declaração Nostra aetate, 5: AAS 58 (1966) 743-744.

 [a67]Cf Jo 11,52.

 [§68] 326

 [a69]Santo Agostinho, De sermone Domini in monte, 2, 5, 18: CCL 35, 108-109 (PL 34, 1277).

 [a70]São Cirilo de Jerusalém, Catecheses mystagogicae, 5, 11: SC 126, 160 (PG 33, 1117).

 [§71] 1024

 [a72]Cf Gn 3.

 [a73]Cf Jr 3,19-4,1a; Lc 15,18.21.

 [a74]Cf Is 45,8; Sl 85,12.

 [a75]Cf Jo 12,32; 14,2-3; 16,28; 20,17; Ef 4,9-10; Hb 1,3; 2,13.

 [§76]1003

 [a77]Cf Ef 2,6.

 [a78]Cf Cl 3,3.

 [a79]Cf Fl 3,20; Hb 13,14.

 [a80]Carta a Diogneto, 5, 8-9: SC 33, 62-64 (Funk 1, 398).

 [a81]Cf Concilio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 22: AAS 58 (1966) 1042.

 [§82] 2627

 [a83]Cf Lc 22,15; 12,50.

 [a84]Cf 1 Cor 15,28.

 [§85]1105

 [§86] 2656-2658

 [§87] 2142-2159

 [§88]2097

 [a89]Cf Sl 111,9; Lc 1,49.

 [§90]203,432

 [§91]293,705

 [a92]281 Cf Sl 8; Is 6,3.

 [a93]Cf Sl 8,6.

 [a94]Cf Rm 3,23.

 [§95] 63

 [a96]Cf Hb 6,13.

 [a97]Cf Ex 3,14

 [a98]Cf Ex 19,5-6.

 [§99] 2143

 [a100]Cf Lv 19,2: « Sede santo, porque Eu, o Senhor, Vosso Deus, sou santo ».

 [a101]Cf Ez 20; 36

 [§102]434

 [a103]Cf Mt 1,21; Lc 1,31.

 [a104]Cf Jo 8,28; 17,8; 17,17-19.

 [a105]Cf Ez 20,39; 36,20-21.

 [a106]Cf Jo 17,6.

 [a107] Cf Fl 2,9-11.

 [§108] 2013

 [a109]São Cipriano de Cartago, Da Oração de Domingo, 12: CCL 3A, 96-97 (PL 4, 544).

 [§110] 2045

 [a111]Cf Ez 36,20-22.

 [a112]São Pedro Crisólogo, Sermo 71, 4: CCL 24A, 425 (PL 52, 402).

 [a113]Tertuliano, Da Oração , 3, 4: CCL 1, 259 (PL 1, 1259).

 [§114] 2750

 [a115]Cf Jo 14,13; 15,16; 16,24.26.

 [§116] 541,2632,560,1107

 [a117]São Cipriano de Cartago, Da Oração de Domingo, 13: CCL 3A, 97 (PL 4, 545).

 [§118] 451,2632,67

 [a119]Tertuliano, Da Oração 5, 2-4: CCL 1, 260 (PL 1, 1261-1262).

 [§120]769

 [a121]Cf Tt 2,13.

 [a122]Oração Eucarística IV: Missal Romano (Livraria Editora Vaticana 1993) p. 413.

 [§123] 2046,2516,2519

 [a124]Cf Gl 5,16-25.

 [a125]São Cirilo de Jerusalém, Catecheses mystagogicae, 5, 13: SC 126, 162 (PG 33, 1120).

 [§126] 1049

 [a127]Cf Concilio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 22: AAS 58 (1966) 1042-1044; Ibid., 32: AAS: 58 (1966) 1051; Ibid., 39: AAS 58 (1966) 1057; Ibid., 45: AAS 58 (1966) 1065-1066; Paulo VI, Exortação apostólica Evangelii nuntiandi, 31: AAS 68 (1976) 26-27.

 [§128] 2746

 [a129]Cf Jo 17,17-20.

 [a130]Cf Mt 5,13-16; 6,24; 7,12-13

 [§131] 851,2196

 [a132]Cf Mt 18,14.

 [a133]Cf Jo 13,34; 1 Jo 3; 4; Lc 10,25-37.

 [§134] 59

 [§135] 475,612

 [a136]Cf Sl 40,8-9.

 [a137]Cf Jo 4,34; 5,30; 6,38.

 [§138] 615

 [a139]Cf Jo 8,29.

 [a140]Orígenes, De oratione, 26, 3: GCS 3, 361 (PG 11, 501).

 [a141]São João Crisóstomo, In Matthaeum homilia 19, 5: PG 57, 280.

 [a142]Cf Rm 12,2; Ef 5,17.

 [a143]Cf Hb 10,36.

 [§144] 2611

 [a145]Cf 1 Jo 5,14.

 [a146]Cf Lc 1,38.49.

 [§147]796

 [a148]Santo Agostinho, De sermone Domini in monte, 2, 6, 24: CCL 35, 113 (PL 34, 1279).

 [§149] 2778

 [§150] 1939

 [§151] 2633

 [a152] Cf Mt 6,25-34.

 [a153]Cf 2 Ts 3,6-13.

 [§154] 227

 [a155]São Cipriano de Cartagine, De dominica Oratione, 21: CCL 3A, 103 (PL 4, 551).

 [§156] 1038

 [a157]Cf Lc 16,19-31.

 [a158]Cf Mt 25,31-46.

 [§159] 1928

 [a160]Cf Concilio Vaticano II, Decreto Apostolicam actuositatem, 5: AAS 58 (1966) 842.

 [§161]   2790,2546

 [a162]Cf 2 Cor 8,1-15.

 [§163] 2428

 [a164]Da tradição beneditina. Cf São Bento, Regra, 20: CSEL 75, 75-76 (PL 66, 479-480); Ibid., 48: CSEL 75, 114-119 (PL 66, 703-704).

 [a165]Atribuido a santo Inácio de Loiola; cf Pedro da Ribadeneira, Tractatus de modo gubernandi sancti Ignatii, c. 6, 14: MHSI 85, 631.

 [§166]2443,1384

 [a167]Cf Dt 8,3.

 [a168]Cf Jo 6,26-58.

 [§169] 1165

 [a170]Cf Mt 6,34; Ex 16,19

 [a171]Santo Ambrósio, De sacramentis, 5, 26: CSEL 73, 70 (PL 16, 453).

 [§172]2659,2633,1405,1166,1389

 [a173]Cf Ex 16,19-21.

 [a174]Cf 1 Tm 6,8.

 [a175]Santo Inácio de Antioquia, Epistula ad Ephesios, 20, 2: SC 10bis, 76 (Funk 1, 230).

 [a176]Cf Jo 6,53-56.

 [a177]Santo Agostinho, Sermo 57, 7, 7: PL 38, 389-390

 [a178]Cf Jo 6,51.

 [a179]São Pedro Crisólogo, Sermo 67, 7: CCL 24A, 404-405 (PL 52, 402).

 [§180] 1425,1933,2631

 [§181] 1425,1439,1422

 [a182]Cf Lc 15,11-32.

 [a183]Cf Lc 18,13.

 [a184]Cf Ef 1,7.

 [a185]Cf Mt 26,28; Jo 20,23.

 [§186]1864

 [a187]Cf 1 Jo 4,20.

 [a188]Cf Mt 5,23-34; 6,14-15; Mc 11,25.

 [§189]521

 [a190]Cf Fl 2,1.5.

 [§191] 368

 [a192]Cf Jo 13,1

 [a193]Cf Mt 18,23-35.

 [§194] 2262

 [a195]Cf Mt 5,43-44.

 [a196]Cf 2 Cor 5,18-21.

 [a197]Cf João Paulo II, Carta Encíclica Dives in misericordia, 14: AAS 72 (1980) 1221-1228.

 [§198] 1441

 [a199]Cf Mt 18,21-22; Lc 17,3-4.

 [a200]Cf 1 Jo 3,19-24.

 [a201]Cf Mt 5,23-24.

 [a202]São Cipriano de Cartago, Da Oração de Domingo, 23: CCL 3A, 105 (PL 4, 535-536).

 [§203]164,2516

 [a204]Cf Mt 26,41.

 [§205]2284

 [a206]Cf Lc 8,13-15; At 14,22; 2 Tm 3,12.

 [a207]Cf Rm 5,3-5.

 [a208]Cf Tg 1,14-15.

 [a209]Orígenes, De oratione, 29, 15 e 17: GCS 3, 390-391 (PG 11, 541-544).

 [§210]1808

 [§211]540,612,2612,162

 [a212]Cf Mt 4,1-11.

 [a213]Cf Mt 26,36-44.

 [a214]Cf Mc 13,9.23.33-37; 14,38; Lc 12,35-40.

 [a215]Cf Jo 17,11.

 [a216]Cf 1 Cor 16,13; Cl 4,2; 1 Ts 5,6; 1 Pd 5,8.

 [§217]309

 [a218]Cf João Paulo II, Exortação apostólica Reconciliatio et paenitentia, 16: AAS 77

 [§219]391

 [a220]Oração Eucarística IV: Missal Romano (Livraria Editora Vaticana 1993) p. 417.

 [a221]Santo Ambrósio, De sacramentis, 5, 30: CSEL 73, 71-72 (PL 16, 454).

 [§222] 677,490,972

 [a223]Cf Jo 14,30

 [a224]Cf Jo 12,31; Ap 12,10.

 [a225]Cf Ap 12,13-16.

 [§226]2632,

 [a227]Cf Ap 1,4.

 [§228]1041

 [a229]Rito de Comunhão [Embolismo]: Missal Romano (Livraria Editora Vaticana 1993) p. 419.

 [§230]2760

 [a231] Cf Ap 1,6; 4,11; 5,13.

 [a232]Cf Lc 4,5-6.

 [a233]Cf 1 Cor 15,24-28.

 [§234]1061-1065

 [a235]Cf Lc 1,38

 [a236]) São Cirilo de Jerusalém, Catecheses mystagogicae, 5, 18: SC 126, 168 (PG 33, 1124