Catecismo da Igreja Católica
SEGUNDA PARTE - A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO
CAPÍTULO II
OS SACRAMENTOS DE CURA
1420 Pelos sacramentos da iniciação cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo. Ora, esta vida nós a trazemos “em vasos de argila” (2Cor 4,7). Agora, ela ainda se encontra “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). Estamos ainda em “nossa morada terrestre[ag1]”, sujeitos ao sofrimento, à doença e à morte. Esta nova vida de filhos de Deus pode se tornar debilitada e até perdida pelo pecado.
1421 O Senhor Jesus Cristo, médico de nossas almas e de nossos corpos, que remiu os pecados do paralítico e restituiu-lhe a saúde do corpo[ag2], quis que sua Igreja continuasse, na força do Espírito Santo, sua obra de cura e de salvação, também junto de seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o sacramento da Penitência e o sacramento da Unção dos Enfermos.
ARTIGO 4
O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA
E DA RECONCILIAÇÃO
1422 “Aqueles [§3]que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando, e a qual colabora para sua conversão com caridade exemplo e orações[ag4].”
I. Como se chama este sacramento?
1423 Chama[§5]-se sacramento da Conversão, pois realiza sacramentalmente o convite de Jesus à conversão[ag6], o caminho de volta ao Pai[ag7], do qual a pessoa se afastou pelo pecado.
Chama-se sacramento da Penitência porque consagra um esforço pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação do cristão pecador.
1424 É [§8]chamado sacramento da Confissão porque a declaração, a confissão dos pecados diante do sacerdote é um elemento essencial desse sacramento. Num sentido profundo esse sacramento também é uma “confissão”, reconhecimento e louvor da santidade de Deus e de sua misericórdia para com o homem pecador. Também é chamado sacramento do perdão porque pela absolvição sacramental do sacerdote Deus concede “o perdão e a paz[ag9]”
É chamado sacramento da Reconciliação porque dá ao pecador o amor de Deus que reconcilia: “Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20). Quem vive do amor misericordioso de Deus está pronto a responder ao apelo do Senhor: “Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão” (Mt 5,24).
II. Por que um sacramento da Reconciliação após o Batismo?
1425 “Vós [§10]vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1 Cor 6,11). É preciso tomar consciência da grandeza do dom de Deus que nos é oferecido nos sacramentos da iniciação cristã para compreender até que ponto o pecado é algo que deve ser excluído daquele que se “vestiu de Cristo[ag11]”. Mas o apóstolo São João também diz: “Se dissermos: “Não temos pecado”, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1,8). E o próprio Senhor nos ensinou a rezar: “Perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11,4), vinculando o perdão de nossas ofensas ao perdão que Deus nos conceder de nossos pecados.
1426 A [§12]conversão a Cristo, o novo nascimento pelo Batismo, o dom do Espírito Santo, o Corpo e o Sangue de Cristo recebidos como alimento nos tornaram “santos e irrepreensíveis diante dele” (Ef 1,4), como a própria Igreja, esposa de Cristo, é “santa e irrepreensível” (Ef 5,27). Entretanto, a nova vida recebida na iniciação cristã não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem a inclinação ao pecado, que a tradição chama de concupiscência, que continua nos batizados para prová-los no combate da vida cristã, auxiliados pela graça de Cristo[ag13]. É o combate da conversão para chegar à santidade e à vida eterna, para a qual somos incessantemente chamados pelo Senhor[ag14].
III. A conversão dos batizados
1427 Jesus [§15]convida à conversão. Este apelo é parte essencial do anúncio do Reino: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Na pregação da Igreja este apelo é feito em primeiro lugar aos que ainda não conhecem a Cristo e seu Evangelho. Além disso, o Batismo é o principal lugar da primeira e fundamental conversão. É pela fé na Boa Nova e pelo Batismo [ag16]que se renuncia ao mal e se adquire a salvação, isto é, a remissão de todos os pecados e o dom da nova vida.
1428 Ora[§17], o apelo de Cristo à conversão continua a soar na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que “reúne em seu próprio seio os pecadores” e que “e ao mesmo tempo santa e sempre, na necessidade de purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação[ag18]”. Este esforço de conversão não é apenas uma obra humana. E o movimento do “coração contrito[ag19]” atraído e movido pela graça [ag20]a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro[ag21].
1429 Comprova-o a conversão de 5. Pedro após a tríplice negação de seu mestre. O olhar de infinita misericórdia de Jesus provoca lágrimas de arrependimento [ag22]e, depois da ressurreição do Senhor, a afirmação, três vezes reiterada, de seu amor por e1e[ag23]. A segunda conversão também possui uma dimensão comunitária. Isto aparece no apelo do Senhor a toda uma Igreja: “Converte-te!” (Ap 2,5.16).
Santo Ambrósio, referindo-se às duas conversões, diz que na Igreja “existem a água e as lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da penitência[ag24]”.
IV. A penitência interior
1430 Como [§25]já nos profetas, o apelo de Jesus à conversão e penitência não visa em primeiro lugar às obras exteriores, saco e a cinza”, os jejuns e as mortificações, mas à conversão do coração, à penitência interior. Sem ela, as obras de penitência continuam estéreis e enganadoras: a conversão interior, ao contrário, impele a expressar essa atitude por sinais visíveis, gestos e obras de penitência[ag26].
1431 A [§27]penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de todo nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância às m s obras que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e a resolução de mudar de vida com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda de sua graça. Esta conversão do coração vem acompanhada de uma dor e uma tristeza salutares, chamadas pelos Padres de “animi cruciatus (aflição do espírito)”, “compunctio cordis (arrependimento do coração[ag28])” .
1432 O[§29] coração do homem apresenta-se pesado e endurecido. É preciso que Deus dê ao homem um coração novo[ag30]. A conversão é antes de tudo uma obra da graça de Deus que reconduz nossos corações a ele: “Converte-nos a ti, Senhor, e nos converteremos” (Lm 5,21). Deus nos dá a força de começar de novo. É descobrindo a grandeza do amor de Deus que nosso coração experimenta o horror e o peso do pecado e começa a ter medo de ofender a Deus pelo mesmo pecado e de ser separado dele. O coração humano converte-se olhando para aquele que foi traspassado por nossos pecados[ag31].
Fixemos nossos olhos no sangue de Cristo para compreender como é precioso a seu Pai porque, derramado para a nossa salvação, dispensou ao mundo inteiro a graça do arrependimento[ag32].
1433 Depois [§33]da Páscoa, o Espírito Santo “estabelecer a culpabilidade do mundo a respeito do pecado[ag34]”, a saber, que o mundo não acreditou naquele que o Pai enviou. Mas esse mesmo Espírito, que revela o pecado, é o Consolador [ag35]que dá ao coração do homem a graça do arrependimento e da conversão[ag36].
V. As múltiplas formas da penitência na vida cristã
1434 A [§37]penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os padres insistem principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola[ag38], que exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para reconciliar-se com o próximo[ag39], as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade, “que cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8).
1435 A conversão se realiza na vida cotidiana por meio de gestos de reconciliação, do cuidado dos pobres, do exercício e da defesa da Justiça e do direito[ag40], pela confissão das faltas aos irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência pela direção espiritual, pela aceitação dos sofrimentos, pela firmeza na perseguição por causa da justiça. Tomar sua cruz, cada dia, seguir a Jesus é o caminho mais seguro da penitencia[ag41].
1436 Eucaristia [§42]e penitência. A conversão e a penitência cotidiana encontram sua fonte e seu alimento na Eucaristia, pois nela se torna presente o sacrifício de Cristo que nos reconciliou com Deus; por ela são nutridos e fortificados aqueles que vivem da vida de Cristo: “ela é o antídoto que nos liberta de nossas faltas cotidianas e nos preserva dos pecados mortais[ag43]”.
1437 A leitura da Sagrada Escritura, a oração da Liturgia das Horas e do Pai-nosso, todo ato sincero de culto ou de piedade reaviva em nós o espírito de conversão e de penitência e contribui para o perdão dos pecados.
1438 Os [§44]tempos e os dias de penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja[ag45]. Esses tempos são particularmente apropriados aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras de caridade e missionárias).
1439 O [§46]dinamismo da conversão e da penitência foi maravilhosamente descrito por Jesus na parábola do “filho pródigo”, cujo centro é “O pai misericordioso[ag47]”: o fascínio de uma liberdade ilusória, o abandono da casa paterna; a extrema miséria em que se encontra o filho depois de esbanjar sua fortuna; a profunda humilhação de ver-se obrigado a cuidar dos porcos e, pior ainda, de querer matar a fome com a sua ração; a reflexão sobre os bens perdidos; o arrependimento e a decisão de declarar-se culpado diante do pai; o caminho de volta; o generoso acolhimento da parte do pai; a alegria do pai: tudo isso são traços específicos do processo de conversão. A bela túnica, o anel e o banquete da festa são símbolos desta nova vida, pura, digna, cheia de alegria, que é a vida do homem que volta a Deus e ao seio de sua família, que é a Igreja. Só o coração de Cristo que conhece as profundezas do amor do Pai pôde revelar-nos o abismo de sua misericórdia de uma maneira tão simples e tão bela.
VI. O sacramento da Penitência e da Reconciliação
1440 O [§48]pecado é antes de tudo uma ofensa a Deus, uma ruptura da comunhão com ele. Ao mesmo tempo é um atentado à comunhão com a Igreja. Por isso, a conversão traz simultaneamente o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja, Q que é expresso e realizado liturgicamente pelo sacramento da Penitência e da Reconciliação[ag49].
SÓ DEUS PERDOA OS PECADOS
1441 Só [§50]Deus perdoa os pecados[ag51]. Por ser o Filho de Deus, Jesus diz de si mesmo: “O Filho do homem tem poder de perdoar pecados na terra” (Mc 2,10) e exerce esse poder divino: “Teus pecados estão perdoados!” (Mc 2,5[ag52]). Mais ainda: em virtude de sua autoridade divina, transmite esse poder aos homens [ag53]para que o exerçam em seu nome.
1442 A [§54]vontade de Cristo é que toda a sua Igreja seja, na oração, em sua vida e em sua ação, o sinal e instrumento do perdão e da reconciliação que “ele nos conquistou ao preço de seu sangue”. Mas confiou o exercício do poder de absolvição ao ministério apostólico, encarregado do “ministério da reconciliação” (2Cor 5,18). O apóstolo é enviado “em nome de Cristo”, e “é o próprio Deus” que, por meio dele, exorta e suplica: “Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20).
RECONCILIAÇÃO COM A IGREJA
1443 Durante [§55]sua vida pública, Jesus não só perdoou os pecados, mas também manifestou o efeito desse perdão: reintegrou os pecadores perdoados na comunidade do povo de Deus, da qual o pecado os havia afastado ou até excluído. Um sinal evidente disso é o fato de Jesus admitir os pecadores à sua mesa e, mais ainda, de Ele mesmo sentar-se à sua mesa, gesto que exprime de modo estupendo ao mesmo tempo o perdão de Deus [ag56]e o retomo ao seio do Povo de Deus[ag57].
1444 Conferindo [§58]aos apóstolos seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor também lhes dá a autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial de sua tarefa exprime-se principalmente na solene palavra de Cristo a Simão Pedro: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus, e o que ligares na terra ser ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). “O múnus de ligar e desligar, que foi dado a Pedro, consta que também foi dado ao colégio do apóstolos, unido a seu chefe (cf. Mt 18,18; 28,16-20[ag59]).”
1445 As [§60]palavras ligar e desligar significam: aquele que excluirdes da vossa comunhão, será excluído da comunhão com Deus; aquele que receberdes de novo na vossa comunhão, Deus o acolherá também na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação com Deus.
O SACRAMENTO DO PERDÃO
1446 Cristo [§61]instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros pecadores de sua Igreja, antes de tudo para aqueles que, depois do Batismo, cometeram pecado grave e com isso perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial. E a eles que o sacramento da Penitência oferece uma nova possibilidade de converter-se e de recobrar a graça da justificação. Os Padres da Igreja apresentam este sacramento como “a segunda tábua (de salvação) depois do naufrágio que é a perda da graça[ag62].
1447 No curso dos séculos, a forma concreta segundo a qual a Igreja exerceu este poder recebido do Senhor variou muito. Nos primeiros séculos, a reconciliação dos cristãos que haviam cometido pecados particularmente graves depois do Batismo (por exemplo, a idolatria, o homicídio ou o adultério) estava ligada a uma disciplina bastante rigorosa, segundo a qual os penitentes deviam fazer penitência pública por seus pecados, muitas vezes durante longos anos, antes de receber a reconciliação. A esta “ordem dos penitentes” (que incluía apenas certos pecados graves) só se era admitido raramente e, em certas regiões, só uma vez na vida. No século VII, inspirados na tradição monástica do Oriente, os missionários irlandeses trouxeram para a Europa continental a prática “privada” da penitência que não mais exigia a prática pública e prolongada de obras de penitência antes de receber a reconciliação com a Igreja. O sacramento se realiza daí em diante de uma forma mais secreta entre o penitente e o presbítero. Esta nova prática previa a possibilidade da repetição, abrindo assim o caminho para uma freqüência regular a este sacramento. Permitia integrar numa única celebração sacramental o perdão dos pecados graves e dos pecados veniais. Em linhas gerais, é essa a forma de penitência praticada na Igreja até hoje.
1448 Mediante as mudanças por que passaram a disciplina e a celebração deste sacramento ao longo dos séculos, podemos discernir sua própria estrutura fundamental que consta de dois elementos igualmente essenciais: de um lado, os atos do homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação; de outro lado, a ação de Deus por intermédio da Igreja. A Igreja que, pelo Bispo e seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfação, ora pelo pecador e faz penitência com ele. Assim o pecador é curado e reintegrado na comunhão eclesial.
1449 A [§63]fórmula da absolvição em uso na Igreja latina exprime os elementos essenciais deste sacramento: o Pai das misericórdias é a fonte de todo perdão. Ele opera a reconciliação dos pecadores pela páscoa de seu Filho e pelo dom de seu Espírito, por meio da oração e ministério da Igreja:
Deus, Pai de misericórdia, que, pela Morte e Ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo[ag64]
VII. Os atos do penitente
1450 “A penitência impele o pecador a suportar tudo de boa vontade. Em seu coração está o arrependimento; em sua boca, a acusação; em suas obras, plena humildade e proveitosa satisfação[ag65]”.
A CONTRIÇÃO
1451 Entre [§66]os atos do penitente, a contrição vem em primeiro lugar. Consiste “numa dor da alma e detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no futuro[ag67]” .
1452 Quando [§68]brota do amor de Deus, amado acima de tudo, contrição é “perfeita” (contrição de caridade). Esta contrição perdoa as faltas veniais e obtém também o perdão dos pecado mortais, se incluir a firme resolução de recorrer, quando possível, à confissão sacramental[ag69].
1453 A contrição chamada “imperfeita” (ou “atrição”) também é um dom de Deus, um impulso do Espírito Santo. Nasce da consideração do peso do pecado ou do temor da condenação eterna e de outras penas que ameaçam o pecador (contrição por temor). Este abalo da consciência pode ser o início de uma evolução interior que ser concluída sob a ação da graça, pela absolvição sacramental. Por si mesma, porém, a contrição imperfeita não obtém o perdão dos pecados graves, mas predispõe a obtê-lo no sacramento da penitência[ag70].
1454 Convém preparar a recepção deste sacramento fazendo um exame de consciência à luz da Palavra de Deus. Os textos mais adaptados esse fim devem ser procurados na catequese moral dos evangelhos e das cartas apostólicas: Sermão da Montanha, ensinamentos apostólicos[ag71].
A CONFISSÃO DOS PECADOS
1455 A [§72]confissão dos pecados (acusação), mesmo do ponto de vista simplesmente humano, nos liberta e facilita nossa reconciliação com os outros. Pela acusação, o homem encara de frente os pecados dos quais se tornou culpado: assume a responsabilidade deles e, assim, abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja, a fim de tomar possível um futuro novo.
1456 A [§73]declaração dos pecados ao sacerdote constitui uma parte essencial do sacramento da penitência: “Os penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados mortais de que têm consciência depois de examinar-se seriamente, mesmo que esses pecados sejam muito secretos e tenham sido cometidos somente contra os dois últimos preceitos do decálogo (Cf Ex 20,17; Mt 5,28.), pois, às vezes, esses pecados ferem gravemente a alma e são mais prejudiciais do que os outros que foram cometidos à vista e conhecimento de todos[ag74]”.
Quando os cristãos se esforçam para confessar todos os pecados que lhes vêm à memória, não se pode duvidar que tenham o intuito de apresentá-los todos ao perdão da misericórdia divina. Os que agem de outra forma, tentando ocultar conscientemente alguns pecados, não colocam diante da bondade divina nada que ela possa perdoar por intermédio do sacerdote. Pois, “se o doente tem vergonha de mostrar sua ferida ao médico, a medicina não pode curar aquilo que ignora[ag75]”.
1457 Conforme [§76]o mandamento da Igreja, “todo fiel, depois de ter chegado à idade da discrição, é obrigado a confessar seus pecados graves, dos quais tem consciência, pelo menos uma vez por ano[ag77]”. Aquele que tem consciência de ter cometido um pecado mortal não deve receber a Sagrada Comunhão, mesmo que esteja profundamente contrito, sem receber previamente a absolvição sacramental[ag78], a menos que tenha um motivo grave para comungar e lhe seja impossível chegar a um confessor[ag79]. As crianças devem confessar-se antes de receber a Primeira Eucaristia[ag80].
1458 Apesar [§81]de não ser estritamente necessária, a confissão das faltas cotidianas (pecados veniais) é vivamente recomendada pela Igreja[ag82]. Com efeito, a confissão regular de nossos pecados veniais nos ajuda a formar a consciência, a lutar contra nossas más tendências, a deixar-nos curar por Cristo, a progredir na vida do Espírito. Recebendo mais freqüentemente, por meio deste sacramento, o dom da misericórdia do Pai, somos levados a ser misericordiosos como ele[ag83];
Quem confessa os próprios pecados já está agindo em harmonia com Deus. Deus acusa teus pecados; se tu também os acusas, tu te associas a Deus. O homem e o pecador são, por assim dizer, duas realidades: quando ouves falar do homem, foi Deus quem o fez; quando ouves falar do pecador, é o próprio homem quem o fez. Destrói o que fizeste para que Deus salve o que Ele fez... Quando começas a detestar o que fizeste, é então que tuas boas obras começam, porque acusas tuas más obras. A confissão das más obras é o começo das boas obras. Contribui para a verdade e consegues chegar à 1uz[ag84].
A SATISFAÇÃO
1459 Muitos [§85]pecados prejudicam o próximo. É preciso fazer possível para reparar esse mal (por exemplo restituir as coisas roubadas, restabelecer a reputação daquele que foi caluniado ressarcir as ofensas e injúrias). A simples justiça exige isso. Mas, além disso, o pecado fere e enfraquece o próprio pecador, como também suas relações com Deus e com o próxima. A absolvição tira o pecado, mas não remedeia todas as desordens que ele causou[ag86]. Liberto do pecado, o pecador deve ainda recobrar a plena saúde espiritual. Deve, portanto, faz alguma coisa a mais para reparar seus pecados: deve “satisfazer” de modo apropriado ou “expiar” seus pecados. Esta satisfação chama-se também “penitência”.
1460 A [§87]penitência imposta pelo confessor deve levar em conta a situação pessoal do penitente e procurar seu bem espiritual. Deve corresponder, na medida do possível, à gravidade e à natureza dos pecados cometidos. Pode consistir na oração, numa oferta, em obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, em sacrifícios e principalmente na aceitação paciente da cruz que devemos carregar. Essas penitências nos ajudam a configurar-nos com Cristo, que, sozinho, expiou nossos pecados [ag88]uma vez por todas. Permitem-nos também tomar-nos co-herdeiros de Cristo ressuscitado, “pois sofremos com ele[ag89]”:
Mas nossa satisfação, aquela que pagamos por nossos pecados, só vale por intermédio de Jesus Cristo, pois, não podendo coisa alguma por nós mesmos, “tudo podemos com a cooperação daquele que nos dá força”(Cf Fl 4,13). E, assim, não tem o homem de que se gloriar, mas toda a nossa “glória” está em Cristo... em quem oferecemos satisfação, “produzindo dignos frutos de penitência (Cf Lc 3,8.), que dele recebem seu valor, por Ele são oferecidos ao Pai e graças a Ele são aceitos pelo Pai[ag90].
VIII. O ministro deste sacramento
1461 Como [§91]Cristo confiou a seus apóstolos o ministério da Reconciliação[ag92], os Bispos, seus sucessores, e os presbíteros, colaboradores dos Bispos, continuam a exercer esse ministério. De fato, são os Bispos e os presbíteros que têm, em virtude do sacramento da Ordem, o poder de perdoar todos os pecados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
1462 O [§93]perdão dos pecados reconcilia com Deus, mas também com a Igreja. O Bispo, chefe visível da Igreja Particular, é, portanto, considerado, com plena razão, desde os tempos primitivos, aquele que principalmente detém o poder e o ministério da reconciliação: ele é o moderador da disciplina penitencial[ag94]. Os presbíteros, seus colaboradores, o exercem na medida em que receberam o múnus, quer de seu Bispo (ou de um superior religioso), quer do Papa, por meio do direito da Igreja[ag95].
1463 Alguns [§96]pecados particularmente graves são passíveis de excomunhão, a pena eclesiástica mais severa, que impede a recepção dos sacramentos e o exercício de certos atos eclesiais[ag97]. Neste caso, a absolvição não pode ser dada, segundo o direito da Igreja, a não ser pelo Papa, pelo Bispo local ou por presbíteros autorizados por eles[ag98]. Em caso de perigo de morte, qualquer sacerdote, mesmo privado da faculdade de ouvir confissões, pode absolver de qualquer pecado [ag99]e de qualquer excomunhão.
1464 Os sacerdotes devem incentivar os fiéis a receber o sacramento da Penitência e devem mostrar-se disponíveis a celebrar este sacramento cada vez que os cristãos o pedirem de modo conveniente[ag100].
1465 Ao [§101]celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote cumpre o ministério do bom pastor, que busca a ovelha perdida; do bom samaritano, que cura as feridas; do Pai, que espera o filho pródigo e o acolhe ao voltar; do justo juiz, que não faz acepção de pessoa e cujo julgamento é justo e misericordioso ao mesmo tempo. Em suma, o sacerdote é o sinal e o instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador.
1466 O [§102]confessor não é o senhor, mas o servo do perdão de Deus. O ministro deste sacramento deve unir-se à intenção e à caridade Cristo[ag103]. Deve possuir um comprovado conhecimento do comportamento cristão, experiência das coisas humanas, respeito e delicadeza diante daquele que caiu; deve amar a verdade, ser fiel ao magistério da Igreja e conduzir, com paciência, o penitente à cura e à plena maturidade. Deve orar e fazer penitência por ele, confiando-o à misericórdia do Senhor.
1467 Diante [§104]da delicadeza e da grandiosidade deste ministério e do respeito que se deve às pessoas, a Igreja declara que todo sacerdote que ouve confissões é obrigado a guardar segredo absoluto a respeito dos pecados que seus penitentes lhe confessaram, sob penas severíssimas[ag105]. Também não pode fazer uso do conhecimento da vida dos penitentes adquirido pela confissão. Este segredo, que não admite exceções, chama-se “sigilo sacramental”, porque o que o penitente manifestou ao sacerdote permanece “sigilado” pelo sacramento.
IX. Os efeitos deste sacramento
1468 “Toda [§106]a força da Penitência reside no fato de ela nos reconstituir na graça de Deus e de nos unir a Ele com a máxima amizade[ag107].” Portanto, a finalidade e o efeito deste sacramento é a reconciliação com Deus. Os que recebem o sacramento da Penitência com coração contrito e disposição religiosa “podem usufruir a paz e a tranqüilidade da consciência, que vem acompanhada de uma intensa consolação espiritual[ag108]”. Com efeito, o sacramento da Reconciliação com Deus traz consigo uma verdadeira “ressurreição espiritual”, uma restituição da dignidade e dos bens da vida dos filhos de Deus, entre os quais o mais precioso é a amizade de Deus (Cf Lc 15,32).
1469 Este [§109]sacramento nos reconcilia com a Igreja. O pecado fende ou quebra a comunhão fraterna. O sacramento da Penitência a repara ou restaura. Neste sentido, ele não cura apenas aquele que é restabelecido na comunhão eclesial, mas tem também um efeito vivificante sobre a vida da Igreja, que sofreu com o pecado de um de seus membros[ag110]. Restabelecido ou confirmado na comunhão dos santos, o pecador sai fortalecido pela participação dos bens espirituais de todos os membros vivos do Corpo de Cristo, quer estejam ainda em estado de peregrinação, quer já estejam na pátria celeste[ag111]:
Não devemos esquecer que a reconciliação com Deus tem como conseqüência, por assim dizer, outras reconciliações capazes de remediar outras rupturas ocasionadas pelo pecado: o penitente perdoado reconcilia-se consigo mesmo no íntimo mais profundo de seu ser, onde recupera a própria verdade interior; reconcilia-se com os irmãos que de alguma maneira ofendeu e feriu; reconcilia-se com a Igreja; e reconcilia-se com toda a criação[ag112].
1470 Neste [§113]sacramento, o pecador, entregando-se ao julgamento misericordioso de Deus, antecipa de certa maneira o julgamento a que ser sujeito no fim desta vida terrestre. Pois é agora, nesta vida, que nos é oferecida a escolha entre a vida e a morte, e só pelo caminho da conversão poderemos entrar no Reino do qual somos excluídos pelo pecado grave[ag114]. Convertendo-se a Cristo pela penitência e pela fé, o pecador passa da morte para a vida “sem ser julgado” (Jo 5,24).
X. As indulgências
1471 A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do sacramento da Penitência.
QUE É A INDULGÊNCIA?
“A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos[ag115].”
“A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial totalmente da pena devida pelos pecados[ag116].” Todos os fiéis podem adquirir indulgências (...) para si mesmos ou aplicá-las aos defuntos[ag117].
AS PENAS DO PECADO
1472 Para [§118]compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma dupla conseqüência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos toma incapazes da vida eterna; esta privação se chama “pena eterna” do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado “purgatório”. Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas, antes, como uma conseqüência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo que não haja mais nenhuma pena[ag119].
1473 O [§120]perdão do pecado e a restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas eternas do pecado. Mas permanecem as penas temporais do pecado. Suportando pacientemente os sofrimentos e as provas de todo tipo e, chegada a hora, enfrentando serenamente a morte, o cristão deve esforçar-se para aceitar, como urna graça, essas penas temporais do pecado; deve aplicar-se, por inicio de obras de misericórdia e de caridade, como também pela oração e por diversas práticas de penitência, a despojar-se completamente do “velho homem” para revestir-se do “homem novo[ag121]”.
NA COMUNHÃO DOS SANTOS
1474 O [§122]cristão que procura purificar-se de seu pecado e santificar-se com o auxílio da graça de Deus não está só. “A vida de cada um dos filhos de Deus se acha unida, por um admirável laço, em Cristo e por Cristo, com a vida de todos os outros irmãos cristãos na unidade sobrenatural do corpo místico de Cristo, como numa única pessoa mística[ag123].”
1475 Na comunhão dos santos, “existe certamente entre os fiéis já admitidos na posse da pátria celeste, os que expiam as faltas no purgatório e os que ainda peregrinam na terra, um laço de caridade e um amplo intercâmbio de todos os bens[ag124]”. Neste admirável intercâmbio, cada um se beneficia da santidade dos outros, bem para além do prejuízo que o pecado de um possa ter causado aos outros. Assim, o recurso à comunhão dos santos permite ao pecador contrito se purificado, mais cedo e mais eficazmente, das penas do pecado.
1476 Esses [§125]bens espirituais da comunhão dos santos também são chamados o tesouro da Igreja, “que não é uma soma de bens comparáveis às riquezas materiais acumuladas no decorrer dos séculos, mas é o valor infinito e inesgotável que têm junto a Deus as expiações e os méritos de Cristo, nosso Senhor, oferecidos para que a humanidade toda seja libertada do pecado e chegue à comunhão com o Pai. E em Cristo, nosso redentor, que se encontram em abundância as satisfações e os méritos de sua redenção[ag126]”.
1477 “Pertence[§127], além disso, a esse tesouro o valor verdadeiramente imenso, incomensurável e sempre novo que têm junto a Deus as preces e as boas obras da Bem-aventurada Virgem Maria e de todos os santos que, seguindo as pegadas de Cristo Senhor, por sua graça se santificaram e totalmente acabaram a obra que o Pai lhes confiara, de sorte que, operando a própria salvação, também contribuíram para a salvação de seus irmãos na unidade do corpo místico[ag128].”
OBTER A INDULGÊNCIA DE DEUS MEDIANTE A IGREJA
1478 A [§129]indulgência se obtém de Deus mediante a Igreja, que, em virtude do poder de ligar e desligar que Cristo Jesus lhe concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o tesouro dos méritos de Cristo e dos santos para obter do Pai das misericórdias a remissão das penas temporais devidas a seus pecados. Assim, a Igreja não só vem em auxílio do cristão, mas também o incita a obras de piedade, de penitência e de caridade[ag130].
1479 Uma [§131]vez que os fiéis defuntos em vias de purificação também são membros da mesma comunhão dos santos, podemos ajudá-los entre outros modos, obtendo em favor deles indulgências para libertação das penas temporais devidas por seus pecados.
XI. A celebração do sacramento da Penitência
1480 Como todos os sacramentos, a Penitência é uma ação litúrgica. São estes ordinariamente os elementos da celebração: saudação e bênção do sacerdote, leitura da Palavra de Deus para iluminar a consciência e suscitar a contrição, exortação ao arrependimento; confissão que reconhece os pecados e os manifesta ao padre; imposição e aceitação da penitência; absolvição do sacerdote; louvor de ação de graças e despedida com a bênção do sacerdote.
1481 A [§132]liturgia bizantina conhece diversas fórmulas de absolvição, forma depreciativa, que exprimem admiravelmente o mistério do perdão: “Que o Deus que pelo profeta Natã perdoou a Davi, que confessou seus próprios pecados; a Pedro, quando chorou amargamente; à prostituta, quando lavou seus pés com lágrimas; ao publicano e ao filho pródigo, que esse mesmo Deus vos perdoe, por mim, pecador, nesta vida e na outra, e vos faça comparecer em seu terrível tribunal sem vos condenar, Ele que é bendito nos séculos dos séculos. Amém[ag133].
1482 O [§134]sacramento da Penitência também pode ter lugar no quadro de uma celebração comunitária, na qual as pessoas se preparam juntas para a confissão e também juntas agradecem pelo perdão recebido. Neste caso, a confissão pessoal dos pecados e a absolvição individual são inseridas numa liturgia da Palavra de Deus, com leituras e homilia, exame de consciência em comum, pedido comunitário de perdão, oração do Pai-Nosso e ação de graças em comum. Esta celebração comunitária exprime mais claramente o caráter eclesial da penitência. Mas, seja qual for o modo da celebração, o sacramento da Penitência sempre é, por sua própria natureza, uma ação litúrgica, portanto eclesial e pública[ag135].
1483 Em [§136]casos de necessidade grave, pode-se recorrer à celebração comunitária da reconciliação com confissão e absolvição gerais. Esta necessidade grave pode apresentar-se quando há um perigo iminente de morte sem que o ou os sacerdotes tenham tempo suficiente para ouvir a confissão de cada penitente. A necessidade grave pode também apresentar-se quando, tendo-se em vista o número dos penitentes, não havendo confessores suficientes para ouvir devidamente as confissões individuais num tempo razoável, de modo que os penitentes, sem culpa de sua parte, se veriam privados durante muito tempo da graça sacramental ou da sagrada Eucaristia. Nesse caso, os fiéis devem ter, para a validade da absolvição, o propósito de confessar individualmente seus pecados graves no devido tempo[ag137]. Cabe ao Bispo diocesano julgar se os requisitos para a absolvição geral existem[ag138]. Um grande concurso de fiéis por ocasião das grandes festas ou de peregrinação não constitui caso de tal necessidade grave[ag139].
1484 “A [§140]confissão individual e integral seguida da absolvição continua sendo o único modo ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, salvo se uma impossibilidade física ou moral dispensar desta confissão[ag141].” Há razões profundas para isso. Cristo age em cada um dos sacramentos. Dirige-se pessoalmente a cada um dos pecadores: “Filho, os teus pecados estão perdoados” (Mc 2,5); ele é o médico que se debruça sobre cada um dos doentes que têm necessidade dele [ag142]para curá-los; ele os soergue e reintegra na comunhão fraterna. A confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus e com a Igreja.
RESUMINDO
1485 “Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes
disse: Recebei o Espírito Santo; aqueles a quem perdoardes os pecados
ser-lhe-ão perdoados; aqueles aos quais os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo
20,22-23).
1486 O perdão dos pecados cometidos após o
Batismo é concedido por um sacramento próprio chamado sacramento da Conversão,
da Confissão, da Penitência ou da Reconciliação.
1487 Quem peca fere a honra de Deus e seu amor,
sua própria dignidade de homem chamado a ser filho de Deus e a saúde espiritual
da Igreja, da qual cada cristão é uma pedra viva.
1488 Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que
o pecado, e nada tem conseqüências piores para os próprios pecador, e para a
Igreja e para o mundo inteiro.
1489 Voltar à comunhão com Deus depois de a ter
perdido pelo pecado é um movimento que nasce da graça do Deus misericordioso e
solícito pela salvação dos homens. E preciso pedir esse dom precioso para si
mesmo e também para os outros.
1490 O movimento de volta a Deus, chamado
conversão e arrependimento, implica uma dor e uma aversão aos pecados cometidos
e o firme propósito de não mais pecar no futuro. A conversão atinge, portanto,
o passado e o futuro; nutre-se da esperança na misericórdia divina.
1491 O sacramento da Penitência é constituído de
três atos do penitente e da absolvição dada pelo sacerdote. Os atos do
penitente são o arrependimento, a confissão ou manifestação dos pecados ao
sacerdote e o propósito de cumprir a penitência e as obras de reparação.
1492 O arrependimento (também chamado contrição)
deve inspirar-se em motivos que decorrem da fé. Se o arrependimento estiver
embasado no amor de caridade para com Deus, é chamado “perfeito”; se estiver
fundado em outros motivos, será “imperfeito”.
1493 Aquele que quiser obter a reconciliação com
Deus e com a Igreja deve confessar ao sacerdote todos os pecados graves que
ainda não confessou e de que se lembra depois de examinar cuidadosamente sua
consciência. Mesmo sem ser necessária em si a confissão das faltas veniais, a
Igreja não deixa de recomendá-la vivamente.
1494 O confessor propõe ao penitente o
cumprimento de certos atos de “satisfação” ou de “penitencia”, para reparar o
prejuízo causado pelo pecado e restabelecer os hábitos próprios ao discípulo de
Cristo.
1495 Somente os sacerdotes que receberam da
autoridade da Igreja a faculdade de absolver podem perdoar os pecados em nome
de Cristo.
1496 Os efeitos espirituais do sacramento da
Penitência são:
ü
a reconciliação
com Deus, pela qual o penitente recobra a graça;
ü
a reconciliação
com a Igreja;
ü
a remissão da
pena eterna devida aos pecados mortais;
ü
a remissão, pelo
menos em parte, das penas temporais, seqüelas do pecado;
ü
a paz e a
serenidade da consciência e a consolação espiritual;
ü o acréscimo de forças espirituais para o
combate cristão.
1497 A confissão individual e integral dos pecados
graves, seguida da absolvição, continua sendo o único meio ordinário de
reconciliação com Deus e com a Igreja.
1498 Pelas indulgências, os fiéis podem obter
para si mesmos e também para as almas do Purgatório a remissão das penas
temporais, conseqüências dos pecados.
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Rev.2 de dez/2003
[ag1]Cf 2 Cor 5,1
[ag2]Cf Mc 2,1-12
[§3]980
[§5]1989,1440
[ag6]Cf Mc 1,15
[ag7]Cf Lc 15,18
[§8]1456,1449,1442
[ag9]Rito da Penitência (fórmula de absolvição), 46. 55 (Livraria Editora Vaticana 1974) p. 51. 81.
[§10]1263,2838
[ag11] Cf Gl 3,27
[§12]405,978,1264
[ag13]Cf Concílio de Trento, Sessão 5a, Decretum de peccato originali, cânone 5: DS 1515.
[ag14]Cf Concílio de Trento, Sessão 6a, Decretum de iustificatione, c. 16: DS 1545; Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium, 40: AAS 57 (1965) 44-45
[§15]541,1226
[ag16]Cf At 2,38
[§17]1036,853,1996
[ag18]Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium, 8: AAS 57 (1965) 12.
[ag19]Cf Sl 51,19
[ag20]Cf Jo 6,44; 12,32
[ag21]Cf 1 Jo 4,10
[ag22]Cf Lc 22,61-62
[ag23]Cf Jo 21,15-17
[ag24]Santo Ambrósio, Epístola extra collectionem, 1
[41], 12: CSEL 823, 152 (PL 16, 1116).
[§25]1098
[ag26]Cf Jl l 2,12-13; Is
1,16-17; Mt 6,1-6.16-18
[§27]1451,368
[ag28]Cf Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 4: DS 1676-1678; Id., Sessão 14a, Canones de Paenitentia, cânone 5: DS 1705; Catecismo Romano, 2, 5, 4: ed. P. Rodríguez (Cidade do Vaticano-Pamplona 1989) p. 289.
[§29]1989
[ag30]Cf Ez 36,26-27
[ag31]Cf Jo 19,37; Zc 12,10
[ag32]São Clemente Romano, Epístola ad Corinthios, 7, 4: SC 167, 110 (Funk 1, 108).
[§33] 729,692,1848
[ag34]Cf Jo 16,8-9
[ag35]Cf Jo 15,26
[ag36]Cf At 2,36-38; João Paulo II, Encíclica Dominum et vivificantem, 27-48: AAS 78 (1986) 837-868.
[§37]1969
[ag38]Cf Tb 12,8; Mt 6,1-18
[ag39] Cf Tg 5,20
[ag40]Cf Am 5,24; Is 1,17.
[ag41]Cf Lc 9,23
[§42]1394
[ag43]Cf Concílio de Trento, Sessão 13a, Decretum de ss. Eucharistia, c. 2: DS 1638.
[§44]540,2043
[ag45]Cf Concílio Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium, 109-110: AAS 56 (1964) 127; CIC cânone 1249-1253; CCEO cânone 880-883.
[§46]545
[ag47]Cf Lc 15,11-24
[§48]1850
[ag49]Cf Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium, 11: AAS 57 (1965) 15.
[§50] 270,431,589
[ag51]Cf Mc 2,7
[ag52]Cf Lc 7,48
[ag53]Cf Jo 20,21-23
[§54]983
[§55]545
[ag56]Cf Lc 15
[ag57]Cf Lc 19,9
[§58]981
[ag59]Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium, 22: AAS 57 (1965) 26
[§60]553
[§61]979,1856,1990
[ag62]Concílio de Trento, Sessão 6a, Decretum de iustificatione, c. 14: DS 1542; cf Tertulliano, De paenitentia, 4, 2: CCL 1, 326 (PL 1, 1343).
[§63]1481,234
[ag64]Rito da Penitência, fórmula de absolvição 46. 55 (Livraria Editora Vaticana 1974) p. 51. 81.
[ag65]Catecismo Romano, 2, 5, 21: ed. P. Rodríguez (Cidade do Vaticano-Pamplona 1989) p. 299; cf Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 3: DS 1673.
[§66]431
[ag67] Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 4: DS 1676.
[§68]1822
[ag69]Cf Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 4: DS 1677
[ag70] Cf Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 4: DS 1678; Id., Sessão 14a, Canones de sacramento Paenitentiae, cânone 5: DS 1705.
[ag71]Cf Rm 12-15; 1 Cor
12-13; Gl 5; Ef 4-6
[§72] 1424,1734
[§73]1855,1505
[ag74] Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 5: DS 1680.
[ag75]Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 5: DS 1680; cf São Jerônimo, Commentarius in Ecclesiasten, 10, 11: CCL 72, 338 (PL 23, 1096).
[§76]2042,1385
[ag77]CIC cânone 989; cf Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 5: DS 1683; Id., Sessão 14a, Canones de sacramento Paenitentiae, cânone 8: DS 1708
[ag78]Cf Concílio de Trento, Sessão 13a, Decretum de ss. Eucharistia, c. 7: DS 1647; Idem, cânone 11: DS 1661
[ag79] Cf CIC cânone 916; CCEO
cânone 711.
[ag80]Cf CIC cânone 914
[§81]1783,2468
[ag82]Cf Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 5: DS 1680; CIC cânone 988, § 2.
[ag83] Cf Lc 6,36.
[ag84] Santo Agostinho, In Iohannis evangelium tractatus, 12, 13: CCL 36, 128 (PL 35, 1491).
[§85] 2412,2487,1473
[ag86] Cf Concílio de Trento, Sessão 14a, Canones de sacramento Paenitentiae, cânone 12: DS 1712.
[§87]2447,618,2011
[ag88]Cf Rm 3,25; 1 Jo 2,1-2
[ag89]Rm 8,17; Cf Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 8: DS 1690.
[ag90]Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 8: DS 1691
[§91]981
[ag92]Cf Jo 20,23; 2 Cor 5,18
[§93]886,1567
[ag94]Cf Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium, 26: AAS 57 (1965) 32
[ag95]Cf CIC cânone 844. 967-969.
972; CCEO cânone 722, §§ 3-4
[§96]982
[ag97] Cf CIC cânone 1331; CCEO
cânone 1431. 1434
[ag98]Cf CIC cânone
1354-1357; CCEO cânone 1420
[ag99]Cf CIC cânone 976;
CCEO, cânone 725
[ag100]Cf CIC cânone 986; CCEO cânone 735; Concílio Vaticano II, Decreto Presbyterorum ordinis, 13: AAS 58 (1966) 1012.
[§101]983
[§102]1551,2690
[ag103] Cf Concílio Vaticano II, Decreto Presbyterorum ordinis, 13: AAS 58 (1966) 1012
[§104]2490
[ag105] Cf CIC cânone 983-984. 1388, § 1; CCEO cânone 1456.
[§106]2305
[ag107] Catecismo Romano, 2, 5, 18: ed. P. Rodríguez (Cidade do Vaticano-Pamplona 1989) p. 297.
[ag108] Concílio de Trento, Sessão 14a, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 3: DS 1674.
[§109]953,949
[ag110]Cf 1 Cor 12,26
[ag111]Cf Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium, 48-50: AAS 57 (1965) 53-57.
[ag112]João Paulo II, Exortação apostólica Reconciliatio et paenitentia, 31, § V: AAS 77 (1985) 265
[§113]678,1039
[ag114] Cf 1 Cor 5,11; Gl 5,19-21; Ap 22,15
[ag115] Paulo VI, Constituição apostólica Indulgentiarum doctrina, Normae, 1: AAS 59 (1967) 21
[ag116] Paulo VI, Constituição apostólica Indulgentiarum doctrina, Normae, 2: AAS 59 (1967) 21.
[ag117] CIC cânone 994
[§118]1861,1031
[ag119] Cf Concílio de Trento, Sessão 14a, Canones de sacramento Paenitentiae, cânone 12-13: DS 1712-1713; Id., Sessão 25a, Decretum de purgatorio: DS 1820
[§120]2447
[ag121]Cf Ef 4,24
[§122]946-959,795
[ag123] Paulo VI, Constituição apostólica Indulgentiarum doctrina, 5: AAS 59 (1967) 11.
[ag124]Paulo VI, Constituição apostólica Indulgentiarum doctrina, 5: AAS 59 (1967) 12.
[§125] 617
[ag126] Paulo VI, Constituição apostólica Indulgentiarum doctrina, 5: AAS 59 (1967) 11.
[§127]969
[ag128] Paulo VI, Constituição apostólica Indulgentiarum doctrina, 5: AAS 59 (1967) 11-12.
[§129]981
[ag130] Cf Paulo VI, Constituição apostólica Indulgentiarum doctrina, 8: AAS 59 (1967) 16-17; Concílio de Trento, Sessão 25a, Decretum de indulgentiis: DS 1835
[§131]1032
[§132]1449
[ag133]Euxologion to mega (Atenas 1992) p. 222
[§134]1140
[ag135]Cf Concílio Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium, 26-27: AAS 56 (1964) 107.
[§136]1401
[ag137]Cf CIC cânone
962, § 1
[ag138]Cf CIC cânone
961, § 2.
[ag139]Cf CIC cânone
961, § 1, 2
[§140]878
[ag141]Rito da Penitência, Premesse, 31 (Livraria Editora Vaticana 1974) p. 30
[ag142]Cf Mc 2,17