Catecismo da Igreja Católica

PRIMEIRA PARTE - SEGUNDA SEÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ - OS SÍMBOLOS DA FÉ

CAPITULO II - ARTIGO 4

"JESUS CRISTO PADECEU SOB PÔNCIO PILATOS,

FOI CRUCIFICADO,

MORTO E SEPULTADO"

571         O mistério pascal da Cruz e da Ressurreição de Cristo está  no centro da Boa Nova que os apóstolos e a Igreja, na esteira deles, devem anunciar ao mundo. O projeto salvador de Deus realizou-se "uma vez por todas" (Hb 9,26) pela morte redentora de seu Filho, Jesus Cristo.

(Parágrafo relacionado: 1067)

572         A Igreja permanece fiel à "interpretação de todas as Escrituras" dada por Jesus mesmo antes e também depois de sua Páscoa[a1] . "Não era preciso que Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?" (Lc 24,26). Os sofrimentos de Jesus tomaram sua forma histórica concreta pelo fato de ele ter sido "rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas" (Mc 8,31), que o "entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado" (Mt 20,19).

(Parágrafo relacionado: 599)

573         A fé pode, pois, tentar perscrutar as circunstâncias da Morte de Jesus, transmitidas fielmente pelos Evangelhos [a2] e iluminadas por outras fontes históricas, para melhor compreender o sentido da Redenção.

(Parágrafo relacionado:  158)

PARÁGRAFO I - JESUS E ISRAEL

574         Desde o início do ministério público de Jesus, fariseus e adeptos de Herodes, com sacerdotes e escribas, mancomunaram-se para matá-lo[a3] . Por causa de certos atos por ele praticados (expulsão de demônios[a4] , perdão dos pecados[a5] , curas em dia de sábado [a6] interpretação original dos preceitos de pureza da Lei[a7] , de pureza da Lei, familiaridade com os publicanos e com pecadores públicos[a8] ), Jesus pareceu a alguns mal-intencionados, suspeito de possessão demoníaca[a9] . Ele é acusado de blasfêmia [a10] e de falso profetismo[a11] , crimes religiosos que a Lei punia com a pena de morte sob forma de apedrejamento[a12] .

(Parágrafos relacionados: 530,591)

575         Muitos atos e palavras de Jesus constituíram, portanto, um sinal de contradição[a13] " para as autoridades religiosas de Jerusalém – que o Evangelho de São João com freqüência denomina "os judeus[a14] " – mas ainda do que para o comum do povo de Deus[a15] . Sem dúvida, suas relações com os fariseus não foram exclusivamente polêmicas. São os fariseus que o previnem do perigo que corre[a16] . Jesus elogia alguns deles, como o escriba de Mc 12,34, e repetidas vezes come com fariseus[a17] . Jesus confirma doutrinas compartilhadas por essa elite religiosa do povo de Deus: a ressurreição dos mortos[a18] , as formas de piedade (esmola, jejum e oração[a19] ) e o hábito de dirigir-se a Deus como Pai, a centralidade do mandamento do amor a Deus e ao próximo[a20] .

(Parágrafo relacionado:  993)

576         Aos olhos de muitos, em Israel, Jesus parece agir contra as instituições essenciais do Povo eleito:

ü      a submissão à Lei na integralidade de seus preceitos escritos e, para os fariseus, na interpretação da tradição oral;

ü      a centralidade do Templo de Jerusalém como lugar santo, em que Deus habita de forma privilegiada;

ü      a fé no Deus único, cuja glória nenhum homem pode compartilhar.

I. Jesus e a Lei

577         Jesus fez uma advertência solene no começo do Sermão da Montanha, em que apresentou a Lei dada por Deus no Sinai por ocasião da Primeira Aliança à luz da graça da Nova Aliança:

Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento, porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será  omitido um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado. Aquele, portanto, que violar um só destes menores mandamentos e ensinar os homens a fazerem o mesmo ser  chamado o menor no Reino dos Céus; aquele, porém, que os praticar e os ensinar, esse será  chamado grande no Reino dos Céus (Mt 5,17-19).

(Parágrafos relacionados: 1965,1967)

578         Jesus, o Messias de Israel, portanto o maior no Reino dos Céus, tinha a obrigação de cumprir a Lei, executando-a em sua integridade até seus mínimos preceitos, segundo suas próprias palavras. Ele é o único que conseguiu cumpri-la com perfeição[a21] . Os judeus, conforme sua própria confissão, nunca conseguiram cumprir a Lei em sua integridade sem violar-lhe o mínimo preceito[a22] . Esta é a razão pela qual, em cada festa anual da Expiação, os filhos de Israel pedem a Deus perdão por suas transgressões da Lei. Com efeito, a Lei constitui um todo e, como recorda São Tiago, "aquele que guarda toda a Lei, mas desobedece a um só ponto, torna- se culpado da transgressão da Lei inteira" (Tg [a23] 2,10).

(Parágrafo relacionado:  1953)

579         Esse princípio da integralidade da observância da Lei, não somente em sua letra, mas em seu espírito, era caro aos fariseus. Tomando-o extensivo a Israel, levaram muitos judeus do tempo de Jesus a um zelo religioso extremo[a24] . Este zelo extremo, se não quisesse envolver-se em uma casuística "hipócrita[a25] ", só podia preparar o povo para essa intervenção inaudita de Deus que será  o cumprimento perfeito da Lei exclusivamente pelo Justo em lugar de todos os pecadores[a26] .

580         O cumprimento perfeito da Lei só podia ser obra do Legislador divino nascido sujeito à Lei na pessoa do Filho[a27] . Em Jesus, a Lei não aparece mais gravada nas tábuas de pedra, mas "no fundo do coração" (Jr 31,33) do Servo, o qual, pelo fato de  "trazer fielmente o direito" (Is 42,3), se tornou "a Aliança do povo" (Is 42,6). Jesus cumpriu a Lei até o ponto de tomar sobre si "a maldição da Lei[a28] ” in quod illi incurrerant "qui non permanent in omnibus, quae scripta sunt, ut faciant ea", na qual incorrerreram aqueles que "não praticam todos os preceitos da mesma[a29] , pois “a morte de Cristo aconteceu para resgatar as transgressões cometidas no Regime da Primeira Aliança" (Hb 9, 15).

(Parágrafo relacionado:  527)

581         Jesus apareceu aos olhos dos judeus e de seus chefes espirituais como um "rabi[a30] ". Com freqüência argumentou na linha da interpretação rabínica da Lei[a31] . Mas ao mesmo tempo Jesus só podia chocar os doutores da Lei, já que não se contentava em propor sua interpretação em pé de igualdade com as deles, senão que "ensinava como alguém que tem autoridade, e não como os escribas" (Mt 7,28-29). Nele, é a mesma Palavra de Deus que tinha ressoado no Sinai para a Moisés a Lei escrita, que se faz ouvir novamente sobre o Monte Bem-aventuranças[a32] . Ela não abole a Lei, mas a cumpre, fornecendo de modo divino a interpretação última dela: "Aprendestes o que foi dito aos antigos... eu, porém, vos digo" (Mt 5,33-34). Com esta mesma autoridade divina, Ele desabona certas "tradições humanas[a33] " dos fariseus que "invalidam a Palavra de Deus[a34] ".

(Parágrafo relacionado:  2054)

582         Indo mais longe, Jesus cumpre a Lei a respeito da pureza dos alimentos, tão importante na vida diária judaica, revelando o sentido “pedagógico" dela [a35] por uma interpretação divina: "Tudo o que de fora, entrando no homem, não pode torná-lo impuro..." assim declarava puros todos os alimentos. "O que sai do homem, é isto que o torna impuro. Pois é de dentro, do coração dos homens, que as intenções malignas" (Mc 7,18-21). Ao dar com autoridade divina a interpretação definitiva da Lei, Jesus acabou confrontando-se com certos doutores da Lei que não aceitavam a interpretação da Lei dada por Jesus, apesar de garantida pelos sinais divinos que a acompanhavam[a36] . Isto vale particularmente para a questão do sábado: Jesus lembra, muitas vezes com argumentos rabínicos[a37] , que o descanso do  sábado não é lesado pelo serviço de Deus [a38] ou do próximo[a39] , executado por meio das curas operadas por Ele.

(Parágrafos relacionados: 368,548,2173)

II. Jesus e o Templo

583         Jesus, como os profetas anteriores a Ele, teve pelo Templo de Jerusalém o mais profundo respeito. Nele foi apresentado por José e Maria quarenta dias após seu nascimento[a40] . Com doze anos, decide ficar no Templo para lembrar a seus pais que deve dedicar-se às coisas de seu Pai[a41] . Durante os anos de sua vida oculta, subiu ao Templo a cada ano, no mínimo por ocasião da Páscoa[a42] ; até seu ministério público foi ritmado por suas peregrinações a Jerusalém para as grandes festas judaicas[a43] 

(Parágrafos relacionados: 529,534)

584         Jesus subiu ao Templo como lugar privilegiado de encontro com Deus. O Templo é para ele a morada de seu Pai, uma casa de oração, e se indigna pelo fato de seu  átrio externo ter-se tornado um lugar de comércio[a44] . Se expulsa os vendilhões do Templo, é por amor zeloso a seu Pai. "Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio. Seus discípulos lembram-se do que está escrito: 'O zelo por tua casa me devorará' (Sl 69)” (Jo 2,16-17). Depois de sua Ressurreição, os apóstolos mantiveram um respeito religioso pelo Templo[a45] .

(Parágrafo relacionado: 2599)

585         Contudo, no limiar de sua Paixão, Jesus anunciou a ruína desse esplêndido edifício, do qual não restará  mais pedra sobre  pedra[a46] . Há  aqui o anúncio de um sinal dos tempos finais que vão abrir-se com sua própria Páscoa[a47] . Esta profecia, porém, pode ser relatada de modo deformado por testemunhas falsas no momento do interrogatório de Jesus diante do sumo sacerdote[a48] , sendo-lhe atribuída como injúria quando ele foi pregado à cruz[a49] .

586         Longe de ter sido hostil ao Templo[a50] , local em que aliás, ministrou o essencial de seu ensinamento[a51] , Jesus fez questão de pagar o imposto do Templo, associando a este ato Pedro[a52] , que acabara de estabelecer como fundamento para sua Igreja futura[a53] . Mais ainda: identificou-se com o Templo ao apresentar-se como a morada definitiva de Deus entre os homens[a54] . Eis por que sua morte corporal decretada [a55] anuncia a destruição do Templo, (destruição) que manifestará a entrada em uma nova era História da Salvação: "Vem a hora em que nem sobre esta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai" (Jo [a56] 4,21) 

(Parágrafos relacionados: 797,1179)

III. Jesus e a fé de Israel no Deus Único e Salvador

587         Se a Lei e o Templo de Jerusalém puderam ser ocasião de "contradição[a57] ” da parte de Jesus para as autoridades religiosas de Israel, foi o papel dele na redenção dos pecados, obra divina por excelência, que constituiu para elas a verdadeira pedra de escândalo[a58] .

588         Jesus escandalizou os fariseus ao comer com os publicanos e os pecadores [a59] com a mesma familiaridade com que comia com eles[a60] . Contra os que, dentre os fariseus, estavam "convencidos de serem justos e desprezavam os outros" (Lc 18,9[a61] ), Jesus afirmou: "Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento" (Lc 5,32). Foi mais longe ao proclamar diante dos fariseus que, sendo o pecado universal[a62] , os que pretendem não necessitar de salvação estão cegos para sua própria cegueira[a63] .

(Parágrafos Relacionados 545)

589         Jesus escandalizou sobretudo porque identificou sua conduta misericordiosa para com os pecadores com a atitude do próprio Deus para com eles[a64] . Chegou ao ponto de dar a entender que, partilhando a mesa dos pecadores[a65] , os estava admitindo ao banquete messiânico[a66] . Mas foi particularmente ao perdoar os pecados que Jesus deixou as autoridades religiosas de Israel diante de um dilema. Foi isto que disseram com razão, cheios de espanto: Só Deus pode perdoar os pecados" (Mc 2,7). Ao perdoar os pecados, ou Jesus blasfema - pois é um homem que se iguala a Deus [a67] -, ou diz a verdade, e sua pessoa torna presente e revela o Nome de Deus[a68] .

(Parágrafos Relacionados 431,1441,432)

590         Somente a identidade divina da pessoa de Jesus pode justificar uma exigência tão absoluta quanto esta: "Aquele que não está  comigo está  contra mim" (Mt 12,30); assim, também, quando diz que nele está  "mais do que Jonas... mais do que Salomão" (Mt 12,41-42), "mais do que o Templo[a69] "; ou quando lembra, referindo-se a si mesmo, que Davi chamou o Messias de seu Senhor[a70] , ao a firmar "Antes que Abraão fosse, Eu Sou" (Jo 8,58); e até "Eu e o Pai somos um" (Jo 10,30).

(Parágrafo Relacionado 253)

591         Jesus pediu às autoridades religiosas de Jerusalém que cressem nele por causa das obras de seu Pai que ele realiza[a71] . Tal ato de fé tinha de passar, no entanto, por uma misteriosa morte de si mesmo em vista de um novo "nascimento do alto[a72] ", sob o impulso da graça divina[a73] . Essa exigência de conversão ante um cumprimento tão surpreendente das promessas [a74] permite compreender o trágico desprezo do sinédrio ao estimar que Jesus merecia a morte como blasfemo[a75] . Seus membros agiam assim por "ignorância[a76] " e ao mesmo tempo pelo “endurecimento[a77] " da "incredulidade[a78] ".

(Parágrafos Relacionados 526,574)

RESUMINDO

592         Jesus não aboliu a Lei do Sinai, mas a cumpriu [a79] com tal perfeição [a80] que revela seu sentido último [a81] e resgata as transgressões contra ela[a82] .

593         Jesus venerou o Templo, subindo a ele nas festas judaicas de peregrinação, e amou com amor cioso esta morada de Deus entre os homens. O Templo prefigura seu próprio mistério. Se anuncia a destruição do Templo, é como manifestação de sua própria morte e da entrada em uma nova era da História da Salvação, na qual seu Corpo será  o Templo definitivo.

594         Jesus realizou atos como o perdão dos pecados – que o manifestaram como o próprio Deus Salvador[a83] . Alguns judeus, não reconhecendo o Deus feito homem [a84] e vendo nele um homem que se faz Deus[a85] ", julgaram-no blasfemo.

PARÁGRAFO 2

JESUS MORREU CRUCIFICADO

I. O processo de Jesus

DISSENSÕES ENTRE AS AUTORIDADES JUDAICAS EM RELAÇÃO A JESUS

595         Entre as autoridades religiosas de Jerusalém não houve somente o fariseu Nicodemos [a86] ou o ilustre José de Arimatéia como discípulos secretos de Jesus[a87] , mas durante muito tempo foram produzidas dissensões acerca de Jesus[a88] , a ponto de, às vésperas de sua Paixão São João poder dizer deles que "um bom número deles creu nele”, ainda que de forma bem imperfeita (Jo 12,42). Isso não tem nada  de  surpreendente se levarmos em conta que no dia seguinte a Pentecostes "uma multidão de sacerdotes obedecia à fé" (At 6,7) e que "alguns do partido dos fariseus haviam abraçado a fé" (At 15,5), a ponto de São Tiago poder dizer a São Paulo que "zelosos partidários da Lei, milhares de judeus abraçaram a fé" (At 21,20).

596         As autoridades religiosas de Jerusalém não foram unânimes na conduta a adotar em relação a Jesus[a89] . Os fariseus ameaçaram de excomunhão os que o seguissem[a90] . Aos que temiam que "todos crerão em Jesus e os romanos virão e destruirão nosso Lugar Santo e a nação" (Jo 11,48), o Sumo Sacerdote Caifás propôs, profetizando: "Não compreendeis que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda?" (Jo 11,50). O Sinédrio, depois de declarar Jesus "passível de morte[a91] " na qualidade deblasfemador, mas, tendo perdido o direito de pô-lo à morte[a92] , entrega Jesus aos romanos, acusando-o de revolta política[a93] , o que colocará  Jesus no mesmo pé que Barrabás, acusado de "sedição" (Lc 23,19). São também ameaças políticas o que os chefes dos sacerdotes fazem a Pilatos para que condene Jesus à morte[a94] .

(Parágrafo Relacionado 1753)

OS JUDEUS NÃO SÃO COLETIVAMENTE RESPONSÁVEIS PELA MORTE DE JESUS

597         Levando em conta a complexidade histórica do processo de Jesus manifestada nos relatos evangélicos, e qualquer que possa ser o pecado pessoal dos atores do processo (Judas, o Sinédrio, Pilatos), conhecido só de Deus, não se pode atribuirá responsabilidade ao conjunto dos judeus de Jerusalém, a despeito dos gritos de uma multidão manipulada [a95] e das censuras globais contidas nos apelos à conversão depois de Pentecostes[a96] . O próprio Jesus, ao perdoar na cruz[a97] , e Pedro, depois dele, apelaram para a "ignorância[a98] " dos judeus de Jerusalém e até dos chefes deles. Menos ainda pode-se, a partir do grito do povo: "Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos" (Mt 27,25), que significa uma fórmula de ratificação[a99] , estender a responsabilidade aos outros judeus no espaço e no tempo.

(Parágrafo Relacionado 1735)

Por isso a Igreja declarou muito oportunamente no Concílio Vaticano II: "Aquilo que se perpetrou em sua Paixão não pode indistintamente ser imputado a todos os judeus que viviam então, nem aos de hoje... Os judeus não devem ser apresentados nem como condenados por Deus nem como amaldiçoados, como se isto decorresse das Sagradas Escrituras[a100] ".

(Parágrafo Relacionado 839)

TODOS OS PECADORES FORAM OS AUTORES DA PAIXÃO DE CRISTO

598         No magistério de sua fé e no testemunho de seus santos a Igreja nunca esqueceu que "foram os pecadores como tais os autores e como que os instrumentos de todos os sofrimentos por que passou o Divino Redentor[a101] ". Levando em conta que nossos pecados atingem o próprio Cristo[a102] , a Igreja não hesita em imputar aos cristãos a responsabilidade mais grave no suplício de Jesus, responsabilidade que com excessiva freqüência estes debitaram quase exclusivamente aos judeus.

Devemos considerar como culpados desta falta horrível os que continuam a reincidir em pecados. Já  que são os nossos crimes que  arrastaram Nosso Senhor Jesus Cristo ao suplício da cruz, com certeza os que mergulham nas desordens e no mal “de sua parte crucificam de novo o Filho de Deus e o expõem as injúrias" (Hb 6,6). E é imperioso reconhecer que nosso próprio crime, neste caso é maior do que o dos judeus. Pois estes, como testemunha o Apóstolo, "se tivessem conhecido o Rei da glória, nunca o teriam crucificado" (1Cor 2,8). Nós, porém, fazemos profissão de conhecê-lo. E, quando o negamos por nossos atos, de certo modo levantamos contra Ele nossas mãos homicidas[a103] . Os demônios, então, não foram eles que o crucificaram; és tu que com eles o crucificaste e continuas a crucificá-lo, deleitando-te nos vícios e. nos pecados[a104] .

(Parágrafo Relacionado 1851)

II.  A morte redentora de Cristo no desígnio divino de salvação

"JESUS ENTREGUE SEGUNDO O DESÍGNIO BEM DETERMINADO DE DEUS”

599         A morte violenta de Jesus não foi o resultado do acaso um conjunto infeliz de circunstâncias. Ela faz parte do mistério do projeto de Deus, como explica São Pedro aos judeus de Jerusalém já  em seu primeiro discurso de Pentecostes: “Ele foi entregue segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus" (At 2,23). Esta linguagem bíblica não significa que os que "entregaram Jesus[a105] " tenham sido apenas executores passivos de um roteiro escrito de antemão por Deus.

(Parágrafo Relacionado 517)

600         Para Deus, todos os momentos do tempo estão presentes em sua atualidade. Ele estabelece, portanto, seu projeto eterno de "predestinação" incluindo nele a resposta livre de cada homem à sua graça: "De fato, contra teu servo Jesus, a quem ungiste, verdadeiramente coligaram-se, nesta cidade, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações pagãs e os povos de Israel[a106] , para executar tudo o que, em teu poder e sabedoria, havias predeterminado" (At 4,27-28). Deus permitiu os atos nascidos de sua cegueira[a107] , a fim de realizar seu projeto de salvação[a108] .

(Parágrafo Relacionado 312)

"MORREU POR NOSSOS PECADOS SEGUNDO AS ESCRITURAS"

601         Este projeto divino de salvação mediante a morte do "Servo, o Justo[a109] " havia sido anunciado antecipadamente na Escritura como um mistério de redenção universal, isto é, de resgate que liberta os homens da escravidão do pecado[a110] . São Paulo, em sua confissão de fé que diz ter "recebido secundum Scripturas[a111] ", professa que "Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras[a112] . A morte redentora de Jesus cumpre em particular a profecia do Servo Sofredor[a113] . Jesus mesmo apresentou o sentido de sua vida e de sua morte à luz do Servo Sofredor[a114] . Após a sua Ressurreição, ele deu esta interpretação das Escrituras aos discípulos de Emaús[a115] , e depois aos próprios apóstolos[a116] .

(Parágrafos Relacionados 652,713)

"AQUELE QUE NÃO CONHECERA O PECADO, DEUS O FEZ PECADO POR CAUSA DE NÓS"

602         Por isso, São Pedro pode formular assim a fé apostólica no projeto divino de salvação: "Fostes resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeitos e sem mácula, conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos tempos, por causa de vós" (1Pd 1,18-20). Os pecados dos homens, depois do pecado original, são sancionados pela morte[a117] . Ao enviar seu próprio Filho na condição de escravo[a118] , condição de uma humanidade decaída e fadada à morte por causa do pecado[a119] . "Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus" (2Cor 5,21).

(Parágrafos Relacionados 400,519)

603         Jesus não conheceu a reprovação, como se Ele mesmo tivesse pecado[a120] . Mas, no amor redentor que sempre o unia ao Pai[a121] , nos assumiu na perdição de nosso pecado em relação a Deus a ponto de poder dizer em nosso nome, na cruz: "Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?" (Mc 15,34[a122] ). Tendo-o tornado solidário de nós, pecadores, "Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós" (Rm 8,32), a fim de que fôssemos "reconciliados com Ele pela morte de seu Filho” (Rm 5,10).

(Parágrafo Relacionado 2572)

DEUS TEM A INICIATIVA DO AMOR REDENTOR UNIVERSAL

604         Ao entregar seu Filho por nossos pecados, Deus manifesta que seu desígnio sobre nós é um desígnio de amor benevolente que antecede a qualquer mérito nosso: "Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados" (1Jo 4,10[a123] ). "Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores" (Rm 5,8).

(Parágrafos Relacionados 211,2009,1925)

605         Este amor não exclui ninguém. Jesus lembrou-o na conclusão da parábola da ovelha perdida: "Assim, também, não é da vontade de vosso Pai, que está  nos céus, que um destes pequeninos se perca" (Mt 18,14). Afirma ele "dar sua vida em resgate por muitos" (Mt 20,28); este último termo não é restritivo: opõe o conjunto da humanidade à única pessoa do Redentor que se entrega para salvá-la[a124] . A Igreja, no seguimento dos apóstolos[a125] , ensina que Cristo morreu por todos os homens sem exceção: "Não há, não houve e não haverá  nenhum homem pelo qual Cristo não tenha sofrido[a126] ".

(Parágrafos Relacionados 402,634,2793)

III. Cristo ofereceu-se a seu Pai por nossos pecados

TODA A VIDA DE CRISTO É OFERENDA AO PAI

606         O Filho de Deus, que "desceu do Céu não para fazer sua vontade, mas a do Pai que o enviou[a127] ",  "diz ao entrar no mundo:.. Eis-me aqui... eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade... Graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas" (Hb 10,5-10). Desde o primeiro instante de sua Encarnação, o Filho desposa o desígnio de salvação divino em sua missão redentora: "Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar sua obra" (Jo 4,34). O sacrifício de Jesus "pelos pecados do mundo inteiro" (1Jo 2,2) é a expressão de sua comunhão de amor ao Pai: "O Pai me ama porque dou a minha vida" (Jo 10,17). "O mundo saberá  que amo o Pai e faço como o Pai me ordenou" (Jo 14,31).

(Parágrafos Relacionados 517,536)

607         Este desejo de desposar o desígnio de amor redentor de seu Pai anima toda a vida de Jesus [a128] pois sua Paixão redentora é a razão de ser de sua Encarnação: "Pai, salva-me desta hora. Mas foi precisamente para esta hora que eu vim" (Jo 12,27). "Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu?" (Jo 18,11). E ainda na cruz, antes que tudo fosse "consumado" (Jo 19,30), ele disse: "Tenho sede" (Jo 19,28).

(Parágrafo Relacionado 457)

"O CORDEIRO QUE TIRA O PECADO DO MUNDO"

608         Depois de ter aceitado dar-lhe o Batismo junto com os pecadores[a129] , João Batista viu e mostrou em Jesus o "Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo[a130] ". Manifesta, assim que Jesus é ao mesmo tempo o Servo Sofredor que se deixa levar silencioso ao matadouro [a131] e carrega o pecado das multidões [a132] e o cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel por ocasião da primeira Páscoa [a133] Toda a vida de Cristo exprime sua missão: "Servir e dar sua vida em resgate por muitos[a134] ”.

(Parágrafos Relacionados 523,517)

JESUS ABRAÇA LIVREMENTE O AMOR REDENTOR DO PAI

609         Ao abraçar em seu coração humano o amor do Pai pelos homens, Jesus "amou-os até o fim" (Jo 13,11), "pois ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Assim, no sofrimento e na morte, sua humanidade se tornou o instrumento livre e perfeito de seu amor divino, que quer a salvação dos homens[a135] . Com efeito, aceitou livremente sua Paixão e sua Morte por amor de seu Pai e dos homens, que o Pai quer salvar: "Ninguém me tira a vida, mas eu a dou livremente" (Jo 10,18). Daí a liberdade soberana do Filho de Deus quando Ele mesmo vai ao encontro da morte[a136] .

(Parágrafos Relacionados 478,515,272,539)

NA CEIA, JESUS ANTECIPOU A OFERTA LIVRE DE SUA VIDA

610         Jesus expressou de modo supremo a oferta livre de si mesmo na refeição que tomou com os Doze Apóstolos [a137] na "noite em que foi entregue" (1 Cor 11,23). Na véspera de sua Paixão, quando ainda estava em liberdade, Jesus fez desta Última Ceia com seus apóstolos o memorial de sua oferta voluntária ao Pai[a138] , pela salvação dos homens: "Isto é o meu corpo que é dado por vós” (Lc 22,19). "Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados" (Mt 26,28).

(Parágrafos Relacionados 766,1337)

611         A Eucaristia que instituiu naquele momento será o "memorial[a139] " de seu sacrifício. Jesus inclui os apóstolos em sua própria oferta e lhes pede que a perpetuem[a140] . Com isso, institui seus apóstolos sacerdotes da Nova Aliança: "Por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade" (Jo 17,19[a141] ).

(Parágrafos Relacionados 1364,1341,1566)

A AGONIA NO GETSÊMANI

612         O cálice da Nova Aliança, que Jesus antecipou na Ceia, oferecendo-se a si mesmo[a142] , aceita-o em seguida das mãos do Pai em sua agonia no Getsêmani[a143] , tornando-se "obediente até a morte" (Fl 2,8[a144] ). Jesus ora: "Meu Pai, se for possível, que passe de mim este cálice..." (Mt 26,39). Exprime assim o horror que a morte representa para sua natureza humana. Com efeito, a natureza humana de Jesus, como a nossa, está destinada à Vida Eterna; além disso, diversamente da nossa, ela é totalmente isenta de pecado[a145] , que causa a morte[a146] "; mas ela é sobretudo assumida pela pessoa divina do "Príncipe da Vida[a147] ", do "vivente[a148] ". Ao aceitar em sua vontade humana que a vontade do Pai seja feita[a149] , aceita sua morte como redentora para "carregar em seu próprio corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1Pd 2,24).

(Parágrafos Relacionados 532,2600,1009)

A MORTE DE CRISTO É O SACRIFÍCIO ÚNICO E DEFINITIVO

613         A morte de Cristo é ao mesmo tempo o sacrifício pascal,  que realiza a redenção definitiva dos homens [a150] pelo "cordeiro que tira o pecado do mundo[a151] ", e o sacrifício da Nova Aliança[a152] , que reconduz o homem à comunhão com Deus[a153] , reconciliando-o com ele pelo "sangue derramado por muitos para remissão dos pecados[a154] ".

(Parágrafos Relacionados 1366,2009)

614         Este sacrifício de Cristo é único. Ele realiza e supera todos os sacrifícios[a155] . Ele é primeiro um dom do próprio Deus Pai: é o Pai que entrega seu Filho para reconciliar-nos consigo[a156] . É ao mesmo tempo oferenda do Filho de Deus feito homem, o qual, livremente e por amor[a157] , oferece sua vida [a158] a seu Pai pelo Espírito Santo[a159] , para reparar nossa desobediência.

(Parágrafos Relacionados 529,1330,2100)

JESUS SUBSTITUI NOSSA DESOBEDIÊNCIA POR SUA OBEDIÊNCIA

615         Como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim, pela obediência de um só, todos se tornarão justos" (Rm 5,19). Por sua obediência até a morte, Jesus realizou a substituição do Servo Sofredor que "oferece sua vida em sacrifício expiatório", "quando carregava o pecado das multidões", "que ele justifica levando sobre si o pecado de muitos[a160] [a161] ". Jesus prestou reparação por nossas faltas e satisfez o Pai por nossos pecados.

(Parágrafos Relacionados 1850,433,411)

NA CRUZ, JESUS CONSUMA SEU SACRIFÍCIO

616         É "o amor até o fim[a162] " que confere o Valor de redenção de reparação, de expiação e de satisfação ao sacrifício de Cristo. Ele nos conheceu a todos e amou na oferenda de sua vida[a163] . “A caridade de Cristo nos compele quando consideramos que um só morreu por todos e que, por conseguinte, todos morreram" (2 Cor 5,14). Nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos. A existência em Cristo da Pessoa  Divina do Filho, que supera e, ao mesmo tempo, abraça todas as pessoas humanas, e que o constitui Cabeça de toda a humanidade, torna possível seu sacrifício redentor por todos.

(Parágrafos Relacionados 478,468,519)

617         "Sua sanctissima passione in ligno crucis nobis iustificationem meruit - Por sua santíssima Paixão no madeiro da cruz mereceu-nos a justificação", ensina o Concílio de Trento[a164] , sublinhando o caráter único do sacrifício de Cristo como "princípio de salvação eterna[a165] ". E a Igreja venera a Cruz, cantando: crux, ave, spes única - Salve, ó Cruz, única esperança[a166] ".

(Parágrafos Relacionados 1992,1235)

NOSSA PARTICIPAÇÃO NO SACRIFÍCIO DE CRISTO

618         A Cruz é o único sacrifício de Cristo, "único mediador  entre Deus e os homens[a167] ". Mas pelo fato de que, em sua Pessoa Divina encarnada, "de certo modo uniu a si mesmo todos os homens[a168] ", "oferece a todos os homens, de uma forma que Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao Mistério Pascal[a169] ". Chama seus discípulos a "tomar sua cruz e a segui[a170] -lo", pois "sofreu por nós, deixou-nos um exemplo, a fim de que sigamos seus passos[a171] ". Quer associar a seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são os primeiros beneficiários dele[a172] . Isto realiza-se de maneira suprema em sua Mãe, associada mais intimamente do que qualquer outro ao mistério de seu sofrimento redentor[a173] :

(Parágrafos Relacionados 1368,1460,307,2100,964)

Fora da Cruz não existe outra escada por onde subir ao céu[a174] .

RESUMINDO

619         "Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras" (1Cor 15,3).

620         Nossa salvação deriva da iniciativa de amor de Deus para conosco, pois “foi Ele quem nos amou e enviou seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados" (1Jo 4,10). "Foi Deus que em Cristo reconciliou o mundo consigo" (2 Cor 5,19).

621         Jesus ofereceu-se livremente por nossa salvação. Este, dom, ele o significa e o realiza por antecipação durante a Última Ceia: "Isto é meu corpo, que será dado por vós" (Lc 22,19).

622         Nisto consiste a redenção de Cristo: ele "veio dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt 20,28), isto é, "amar os seus até o fim" (Jo 13,1), para que sejais "libertados da vida fútil que herdastes de vossos pais[a175] ".

623         Por sua obediência de amor ao Pai, "até a morte de cruz" (Fl 2,8), Jesus realizou sua missão expiadora [a176] do Servo Sofredor que “justificará a muitos e levar  sobre si as suas transgressões[a177] ".

PARÁGRAFO 3

JESUS CRISTO FOI SEPULTADO

624         "Pela graça de Deus, Ele provou a morte em favor de todos os homens" (Hb 2,9). Em seu projeto de salvação, Deus  dispôs que seu Filho não somente "morresse por nossos pecados" (1Cor 15,3), mas também que "provasse a morte", isto é, conhecesse o estado de morte, o estado de separação entre sua alma e seu corpo, durante o tempo compreendido entre o momento em que expirou na cruz e o momento em que ressuscitou. Este estado do Cristo morto é o mistério do sepulcro e da descida aos Infernos. É o mistério do Sábado Santo, que o Cristo depositado no túmulo [a178] manifesta o grande descanso sabático de Deus [a179] depois da realização [a180] da salvação dos homens, que confere paz ao universo inteiro[a181] .

(Parágrafos Relacionados 362,1005,345)

CRISTO COM SEU CORPO NA SEPULTURA

625         A permanência de Cristo no túmulo constitui o vínculo real entre o estado passível de Cristo antes da Páscoa e seu atual estado glorioso de Ressuscitado. E a mesma pessoa do "Vivente" que pode dizer: "Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos" (Ap 1,18).

Deus [o Filho] não impediu a morte de separar a alma do corpo segundo a ordem necessária à natureza, mas os reuniu novamente um ao outro pela Ressurreição, a fim de ser ele mesmo em sua pessoa o ponto de encontro da morte e da vida, sustando nele a decomposição da natureza, produzida pela morte, e tomando-se ele mesmo princípio de reunião para as partes separadas[a182] .

626         Visto que o "Príncipe da vida" que mataram [a183] é o mesmo "Vivente que ressuscitou[a184] " é preciso que a Pessoa Divina do Filho de Deus tenha continuado a assumir sua alma e seu corpo separados entre si pela morte:

Pelo fato de que na morte de Cristo a alma tenha sido separada da carne, a única pessoa não foi dividida em duas pessoas, pois o corpo e a alma de Cristo existiram da mesma forma desde o início na pessoa do Verbo; e na Morte, embora separados um do outro, ficaram cada um com a mesma e única pessoa do Verbo[a185] .

(Parágrafos Relacionados 470,650)

"NÃO DEIXARÁS TEU SANTO VER  A CORRUPÇÃO"

627         A Morte de Cristo foi uma Morte verdadeira enquanto pôs fim à sua existência humana terrestre. Mas, devido à união que a pessoa do Filho manteve com o seu corpo, não estamos diante de um cadáver como os outros, porque "não era possível que a morte o retivesse em seu poder" (At 2,24) e porque "a virtude divina preservou o corpo de Cristo da corrupção[a186] ". Sobre Cristo pode-se dizer ao mesmo tempo: "Ele foi eliminado da terra dos vivos" (Is 53,8) e "Minha carne repousará  na esperança, porque não abandonarás minha alma no Hades, nem permitirás que teu Santo veja a corrupção" (At 2,26-27[a187] ). A Ressurreição de Jesus "no terceiro dia" (1 Cor 15,4; Lc 24,46[a188] ) foi a prova disso, pois se pensava que a corrupção se manifestaria a partir do quarto dia[a189] .

(Parágrafos Relacionados 1009,1683)

"SEPULTADOS COM CRISTO...

628         O Batismo, cujo sinal original e pleno é a imersão, significa eficazmente a descida ao túmulo do cristão que morre para o pecado com Cristo em vista de uma vida nova: "Pelo Batismo nós fomos sepultados com Cristo na morte, a fim de que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova" (Rm 6,4[a190] ).

(Parágrafos Relacionados 537,1215)

RESUMINDO

629         Em benefício de todo homem, Jesus experimentou a morte[a191] . Foi verdadeiramente o Filho de Deus feito homem que morreu e que foi sepultado.

630         Durante a permanência de Cristo no túmulo, sua Pessoa Divina continuou a assumir tanto a sua alma como o seu corpo, embora separados entre si pela morte. Por isso o corpo Cristo morto "não viu a corrupção" (At 2,27).

 

Anterior => § 512 a § 570

Folha de Apresentação

Posterior =>  § 631 a § 682

 
FastCounter by bCentral

Qualquer falha constatada avise-nos

Rev.2 de  dez/2003


 [a1] Lc 24, 26-27. 44-45

 [a2] Conforme Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Dei Verbum »  item  19.

 [a3] cf. Mc 3, 6 

 [a4] cf. Mt 12, 24

 [a5]cf. Mc 2, 7 

 [a6] cf. Mc 3, 1-6 

 [a7] cf. Mc 7,14-23

 [a8] cf. Mc 2, 14-17

 [a9] cf. Mc 3,22 ; Jo 8,48 ; 10, 20

 [a10] cf. Mc 2, 7 ; Jo 5, 18 ; 10, 33

 [a11] cf. Jo 7, 12 ; 7, 52

 [a12] cf. Jo8, 59 ; 10, 31

 [a13] cf. Lc 2,34

 [a14]cf. Jo 1, 19 ; 2, 18 ; 5, 10 ; 7, 13 ; 9, 22 ; 18, 12 ; 19, 38 ; 20, 19

 [a15] cf. Jo 7, 48-49

 [a16] cf. Lc 13, 31

 [a17] cf. Lc 7, 36 ; 14, 1

 [a18] cf. Mt 22, 23-34 ; Lc 20, 39

 [a19] cf. Mt 6, 18

 [a20] cf. Mc 12, 28-34

 [a21] cf. Jo 8, 46

 [a22] cf. Jn 7, 19 ; At 13, 38-41 ; 15, 10

 [a23] cf. Gl 3, 10 ; 5, 3

 [a24] cf. Rm 10, 2

 [a25] cf. Mt 15, 3-7 ; Lc 11, 39-54

 [a26] cf. Is 53, 11 ; Hb 9, 15

 [a27] cf. Gl 4, 4

 [a28] cf. Gl 3,13

 [a29] cf. Gl 3,10

 [a30] cf. Jo 11, 38 ; 3, 2 ; Mt 22, 23-24. 34-36

 [a31] cf. Mt 12, 5 ; 9, 12 ; Mc 2, 23– 27 ; Lc 6, 6-9 ; Jn 7, 22-23

 [a32] cf. Mt 5, 1

 [a33] Mc 7, 8

 [a34] Mc 7, 13

 [a35] cf. Gl 3, 24

 [a36] cf. Jo 5, 36 ; 10, 25. 37-38 ; 12, 37

 [a37] cf. Mc 2, 25-27 ; Jo 7, 22-24

 [a38] cf. Mt 12, 5 ; Nm 28, 9

 [a39] cf. Lc 13, 15-16 ; 14, 3-4

 [a40]cf. Lc 2, 22-39

 [a41] cf. Lc 2, 46-49

 [a42] cf. Lc 2, 41

 [a43] cf. Jo 2, 13-14 ; 5, 1. 14 ; 7, 1. 10. 14 ; 8, 2 ; 10, 22-23

 [a44] cf. Mt 21, 13

 [a45] cf. At 2, 46 ; 3, 1 ; 5, 20. 21 ; etc

 [a46] cf. Mt 24, 1-2

 [a47] cf. Mt 24, 3 ; Lc 13, 35

 [a48] cf. Mc 14, 57-58

 [a49] cf. Mt 27, 39-40

 [a50] cf. Mt 8, 4 ; 23, 21 ; Lc 17, 14 ; Jo 4, 22

 [a51] cf. Jo 18, 20

 [a52] cf. Mt 17, 24-27

 [a53] cf. Mt 16, 18

 [a54] cf. Jo 2, 21 ; Mt 12, 6

 [a55] cf. Jo 2, 18-22

 [a56] cf. Jo 4, 23-24 ; Mt 27, 51 ; He 9, 11 ; Ap 21, 22

 [a57] cf. Lc 2, 34

 [a58] cf. Lc 20, 17-18 ; Ps 118, 22

 [a59] cf. Lc 5, 30

 [a60] cf. Lc 7, 36 ; 11, 37 ; 14, 1

 [a61] cf. Jo 7, 49 ; 9, 34

 [a62] cf. Jo 8, 33-36

 [a63] cf. Jo 9, 40-41

 [a64] cf. Mt 9, 13 ; Os 6, 6

 [a65] cf. Lc 15, 1-2

 [a66] cf. Lc 15, 23-32

 [a67] cf. Jo 5, 18 ; 10, 33

 [a68] cf. Jo 17, 6. 26

 [a69] Mt 12, 6

 [a70] . Mt 12, 36. 37

 [a71] cf. Jo 10, 36-38

 [a72] Jo 3, 7

 [a73] cf. Jo 6, 44

 [a74] cf. Is 53, 1

 [a75] cf. Mc 3, 6 ; Mt 26, 64-66

 [a76] cf. Lc 23, 34 ; At 3, 17-18

 [a77]cf. Mc 3, 5 ; Rm 11, 25

 [a78] cf. Rm 11, 20

 [a79] cf. Mt 5, 17-19

 [a80] cf. Jo 8, 46

 [a81] cf. Mt 5, 33

 [a82] cf. Hb 9, 15

 [a83] (cf. Jo 5, 16-18

 [a84] cf. Jo 1, 14

 [a85] cf. Jo 10, 33

 [a86] cf. Jo 7, 50

 [a87] cf. Jo 19, 38-39

 [a88]  cf. Jo 9, 16-17 ; 10, 19-21

 [a89] cf. Jo 9, 16 ; 10, 19

 [a90] cf. Jo 9, 22

 [a91] Mt 26, 66

 [a92] cf. Jo 18, 31

 [a93] cf. Lc 23, 2

 [a94] cf. Jo 19, 12. 15. 21

 [a95] cf. Mc 15, 11

 [a96] cf. At 2, 23. 36 ; 3, 13-14 ; 4, 10 ; 5, 30 ; 7, 52 ; 10, 39 ; 13, 27-28 ; 1 Ts 2, 14-15

 [a97] cf. Lc 23, 34

 [a98] cf. At 3,17

 [a99] cf. At 5, 28 ; 18, 6 cf. At 5, 28 ; 18, 6

 [a100] Declaração; Vaticano II; 28/10/65; http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/index_po.htm

 [a101] Catecismo Romano1,5,11; Hb 12,3.

 [a102] cf. Mt 25, 45 ; At 9, 4-5

 [a103] Catecismo Romano1,5,11

 [a104] S. Francisco de Assis, admon. 5, 3

 [a105] At 3, 13

 [a106]  cf. Sl  2, 1-2

 [a107] cf. Mt 26, 54 ; Jo 18, 36 ; 19, 11

 [a108] cf. At 3, 17-18

 [a109] Is 53, 11 ; cf. At 3, 14

 [a110] cf. Is 53, 11-12 ; Jo 8, 34-36

 [a111] 1 Cor 15, 3

 [a112] ibidem ; cf. também At 3, 18 ; 7, 52 ; 13, 29 ; 26, 22-23

 [a113] cf. Is 53, 7-8 et At 8, 32-35

 [a114] cf. Mt 20, 28

 [a115]cf. Lc 24, 25-27

 [a116] cf. Lc 24, 44-45

 [a117] cf. Rm 5, 12 ; 1 Cor 15, 56

 [a118] cf. Fl 2, 7

 [a119] cf. Rm 8, 3

 [a120] cf. Jo 8, 46

 [a121] cf. Jo 8, 29

 [a122] Sl 22, 1

 [a123] 1 Jo 4, 19

 [a124]cf. Rm 5, 18-19

 [a125]cf. 2 Cor 5, 15 ; 1 Jn 2, 2

 [a126]Concílio de  Quiercy en 853 : DS 624

 [a127]Jo 6, 38

 [a128]cf. Lc 12, 50 ; 22, 15 ; Mt 16, 21-23

 [a129]cf. Lc 3, 21 ; Mt 3, 14-15

 [a130]cf. Jo 1, 29. 36

 [a131]cf. Is 53, 7 ; Jr 11, 19

 [a132]cf. Is 53, 12

 [a133]cf. Ex 12, 3-14 ; Jo 19, 36 ; 1 Cor 5, 7

 [a134]cf. Mc 10, 45

 [a135]cf. Hb 2, 10. 17-18 ; 4, 15 ; 5, 7-9

 [a136] cf. Jo 18, 4-6 ; Mt 26, 53

 [a137] cf. Mt 26, 20

 [a138] 1 Cor 5,7

 [a139] 1 Cor 11, 23

 [a140] Lc 22,19

 [a141] Concílio de  Trento DS 1752

 [a142] Lc 22,20

 [a143] cf. Mt 26,42

 [a144] Hb 5,7-8

 [a145] Hb 4,15

 [a146] Rm 5,12

 [a147] At 3,15

 [a148]  Ap 1, 17 ; cf. Jo 1, 4 ; 5, 26

 [a149]cf. Mt 26, 42

 [a150]cf. 1 Cor 57 ;Jo 8,34-36

 [a151]cf. Jo 1, 29 ; 1 Pd 1, 19

 [a152] cf. 1 Cor 11, 25

 [a153]cf. Ex 24, 8

 [a154]cf. Mt 26, 28 ; Lv 16, 15-16

 [a155]cf. Hb 10, 10

 [a156] cf. 1 Jo 4, 10

 [a157]cf. Jo 15, 13

 [a158]cf. Jo 10, 17-18

 [a159]cf. Hb 9, 14

 [a160] Is 53, 10-12

 [a161]cf. Concílio de   Trento : DS 1529

 [a162] cf. Jo 13,1

 [a163]cf. Gl 2, 20 ; Ef 5, 2. 25

 [a164] DS 1529

 [a165] HB 5,9

 [a166] Hino “Vexilla Regis”

 [a167]1 Tm 2, 5

 [a168] Constituição do Vaticano II; 07/12/65  - Gaudium et spes nº 22, § 2

 [a169] Constituição do Vaticano II; 07/12/65  - Gaudium et spes nº 22 § 5

 [a170] Mt 16, 24

 [a171]1 Pd 2, 21

 [a172]cf. Mc 10, 39 ; Jo 21, 18-19 ; Cl 1,

 [a173]cf. Lc 2, 35

 [a174]Sta. Rosa de Lima, vita

 [a175]1 Pd 1, 18

 [a176]cf. Is 53, 10

 [a177]Is 53, 11 ; cf. Rm 5, 19

 [a178] cf. Jo 19, 42

 [a179] cf. Hb 4, 7-9

 [a180] cf. Jo 19, 30

 [a181] cf. Cl 1, 18-20

 [a182]S. Gregório de Nisse, or. catech. 16 : PG 45, 52B

 [a183] At 3, 15

 [a184]Lc 24, 5-6

 [a185]S. João Damasceno, f. o. 3, 27 : PG 94, 1098A

 [a186]S. Thomás de Aquino , 3, 51, 3

 [a187]cf. Sl  16, 9-10

 [a188]cf. Mt 12, 40 ; Jon 2, 1 ; Os 6, 2

 [a189]cf. Jo 11, 39

 [a190]cf. Cl 2, 12 ; Ef 5, 26

 [a191]cf. Hb 2, 9