Catecismo da Igreja Católica

PRIMEIRA PARTE - SEGUNDA SEÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

OS SÍMBOLOS DA FÉ

CAPITULO III - ARTIGO 10: "CREIO NO PERDÃO DOS PECADOS"

976         O Símbolo dos Apóstolos correlaciona a fé no perdão  dos pecados com a fé no Espírito Santo, mas também com a fé na Igreja e na comunhão dos santos. Foi dando o Espírito Santo a seus apóstolos que Cristo ressuscitado lhes conferiu seu próprio poder divino de perdoar os pecados: "Recebei o Espírito Santo Aqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos" (Jo 20,22-23).

(A Segunda Parte do Catecismo tratará  explicitamente do perdão dos pecados pelo Batismo, pelo sacramento da Penitência e pelos outros sacramentos, sobretudo a Eucaristia. Por isso basta aqui evocar sucintamente alguns dados básicos.)

I. Um só Batismo para o perdão dos pecados

(Parágrafo relacionado 1263)

977         Nosso Senhor ligou o perdão dos pecados à fé e ao Batismo: "Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo" (Mc 16,15.16). O Batismo é o primeiro e principal sacramento do perdão dos pecados, porque nos une a Cristo morto por nossos pecados, ressuscitado para nossa justificação[a1] , para que "também vivamos vida nova" (Rm 6,4).

978         "No momento em que fazemos nossa primeira profissão de fé, recebendo o santo Batismo que nos purifica, o perdão que recebemos é tão pleno e tão completo que não nos resta absolutamente nada a apagar, seja do pecado original, seja dos pecados cometidos por nossa própria vontade, nem nenhuma pena a sofrer para expiá-los. (...) Contudo, a graça do Batismo não livra ninguém de todas as fraquezas da natureza. Pelo contrário, ainda temos de combater os movimentos da concupiscência, que não cessam de arrastar-nos para o mal[a2] ."

(Parágrafo relacionado 1264)

979         Neste combate contra a inclinação para o mal, quem seria suficientemente forte e vigilante para evitar toda ferida do pecado? "Se, portanto, era necessário que a Igreja tivesse o poder de perdoar os pecados, também era preciso que o Batismo não fosse para ela o único meio de servir-se dessas chaves do Reino dos Céus, que havia recebido de Jesus Cristo; era preciso que ela fosse capaz de perdoar as faltas a todos os penitentes, ainda que tivessem pecado até o último instante de sua vida[a3] ."

(Parágrafo relacionado 1446)

980         É pelo sacramento da Penitência que o batizado pode ser reconciliado com Deus e com a Igreja:

(Parágrafos relacionados 1422,1484)

Os Padres da Igreja com razão chamavam a Penitência de "um Batismo laborioso[a4] ". O sacramento da Penitência é necessário para a salvação daqueles que caíram depois do Batismo, assim como o Batismo é necessário para os que ainda não foram regenerados[a5] .

II. O poder das chaves

981         Depois de sua Ressurreição, Cristo enviou seus Apóstolos para "anunciar a todas as nações o arrependimento em seu Nome, em vista da remissão dos pecados" (Lc 24,47). Este "ministério da reconciliação" (2Cor 5,18) os Apóstolos e seus sucessores não o exercem somente anunciando aos homens o perdão de Deus merecido para nós por Cristo e chamando-os à conversão e à fé, mas também comunicando-lhes a remissão dos pecados pelo Batismo e reconciliando-os com Deus e com a Igreja graças ao poder das chaves recebido de Cristo:

(Parágrafos relacionados 1444,553)

A Igreja recebeu as chaves do Reino dos Céus para que se opere nela a remissão dos pecados pelo sangue de Cristo e pela ação do Espírito Santo É nesta Igreja que a alma revive, ela que estava morta pelos pecados, a fim de viver com Cristo, cuja graça nos [a6] salvou.

982         Não há  pecado algum, por mais grave que seja, que a Santa Igreja não possa perdoar. "Não existe ninguém, por mau  e culpado que seja, que não deva esperar com segurança a seu  perdão, desde que seu arrependimento seja sincero[a7] ." Cristo que morreu por todos os homens, quer que, em sua Igreja, as portas do perdão estejam sempre abertas a todo aquele que recua do pecado[a8] .

(Parágrafos relacionados 1463,605)

983         A catequese empenhar-se-á  em despertar e alimentar nos fiéis a fé na grandeza incomparável do dom que Cristo ressuscitado concedeu à sua Igreja: a missão e o poder de perdoar verdadeiramente os pecados, pelo ministério dos apóstolos de seus sucessores:

(Parágrafo relacionado 1442)

O Senhor quer que seus discípulos tenham um poder imenso: quer que seus pobres servidores realizem em seu nome tudo que havia feito quando estava na terra[a9] .

Os presbíteros receberam um poder que Deus não deu nem aos anjos nem aos arcanjos. Deus sanciona lá  no alto tudo o que os sacerdotes fazem aqui embaixo[a10] .

(Parágrafo relacionado 1465)

Se na Igreja não existisse a remissão dos pecados, não existiria nenhuma esperança, nenhuma perspectiva de uma vida eterna e de uma libertação eterna. Demos graças a Deus, que deu à Igreja tal dom[a11] .

RESUMINDO 

984         O Credo relaciona "o perdão dos pecados" com a profissão de fé no Espírito Santo Com efeito, Cristo ressuscitado confiou aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados quando lhes deu o Espírito Santo 

985         O Batismo é o primeiro e o principal sacramento para o perdão dos pecados: une-nos a Cristo morto e ressuscitado nos dá  o Espírito Santo 

986         Pela vontade de Cristo, a Igreja possui o poder de perdoar os pecados dos batizados e o exerce por meio dos Bispos e dos presbíteros de maneira habitual no sacramento da Penitência.

987         "Na remissão dos pecados, os presbíteros e os sacramentos são meros instrumentos dos quais nosso Senhor Jesus Cristo, único  autor e dispensador de nossa salvação, se apraz em se servir para apagar nossas iniqüidades e dar-nos a graça da justificação[a12] .

"ARTIGO 11

"CREIO NA RESSURREIÇÃO DA CARNE"

988         O Credo cristão - profissão de nossa fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e em sua ação criadora, salvadora e santificadora - culmina na proclamação da ressurreição dos mortos, no fim dos tempos e na vida eterna.

989         Cremos firmemente - e assim esperamos - que, da mesma forma que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos,  e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre com Cristo ressuscitado e que Ele os ressuscitará  no último dia[a13] . Como a ressurreição de Cristo,  também a nossa será  obra da Santíssima Trindade:

(Parágrafos relacionados 655,648)

Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dar  vida também aos vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós (Rm [a14] 8,11).

990         O  termo "carne" designa o homem em sua condição de fraqueza e de mortalidade[a15] . A "ressurreição da carne" significa que após a morte não haverá somente a vida da alma imortal, mas que mesmo os nossos "corpos mortais" (Rm 8,11) readquirirão vida.

(Parágrafo relacionado 364)

991         Crer na ressurreição dos mortos foi, desde os inícios, um elemento essencial da fé cristã. "Fiducia christianorum resurrectio mortuorum; ilíam credentes, sumus - A confiança dos cristãos é a ressurreição dos mortos; crendo nela, somos cristãos[a16] ":

(Parágrafo relacionado 638)

Como podem alguns dentre vós dizer que não há  ressurreição dos mortos? Se não há  ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação é vazia é também a vossa fé. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram (1Cor 15,12-14-.20).

I. A Ressurreição de Cristo e a nossa

REVELAÇÃO PROGRESSIVA DA RESSURREIÇÃO

992         A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus a seu povo. A esperança na ressurreição c corporal dos mortos foi-se impondo corno uma conseqüência intrínseca da fé em um Deus criador do homem inteiro, alma e corpo. O criador do céu e da terra é também aquele que mantém fielmente sua aliança com Abraão e sua descendência. E nesta dupla perspectiva que começará  a exprimir-se a fé na reação. Nas provações, os mártires Macabeus confessam:

(Parágrafo relacionado 297)

O Rei do mundo nos fará  ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis (2Mc 7,9). É desejável passar para a outra vida pelas mãos dos homens, tendo da parte de Deus as esperanças de ser um dia ressuscitado por Ele (2Mc [a17] 7,14).

993         Os fariseus [a18] e muitos outros contemporâneos do Senhor [a19] esperavam a ressurreição. Jesus a ensina com firmeza. Aos saduceus que a negam, ele responde: "Não é por isto que errais, desconhecendo tanto as Escrituras como o poder de Deus?" (Mc 12,24). A fé na ressurreição baseia-se na fé em Deus, que “que não é um Deus dos mortos, mas dos vivos" (Mc 12, 27).

(Parágrafos relacionados 575,205)

994         Mais ainda: Jesus liga a fé na ressurreição à sua própria pessoa: "Eu sou a ressurreição e a vida" (Jo 11,25). É Jesus mesmo quem, no último dia, há  de ressuscitar os que nele tiveram crido [a20] e que tiverem comido seu corpo e bebido seu sangue[a21] . Desde já, Ele fornece um sinal e um penhor disto, restituindo a vida a certos mortos[a22] , anunciando com isso sua própria ressurreição, que no entanto será  de outra ordem. Deste acontecimento único Ele fala como do "sinal de Jonas[a23] ", do sinal do templo[a24] : anuncia sua ressurreição, que ocorrerá  no terceiro dia depois de ser entregue à morte[a25] .

(Parágrafos relacionados 646,652)

995         Ser testemunha de Cristo é ser "testemunha de sua ressurreição" (At [a26] 1,22), "ter comido e bebido com Ele após sua ressurreição dentre os mortos" (At 10,41). A esperança cristã na ressurreição está  toda marcada pelos encontros com Cristo ressuscitado. Ressuscitaremos como Ele, com Ele, por Ele.

(Parágrafos relacionados 860,655)

996         Desde o início, a fé cristã na ressurreição deparou com incompreensões e oposições[a27] . "Em nenhum ponto a fé cristã depara com mais contradição do que em torno da ressurreição da carne[a28] ." Aceita-se muito comumente que depois da morte a vida da pessoa humana prossiga de um modo espiritual. Mas como crer que este corpo tão manifestamente mortal possa ressuscitar para a vida eterna?

(Parágrafo relacionado 643)

DE QUE MANEIRA OS MORTOS RESSUSCITAM?

997         Que é "ressuscitar"? Na morte, que é separação da alma e do corpo, o corpo do homem cai na corrupção, ao passo que sua alma vai ao encontro de Deus, ficando à espera de ser novamente unida a seu corpo glorificado. Deus, em sua onipotência, restituirá  definitivamente a vida incorruptível a nossos corpos, unindo-os às nossas almas, pela virtude da Ressurreição de Jesus.

(Parágrafo relacionado 366)

998         Quem ressuscitará ? Todos os homens que morreram: "Os que tiverem feito o bem (sairão) para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento" (Jo [a29] 5,29).

(Parágrafo relacionado 1038)

999         De que maneira? Cristo ressuscitou com seu próprio corpo: "Vede as minhas mãos e os meus pés: sou eu!" (Lc 24,39). Mas ele não voltou a uma vida terrestre. Da mesma forma, nele" ressuscitarão com seu próprio corpo, que têm agora[a30] "; porém, este corpo será  "transfigurado em corpo de g1ória[a31] ", em "corpo espiritual" (1Cor 15, 44):

(Parágrafos relacionados 640,645)

Mas, dirá  alguém, como ressuscitam os mortos? Com que corpo voltam? Insensato! O que semeias não readquire vida a não ser que morra. E o que semeias não é o corpo da futura planta que deve nascer, mas um simples grão de trigo ou de qualquer outra espécie (...) Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível (...) os mortos ressurgirão incorruptíveis. (...) Com efeito, é necessário que este ser corruptível revista a incorruptibilidade e que este ser mortal revista a imortalidade (1Cor 15,35-37.42.52-53).

1000     Este "corno" ultrapassa nossa imaginação e nosso entendimento, sendo acessível só na fé. Nossa participação na Eucaristia, no entanto, já  nos dá  um antegozo da transfiguração de nosso corpo por Cristo:

(Parágrafo relacionado 647)

Assim como o pão que vem da terra, depois de ter recebido a invocação de Deus, não é mais pão comum, mas Eucaristia, Constituída por duas realidades, uma terrestre e a outra celeste, da mesma forma os nossos corpos que participam da Eucaristia não são mais corruptíveis, pois têm a esperança da ressurreição[a32] .

(Parágrafo relacionado 1405)

1001     Quando? Definitivamente "no último dia" (Jo 6,39-40.44-54); "no fim do mundo[a33] ". Com efeito, a ressurreição [a34] dos mortos está  intimamente associada à Parusia de Cristo:

(Parágrafos relacionados 1038,673)

Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro (1Ts 4,16).

RESSUSCITADOS EM CRISTO

1002     Se é verdade que Cristo nos ressuscitará “no último dia”, também que, de certo modo, já ressuscitamos com Cristo. Pois, graças ao Espírito Santo, a vida cristã é, já  agora na terra, uma participação na morte e na ressurreição de Cristo:

(Parágrafo relacionado 655)

Fostes sepultados com Ele no Batismo, também com Ele ressuscitastes, pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos. (...) Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus (Cl 2,12;3,1).

1003     Unidos a Cristo pelo Batismo, os crentes já  participam realmente na vida celeste de Cristo ressuscitado, mas esta vida permanece "escondida com Cristo em Deus" (Cl 3,3). "Com ele nos ressuscitou e fez-nos sentar nos céus, em Cristo Jesus" (Ef 2,6). Nutridos com seu Corpo na Eucaristia, já  pertencemos ao Corpo de Cristo. Quando ressuscitarmos, no último dia, nós também seremos "manifestados com Ele cheios de glória" (Cl 3,3).

(Parágrafos relacionados 1227,2796)

1004     Enquanto aguardam esse dia, o corpo e a alma do crente participam desde já  da dignidade de ser "de Cristo"; daí a exigência do respeito para com seu próprio corpo, mas também para com o de outrem, particularmente quando este sofre:

(Parágrafos relacionados 364,1397)

O corpo é para o Senhor, e o Senhor é para o corpo. Ora, Deus, que ressuscitou o Senhor, ressuscitará  também a nós por seu poder. Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? (...) Não pertenceis a vós mesmos. (...) Glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo (1Cor 6,5.19-20).

II. Morrer em Cristo Jesus

1005     Para ressuscitar com Cristo é preciso morrer com Cristo, é preciso "deixar a mansão deste corpo para ir morar junto do Senhor" (2 Cor 5,8). Nesta "partida[a35] " que é a morte, a alma é separada do corpo. Ela será  reunida a seu corpo no dia da ressurreição dos mortos[a36] 

(Parágrafos relacionados 624,650)

A MORTE

1006     "É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto[a37] ." Em certo sentido, a morte corporal é natural; mas para a fé ela é na realidade "salário do pecado" (Rm [a38] 6,23). E, para os que morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do Senhor, a fim de poder participar também de sua Ressurreição[a39] .

(Parágrafos relacionados 164,1500)

1007     A morte é o termo da vida terrestre. Nossas vidas são medidas pelo tempo, ao longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece com todos os seres vivos da terra, a morte aparece como o fim normal da vida. Este aspecto da morte marca nossas vidas com um caráter de urgência: a lembrança de nossa mortalidade serve também para recordar-nos de que temos um tempo limitado para realizar nossa vida:

Lembra-te de teu Criador nos dias de tua mocidade (...) antes que o pó volte à terra donde veio, e o sopro volte a Deus, que o concedeu (Ecl 12,1.7).

1008     A morte é conseqüência do pecado. Intérprete autêntico das afirmações da Sagrada Escritura [a40] e da tradição, o magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por causa do pecado do homem[a41] . Embora o homem [a42] tivesse uma natureza mortal, Deus o destinava a não morrer. A morte foi, portanto, contrária aos desígnios de Deus criador e entrou no mundo como  conseqüência do pecado[a43] . "A morte corporal, à qual o homem teria sido subtraído se não tivesse pecado", é assim "o último inimigo" do homem a ser vencido (1 Cor 15,26).

(Parágrafos relacionados 401,376)

1009     A morte é transformada por Cristo. Jesus, o Filho de Deus sofreu também Ele a morte, própria da condição humana. Todavia, apesar de seu pavor diante dela[a44] , assumiu-a em um ato de submissão total e livre à vontade de seu Pai. A obediência de Jesus transformou a maldição da morte em bênção[a45] .

(Parágrafo relacionado 612)

O SENTIDO DA MORTE CRISTÃ

(Parágrafos relacionados 1681,1690)

1010     Graças  a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. “Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos" (2Tm 1,11).  A novidade essencial da morte cristã está  nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente "morto com Cristo", para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este "morrer com Cristo" e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor:

(Parágrafo relacionado 1220)

É bom para mim morrer em ("eis") Cristo Jesus, melhor do que reinar até as extremidades da terra. É a Ele que procuro, Ele que morreu por nós: é Ele que quero, Ele que ressuscitou por nós. Meu nascimento aproxima-se. (...) Deixai-me receber a pura luz; quando tiver chegado lá, serei homem[a46] .

1011     Na morte, Deus chama o homem a si. É por isso que o cristão pode sentir, em relação à morte, um desejo semelhante ao de São Paulo: "O meu desejo é partir e ir estar com Cristo" (Fl 1,23); e pode transformar sua própria morte em um ato de obediência e de amor ao Pai, a exemplo de Cristo[a47] :

(Parágrafos relacionados 1025)

Meu desejo terrestre foi crucificado; (...) há em mim uma  água viva que murmura e que diz dentro de mim: "Vem para o Pai[a48] ".

Quero ver a Deus, e para vê-lo é preciso morrer[a49] .

Eu não morro, entro na vida[a50] .

1012     A visão cristã da morte [a51] é expressa de forma privilegiada na liturgia da Igreja:

Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível[a52] 

1013     A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir seu destino último. Quando tiver terminado "o único curso de nossa vida terrestre[a53] ", não voltaremos mais a outras vidas terrestres. "Os homens devem morrer uma só vez" (Hb 9,27). Não existe "reencarnação" depois da morte.

1014     A Igreja nos encoraja à preparação da hora de nossa morte ("Livra-nos, Senhor, de uma morte súbita e imprevista": antiga ladainha de todos os santos, a pedir à Mãe de Deus que  interceda por nós "na hora de nossa morte" (oração da "Ave-Maria") e a entregar-nos a São José, padroeiro da boa morte:

(Parágrafos relacionados 2676-2677)

Em todas as tuas ações, em todos os teus pensamentos deverias comportar-te como se tivesses de morrer hoje. Se tua consciência estivesse tranqüila, não terias muito medo da morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã[a54] ?

Louvado sejais, meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal, da qual homem algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal, felizes aqueles que ela encontrar conforme a vossa santíssima vontade, pois a segunda morte não lhes fará  mal[a55] .

RESUMINDO

1015     "Caro salutis est cardo" (A carne é o eixo da salvação[a56] ). Cremos em Deus, que é o criador da carne; cremos no Verbo feito carne para redimir a carne; cremos na ressurreição da carne, consumação da criação e da redenção da carne.

1016     Pela morte, a alma é separada do corpo, mas na ressurreição Deus restituirá  a vida incorruptível ao nosso corpo transformado, unindo-o novamente à nossa alma. Assim como Cristo ressuscitou e vive para sempre, todos nós ressuscitaremos no último dia.

1017     "Cremos na verdadeira ressurreição desta carne que possuímos agora[a57] . " Contudo, semeia-se no túmulo um corpo corruptível, ele ressuscita um corpo incorruptível[a58] , um corpo espiritual" (1 Cor 15,44).

1018     Em conseqüência do pecado original, o homem deve sofrer "a morte corporal, à qual teria sido subtraído se não tivesse pecado[a59] ".

1019     Jesus, o Filho de Deus, sofreu livremente a morte por nós em uma submissão total e livre à vontade de Deus, seu Pai. Por sua morte ele venceu a morte, abrindo, assim, a todos os homens a possibilidade da salvação.

 

 

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Rev.2 de  dez/2003


 [a1] Cf. Rm  4,25

 [a2] Catecismo Romano 1,11,3.

 [a3] Catecismo Romano 1,11,4

 [a4] S.  Gregorio de Nazianzeno., or. 39, 17 : PG 36, 356A 

 [a5]Concilio de  Trento : DS 1672

 [a6] S.  Agostinho, serm. 214, 11 : PL 38, 1071-1072

 [a7]Catecismo  Romano1, 11, 5 

 [a8] cf. Mt 18, 21-22 

 [a9]S.  Ambrósio, pœnit. 1, 34 : PL 16, 477A 

 [a10]S.  João Crisóstomo, sac. 3, 5 : PG 48, 643A 

 [a11]S.  Agostinho, serm. 214, 11 : PL 38, 1071-1072

 [a12]Catecismo  Romano 1, 11, 6 

 [a13]cf. Jo 6, 39-40 

 [a14] cf. 1 Ts 4, 14 ; 1 Cor 6, 14 ; 2 Cor 4, 14 ; Fl 3, 10-11 

 [a15]cf. Gn 6, 3 ; Sl 56, 5 ; Is 40, 6 

 [a16]Tertuliano res. 1, 1 

 [a17]cf. 2 Mc 7, 29 ; Dn 12, 1-13 

 [a18]cf. At 23, 6

 [a19]cf. Jo 11, 24 

 [a20]cf. Jo 5, 24-25 ; 6, 40 

 [a21]cf. Jo 6, 54 

 [a22]cf. Mc 5, 21-42 ; Lc 7, 11-17 ; Jo 11 

 [a23]Mt 12, 39-40 

 [a24]cf. Jo 2, 19-22 

 [a25]cf. Mc 10, 34 

 [a26] cf. At 4, 33 

 [a27]cf. At 17, 32 ; 1 Cor 15, 12-13 

 [a28]S.  Agostinho, Psal. 88, 2, 5 

 [a29]cf. Dn 12, 2 

 [a30]Concilio de  Latrão IV : DS 801 

 [a31] Fl 3, 21 

 [a32] S.  Irineu, hær. 4, 18, 4-5 

 [a33]Lumen gentium; Constituição; Vaticano II; 21/11/64; item  48 

 [a34]cf. Fl 3, 20 

 [a35]Fl 1, 23 

 [a36]cf. Credo do Povo de Deus: profissão de fé solene; Motu Proprio; Paulo VI; 30/06/68 item 28 

 [a37]Constituição do Vaticano II; 07/12/65  - Gaudium et spes item 18  

 [a38]cf. Gn 2, 17 

 [a39] cf, Rm 6,3-9 ; Fl 3,10-11

 [a40] cf. Gn 2, 17 ; 3, 3 ; 3, 19 ; Sb 1, 13 ; Rm 5, 12 ; 6, 23 

 [a41] cf. DS 1511   

 [a42]cf. Sb 2, 23-24 

 [a43]Constituição do Vaticano II; 07/12/65  - Gaudium et spes nº 18 

 [a44]cf. Mc 14, 33-34 ; Hb 5, 7-8 

 [a45]cf. Rm 5, 19-21 

 [a46]S.  Inácio de Antioquia, Rom. 6, 1-2 

 [a47]cf. Lc 23, 46 

 [a48]S.  Inácio de Antioquia, Rom. 7, 2 

 [a49]Sta. Teresa de Jesus, Poesia 7 

 [a50]Sta. Terezinha do Menino Jesus, carta 

 [a51]cf. 1 Ts 4, 13-14 

 [a52]MR, Prefácio dos defuntos 

 [a53]Lumen gentium; Constituição; Vaticano II; 21/11/64; item  48 

 [a54]Imitação de Cristo 1, 23, 1 

 [a55] São Francisco de Assis, cântico das criaturas

 [a56]Tertuliano, res. 8, 2 

 [a57]DS 854 

 [a58]cf. 1 Cor 15, 42 

 [a59]Constituição do Vaticano II; 07/12/65  - Gaudium et spes nº 18