COMPÊNDIO DO CATECISMO DA
IGREJA CATÓLICA |
|
A vida em Cristo
Primeira Seção
A vocação do Homem
A vida no Espírito
357. Como a vida
moral cristã está ligada à fé e aos sacramentos?
Aquilo que o Símbolo da fé
professa, os sacramentos o comunicam. Com efeito, com eles os fiéis recebem a
graça de Cristo e os dons do Espírito Santo, que os tornam capazes de viver a
nova vida de filhos de Deus em Cristo aceito com a fé.
1691-1698
"Reconhece, ó cristão, a tua dignidade" (São Leão Magno).
CAPITULO PRIMEIRO
A dignidade da pessoa
humana
O HOMEM IMAGEM DE DEUS
358. Qual é o fundamento
da dignidade humana?
A dignidade
da pessoa humana está fundamentada na criação à imagem e semelhança de Deus.
Dotada de uma alma espiritual e imortal, de inteligência e de livre vontade, a
pessoa humana está ordenada a Deus e chamada, com a sua alma e o seu corpo, à
bem-aventurança eterna.
1699-1715
A NOSSA VOCAÇÃO À BEM-AVENTURANÇA
359. O homem atinge
a bem-aventurança?
O homem atinge
a bem-aventurança em virtude da graça de Cristo, que o torna participante da vida divina. Cristo, no Evangelho,
aponta aos seus o caminho que leva à felicidade sem fim: as Bem-aventuranças. À
graça de Cristo opera também em
todo homem que, seguindo a reta consciência, procura e ama a verdade e o bem, e
evita o mal.
1716
360. Por que as bem-aventuranças são importantes para nós?
As bem-aventuranças estão no centro da pregação de
Jesus, retomam e levam à
perfeição as promessas de Deus, feitas a partir de Abraão, Pintam o próprio rosto de Jesus, caracterizam a autêntica
vida cristã e desvendam ao homem o fim ultimo de seu agir: a bem-aventurança
eterna.
1716-1717
1725-1726
361. Como se
relacionam as bem-aventuranças com o desejo de felicidade do homem?
Elas
respondem ao desejo natural de felicidade que Deus pôs no coração do homem para
o atrair a si e que somente ele pode saciar.
1718-1719
362. O que é a
bem-aventurança eterna?
É a visão de Deus, na vida eterna, na qual nós entraremos plenamente
"em comunhão com a natureza divina" (2 Pd 1,4), com a glória de
Cristo e com o gozo da vida trinitária. A bem-aventurança ultrapassa as
capacidades humanas: é um dom sobrenatural e gratuito de Deus, como a graça que
a ela conduz. A bem-aventurança prometida nos põe diante de escolha: morais
decisivas com relação aos bens terrenos, estimulando-nos a amar a Deus acima de
todas as coisas.
1720-1724 1727-1729
A LIBERDADE DO HOMEM
É o poder dado por Deus ao homem de agir ou de não agir, de fazer isto ou
aquilo, de estabelecer assim por si mesmo ações deliberadas. A liberdade
caracteriza os atos propriamente humanos. Quanto mais fazemos o bem, tanto mais
nos tornamos livres. A liberdade atinge a própria perfeição quando está
ordenada a Deus, sumo Bem e nossa Bem-aventurança. A liberdade implica também a
possibilidade de escolher entre o bem e o mal. A escolha do mal é um abuso da
liberdade, que leva à escravidão do pecado.
1730-1733 1743-1744
364. Que relação
existe entre liberdade e responsabilidade?
A liberdade
toma o homem responsável pelos seus atos na medida em que são voluntários,
ainda que a imputabilidade e a responsabilidade de uma ação possam ficar
diminuídas e às vezes ser anuladas pela ignorância, pela inadvertência, pela
violência sofrida, pelo medo, pelas afeições imoderadas, pelos hábitos.
1734-1737 1745-1746
365. Por que todo
homem tem direito ao exercício da liberdade?
O direito ao exercício da
liberdade é próprio de todo homem, porquanto é inseparável da sua dignidade de
pessoa humana. Portanto, esse direito deve ser sempre respeitado,
particularmente no campo moral e religioso,
e deve ser civilmente reconhecido e protegido nos limites do bem comum
e da justa ordem pública.
1738-1747
366. Como se situa a
liberdade humana na ordem da salvação?
A nossa
liberdade está fraca por causa do primeiro pecado. O enfraquecimento se torna mais agudo pelos pecados
sucessivos. Mas Cristo "nos
libertou para sermos verdadeiramente
livres" (Gl 5,1). Com a sua graça o Espírito Santo nos conduz à liberdade espiritual, para nos fazer seus livres
colaboradores na Igreja e no mundo.
1739-1742
1748
367. Quais são as
fontes da moralidade dos atos humanos?
A moralidade
dos atos humanos depende de três fontes: do objeto escolhido, ou
seja, um bem verdadeiro ou aparente; da intenção do sujeito que age, ou seja, do fim pelo qual ele realiza a ação;
das circunstâncias da ação, inclusive as conseqüências.
1749-1754
1757-1758
368. Quando o ato é
moralmente bom?
O ato é
moralmente bom quando supõe ao mesmo tempo a bondade do objeto, do fim e das
circunstâncias. O objeto escolhido pode, sozinho, viciar toda a ação, ainda que a intenção seja boa. Não é lícito fazer o mal para que dele venha
um bem. Um fim mau pode corromper a ação, ainda que o seu objeto, em si, seja
bom. Ao contrário, um fim bom não torna bom um comportamento que por seu objeto
é mau, porquanto o fim não justifica os meios. As circunstâncias podem atenuar
ou aumentar a responsabilidade de quem age, mas não podem modificar a qualidade
moral dos próprios atos, jamais tornam boa uma ação em si má.
1755-1756
1759-1760
369. Há atos que são
sempre ilícitos?
Há atos cuja
escolha é sempre ilícita por motivo do seu objeto (por exemplo, a blasfêmia, o homicídio, o adultério). A escolha deles
comporta uma desordem da
vontade, ou seja, um mal moral,
que não pode ser justificado com
o recurso aos bens que eventualmente dele pudessem derivar.
1756,1761
A MORALIDADE DAS PAIXÕES
As paixões são os afetos, as emoções ou os
movimentos da sensibi1idade –
componentes naturais da psicologia humana – que estimulam a agir ou não agir em
vista do que é percebido como bom ou como mau ou a não agir em vista do que é percebido como bom ou como mau. As
principais são o amor e o ódio, o desejo e o temor, a alegria, a tristeza, a
cólera. A paixão principal é o amor, provocado pela atração do bem. Não se ama
senão o bem, verdadeiro ou aparente.
1762-1766 1771-1772
371. As paixões
são moralmente boas ou más?
As paixões, como movimentos da sensibilidade, não são nem boas nem más
em si mesmas: são boas quando contribuem para uma ação boa; são más em caso
contrário. Elas podem ser assumidas em virtudes ou pervertidas em vícios.
1767-1770 1773-1775
A CONSCIÊNCIA MORAL
372. O que é a
consciência moral?
A consciência moral, presente no íntimo da pessoa, é um juízo da razão,
que, no momento oportuno, impõe ao homem fazer o bem e evitar o mal. Graças a
ela a pessoa humana percebe a qualidade moral de um ato a ser realizado ou já
realizado, permitindo-lhe assumir sua responsabilidade. Quando escuta a
consciência moral, o homem prudente pode ouvir a voz de Deus que lhe fala.
1776-1780 1795-1797
373. O que implica a
dignidade da pessoa em relação à consciência moral?
A dignidade da pessoa
humana implica a retidão da consciência moral (ou seja, que esteja de acordo
com o que é justo e bom segundo a razão e a Lei divina). Por motivo da mesma
dignidade pessoal, o homem não deve ser obrigado a agir contra a consciência e
não se deve sequer impedi-lo dentro dos limites do bem comum, de operar em
conformidade com ela, sobretudo no campo religioso.
1780-1782 1798
374. Como se forma a
consciência moral para que seja reta e verídica?
A consciência moral reta e verídica forma-se com a educação, com a
assimilação da Palavra de Deus e do ensinamento da Igreja. É sustentada pelos
dons do Espírito Santo e ajudada pelos conselhos de pessoas sábias. Além disso,
para a formação moral concorrem muito a oração e o exame de consciência.
1783-1788 1799-1800
375. Que normas a
consciência deve sempre seguir?
Há três mais
gerais: 1) jamais é permitido fazer o mal para que dele provenha um bem; 2) a
chamada Regra de ouro: "Tudo aquilo que quereis que os homens façam
a vós, fazei-o vós mesmos a eles" (Mt 7,12); 3) A caridade passa sempre
pelo respeito do próximo e da sua consciência, ainda que isso não signifique
aceitar como um bem o que é objetivamente um mal.
1789
376. A
consciência moral pode emitir juízos errôneos?
A pessoa deve sempre obedecer ao juízo certo da própria consciência,
mas pode emitir também juízos errôneos, por causas nem sempre isentas de culpa
pessoal. Não é, porém, imputável à pessoa o mal realizado por ignorância involuntária,
ainda que isso seja objetivamente um mal. É, portanto, necessário esforçar-se
para corrigir a consciência moral dos seus erros.
1790-1794 1801-1802
377. O que é a virtude?
A virtude é uma disposição habitual e firme de fazer o bem. "O fim
de uma vida virtuosa consiste em se tomar semelhante a Deus" (São Gregório
de Nissa). Há virtudes humanas e virtudes teologais.
1803,1833
378. O que são as
virtudes humanas?
As virtudes
humanas são perfeições habituais e estáveis da inteligência e da vontade, que
regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e orientam a nossa conduta em
conformidade com a razão e a fé. Adquiridas e fortalecidas por meio de atos
moralmente bons e repetidos, são purificadas e elevadas pela graça divina.
1804
1810-1811 1834,1839
379. Quais são as
principais virtudes humanas?
São as
virtudes denominadas cardeais, que agrupam todas as demais e que
constituem os eixos da vida virtuosa. São elas: prudência, justiça, fortaleza e
temperança.
1805 1834
380. O que é a prudência?
A prudência dispõe a razão a discernir, em cada circunstância, o nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para o pôr em prática. Ela guia as outras virtudes, indicando-lhes regra e medida.
1806 1835
A justiça
consiste na vontade constante e firme de dar aos outros o que lhes é devido. A
justiça para com Deus é chamada de "virtude de religião".
1807 1836
A fortaleza
assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem, chegando
até a capacidade do eventual sacrifício da própria vida por uma causa justa.
1808 1837
A temperança
modera a sedução dos prazeres, garante o domínio da vontade sobre os instintos
e dá capacidade de equilíbrio no uso dos bens criados.
1809 1838
384. O que são as
virtudes teologais?
São as
virtudes que têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus.
Infundidas no homem com a graça santificante, elas nos tornam capazes de viver em
relação com a Trindade e fundamentam e animam c agir moral do cristão,
vivificando as virtudes humanas. São o penhor da presença e da ação do Espírito
Santo nas faculdades do ser humano.
1812-1813
1840-184:
385. Quais são as
virtudes teologais?
As virtudes teologais são fé, esperança e
caridade.
1813
A fé é a
virtude teologal pela qual nós cremos em Deus e em tudo o que ele nos revelou e
que a Igreja nos propõe crer, porque Deus é a própria Verdade. Com a fé o homem
se abandona livremente em Deus Por isso, o fiel procura conhecer e fazer a
vontade de Deus, porque "a age
pelo amor" (Gl 5,6).
1814-1816
1842
A esperança é
a virtude teologal pela qual nós desejamos e esperamos de Deus a vida eterna como
nossa felicidade, repondo nossa confiança nas promessas de Cristo e
apoiando-nos o auxílio da graça do Espírito Santo para merecê-la e perseverar
até o fim da vida terrena.
1817-1821
1845
A caridade é a virtude teologal pela qual nós amamos a Deus acima de
tudo e o nosso próximo como nós mesmos por amor de Deus. Jesus faz dela o
mandamento novo, a plenitude da Lei. Ela é "o vínculo perfeito" (Cl
3,14) e o fundamento das outras virtudes, que anima, inspira e ordena: sem ela
"não sou nada" e "nada lucro" (1 Cor 13,1-3).
1822-1829 1844
389. O que são os
dons do Espírito Santo?
Os dons do
Espírito Santo são disposições permanentes que tomam o homem dócil para seguir
as inspirações divinas. São sete: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza,
ciência, piedade e temor de Deus.
1830-1831 1845
390. O que são os
frutos do Espírito Santo?
Os frutos do
Espírito Santo são perfeições plasmadas em nós como primícias da glória eterna.
A tradição da Igreja enumera doze: "Caridade, alegria, paz, paciência,
longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia,
continência, castidade" (Gl 5,22-23 vulgata).
1832
O PECADO
391. O que comporta em nós o acolhimento da misericórdia de Deus?
Comporta que reconheçamos as nossas culpas, arrependendo-nos dos nossos
pecados. O próprio Deus, com a sua Palavra e o seu Espírito, desvela os nossos
pecados, dá-nos a verdade da consciência e a esperança do perdão.
1846-1848 1870
O pecado é
"uma palavra, um ato ou um desejo contrários à Lei eterna" (Santo
Agostinho). É uma ofensa a Deus, na desobediência a seu amor. Ele fere a
natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. Cristo na sua Paixão
desvela plenamente a gravidade do pecado e o vence com a sua misericórdia.
1849-1851 1871-1872
393. Existe uma
variedade de pecados?
A variedade
dos pecados é grande. Eles podem ser distintos segundo seu objeto ou segundo as
virtudes ou os mandamentos aos quais se opõem. Podem-se referir diretamente a
Deus, ao próximo ou a nós mesmos. Além disso, podem-se distinguir pecados de pensamento, de palavra, de ação e
de omissão.
1852-1853 1873
394.
Como se distingue o pecado, em relação à gravidade?
Distingue-se em pecado mortal e venial.
1854
395. Quando se comete
o pecado mortal?
Comete-se o pecado mortal quando ao mesmo tempo há matéria grave, plena
consciência e consenso deliberado. Esse pecado destrói em nós a caridade,
priva-nos da graça santificante, leva-nos à morte eterna do inferno se não nos
arrependermos. É perdoado ordinariamente mediante os sacramentos do Batismo e
da Penitência ou Reconciliação.
1855-1861 1874
396. Quando se
comete o pecado venial?
Comete-se o
pecado venial, que se diferencia essencialmente do pecado mortal, quando se tem
matéria leve, ou também grave, mas sem plena consciência ou total consenso. Ele
não rompe a aliança com Deus, mas enfraquece a caridade, manifesta uma afeição
desordenada pelos bens criados; obstaculiza os progressos da alma no exercício
das virtudes e na prática do bem moral; merece penas purificadoras temporais.
1862-1864
1875
397. Como prolifera
em nós o pecado?
O pecado leva ao pecado, e a sua
repetição gera o vício.
1865,1876
Os vícios, sendo o contrário das virtudes, são hábitos perversos que
ofuscam a consciência e inclinam ao mal. Os vícios podem estar unidos aos sete
pecados chamados capitais, que são: soberba, avareza, inveja, ira,
impureza, gula, preguiça ou acídia.
1866-1867
399. Existe uma
responsabilidade nossa nos pecados cometidos pelos outros?
Existe essa responsabilidade quando neles
cooperamos com culpa.
1868
400. O que são as estruturas
do pecado?
São situações sociais ou institucionais
contrárias à lei divina, expressão e efeito de pecados pessoais.
1869
CAPÍTULO SEGUNDO
A comunidade humana
A PESSOA E A SOCIEDADE
401. Em que consiste
a dimensão social do homem?
Junto com o chamado pessoal à bem-aventurança, o homem tem a dimensão
social como componente essencial da sua natureza e da sua vocação. Com efeito,
todos os homens são chamados ao mesmo fim: o próprio Deus. Existe uma certa
semelhança entre a comunhão das Pessoas divinas e a fraternidade que os homens
devem instaurar entre si na verdade e na caridade; o amor do próximo é
inseparável do amor por Deus.
1877-1880 1890-1891
402. Qual é a
relação entre a pessoa e a sociedade?
Princípio, sujeito e fim de todas as situações sociais é e deve ser a pessoa.
Algumas sociedades, como a família e a comunidade civil, são necessárias a
ela. São úteis também outras associações, tanto dentro das comunidades
políticas como no plano internacional, no respeito do princípio de subsidiariedade.
1881-1882 1892-1893
403. O que indica o
princípio de subsidiariedade?
Esse princípio indica que uma sociedade de ordem superior não deve
assumir a tarefa própria de uma sociedade de ordem inferior; privando-a das
suas competências, mas deve, antes, apoiá-la em caso de necessidade.
1883-1885 1894
404. O que mais
exige uma autêntica convivência humana?
Exige respeitar a justiça, a justa hierarquia dos valores, e subordinar
as dimensões materiais e instintivas às interiores e espirituais. Em
particular, onde o pecado perverte o clima social, é preciso fazer apelo à
conversão dos corações e à graça de Deus para obter mudanças sociais que
estejam realmente a serviço de toda pessoa e da pessoa toda. A caridade, que
exige e nos toma capazes da prática da justiça, é o maior mandamento social.
1886-1889 1895-1896
A PARTICIPAÇÃO NA VIDA SOCIAL
405. Sobre que se
fundamenta a autoridade na sociedade?
Toda comunidade humana tem necessidade de uma autoridade legítima que
assegure a ordem e contribua para a realização do bem comum. Essa autoridade
encontra o próprio fundamento na natureza humana, porque corresponde à ordem
estabelecida por Deus.
1897-1902 1918-1920
406. Quando a
autoridade é exercida de modo legítimo?
A autoridade é
exercida de modo legítimo quando age para o bem comum e, para o conseguir, usa
meios moralmente lícitos. Por isso os regimes políticos devem ser determinados
pela livre decisão dos cidadãos e devem respeitar o princípio do "Estado
de direito", no qual é soberana a lei e não a vontade arbitrária dos
homens. As leis injustas e as medidas contrárias à ordem moral não são
obrigatórias para as consciências.
1901
1903-1904 1921-1922
Por bem comum se entende o conjunto
das condições de vida social que permitem aos grupos e aos indivíduos realizar
a própria perfeição.
1905-1906 1924
408. O que inclui o
bem comum?
O bem comum
inclui: o respeito e a promoção dos direitos fundamentais da pessoa; o
desenvolvimento dos bens espirituais e temporais das pessoas e da sociedade; a
paz e a segurança de todos.
1907-1909
1925
409. Onde se realiza
de maneira mais importante o bem comum?
A realização
mais completa do bem comum está nas comunidades políticas que defendem e promovem
o bem dos cidadãos e dos organismos intermediários, sem esquecer o bem
universal da família humana.
1910-1912 1927
410. Como o homem
participa da realização do bem comum?
Todo homem,
segundo o lugar e o papel que ocupa, participa da promoção do bem comum,
respeitando as leis justas e se encarregando dos setores de que tem
responsabilidade pessoal, como o cuidado da própria família e o empenho no
próprio trabalho. Os cidadãos, além disso, quando possível, devem tomar parte
ativa na vida pública.
1913-1917
1926
A JUSTIÇA SOCIAL
411. Como a
sociedade garante a justiça social?
A sociedade
garante a justiça social quando respeita a dignidade e os direitos da pessoa,
fim próprio da mesma sociedade. Além disso, a sociedade persegue a justiça
social, que está ligada ao bem comum e ao exercício da autoridade, quando
fornece as condições que permitam às associações e aos indivíduos conseguir
aquilo a que têm direito.
1928-1933
1943-1944
412. Sobre que se
fundamenta a igualdade entre os homens?
Todos os homens
gozam de igual dignidade e direitos fundamentais, porquanto, criados à imagem
do único Deus e dotados de uma mesma alma racional, têm a mesma natureza e
origem e são chamados, em Cristo único salvador, à mesma bem-aventurança
divina.
1934-1935
1945
413. Como avaliar as
desigualdades entre os homens?
Há iníquas desigualdades econômicas e sociais que atingem milhões de
seres humanos; elas estão em contraste com o Evangelho, são contrárias à
justiça, à dignidade das pessoas, à paz. Mas há também diferenças entre os
homens, causadas por vários fatores, que fazem parte do plano de Deus. Com
efeito, Ele quer que cada qual receba dos outros aquilo de que tem necessidade
e que aqueles que têm "talentos" particulares os partilhem com os
outros. Essas diferenças estimulam e muitas vezes obrigam as pessoas à
magnanimidade, à benevolência e à partilha, e motivam as culturas a mútuos
enriquecimentos.
1936-1938 1946-1047
414. Como se exprime a solidariedade humana?
A
solidariedade, que brota da fraternidade humana e cristã, exprime se em
primeiro lugar na justa divisão dos bens, na justa remuneração do trabalho e no
esforço por uma ordem social mais justa. A virtude da solidariedade
realiza também a partilha dos bens espirituais da fé, ainda mais importante que os materiais.
1939-1942 1948
CAPÍTULO TERCEIRO
A salvação de Deus: a Lei e a graça
A LEI MORAL
A lei moral é
obra da Sabedoria divina. Prescreve ao homem os caminhos, as normas de conduta que
levam à bem-aventurança prometida e estabelecem os caminhos que afastam de
Deus.
1950-1953
1975-1978
416. Em que
consiste a lei moral natural?
A lei natural, inscrita pelo Criador no coração de todo homem, consiste
numa participação da sabedoria e da bondade de Deus e exprime o sentido moral
originário, que permite ao homem discernir, por meio da razão, o bem e o mal.
Ela é universal e imutável e proporciona a base dos deveres e dos direitos
fundamentais da pessoa, bem como da comunidade humana e da própria lei civil.
1954-1960 1978-1979
417. Essa lei é
percebida por todos?
Por causa do pecado, a lei natural nem
sempre e nem por todos é percebida igualmente de modo claro e imediato. 1960
Por isso Deus "escreveu nas tábuas da Lei o que os homens não conseguiam ler em seus corações" (Santo Agostinho).
418. Qual é a relação
entre a lei natural e a Lei antiga?
A Lei antiga
é o primeiro estágio da Lei revelada. Ela exprime muitas verdades que são
naturalmente acessíveis à razão e que se encontram assim afirmadas e
autenticadas nas Alianças da salvação. As suas prescrições morais, que se
resumem nos Dez Mandamentos do Decálogo, assentam as bases da vocação do homem,
proíbem o que é contrário ao amor de Deus e do próximo e prescrevem o que lhe é
essencial.
1961-1962 1980
419. Como se
situa a Lei antiga no plano da salvação?
A Lei antiga permite conhecer muitas
verdades acessíveis à razão, indica o que se deve ou não se deve fazer e,
sobretudo, como faz um sábio pedagogo,
prepara e dispõe à conversão e ao acolhimento do Evangelho. Todavia, mesmo
sendo santa, espiritual e boa, a Lei antiga é ainda imperfeita, pois não dá por
si mesma a força e a graça do Espírito para observá-la.
1963-1964 1982
420. O que é a nova
Lei ou Lei evangélica?
A nova Lei ou
Lei evangélica, proclamada e realizada por Cristo, é a plenitude e o
cumprimento da Lei divina, natural e revelada. Está resumida no mandamento de
amar a Deus e ao próximo e de nos amar como Cristo nos amou; é também uma
realidade interior ao homem: a graça do Espírito Santo que torna possível esse
amor. É a "Lei da liberdade" (Tg 1,25) porque leva a agir
espontaneamente sob o impulso do amor.
1965-1972
1983-1985
"A nova lei é principalmente a própria graça do Espírito Santo, que é dada aos que crêem em Cristo" (Santo Tomás de Aquino).
421. Onde se
encontra a nova Lei?
A nova Lei
encontra-se em toda a vida e pregação de Cristo e na catequese moral dos
Apóstolos: o Discurso da Montanha é sua principal expressão.
1971-1974 1986
GRAÇA E JUSTIFICAÇÃO
A justificação é a obra por excelência do amor de Deus. É a ação
misericordiosa e gratuita de Deus, que cancela os nossos pecados e nos torna
justos e santos em todo o nosso ser. Isso acontece por meio da graça do
Espírito Santo, que nos foi merecida pela paixão de Cristo e nos é dada no
Batismo. A justificação dá início à livre resposta do homem, ou seja, a fé em
Cristo e a colaboração com a graça do Espírito Santo.
1987-1995 2017-2020
423. O que é a graça
que justifica?
A graça é o dom gratuito que Deus
nos dá para nos tornar participantes da sua vida trinitária e capazes de agir
por seu amor. É chamada graça habitual ou santificante ou deificante,
porque nos santifica e diviniza. É sobrenatural, porque depende
inteiramente da iniciativa gratuita de Deus e supera as capacidades da
inteligência e das forças do homem. Escapa, portanto, à nossa experiência.
1996-1998 2005,2021
424. Que outros
tipos de graça existem?
Além da graça habitual,
há: as graças atuais (dons circunstanciais); as graças sacramentais (dons
próprios de cada sacramento); as graças especiais ou carismas (que têm como fim
o bem comum da Igreja), entre os quais as graças de estado (que acompanham o
exercício dos ministérios eclesiais e das responsabilidades da vida).
1999-2000 2003-2004 2023-2024
425. Qual é a
relação entre a graça e a liberdade do homem?
A graça
antecede, prepara e suscita a livre resposta do homem. Ela responde às profundas
aspirações da liberdade humana, convida-a a colaborar e a conduz à sua
perfeição.
2001-2002
O mérito é o
que dá direito à recompensa por uma ação boa. Em relação a Deus, o homem, de
per si, não pode merecer nada, tendo recebido tudo dele gratuitamente. Todavia,
Deus lhe dá a possibilidade de adquirir méritos pela união à caridade de
Cristo, fonte dos nossos méritos diante de Deus. Os méritos das obras boas
devem, por isso, ser atribuídos em primeiro lugar à graça de Deus e depois à
livre vontade do homem.
2006-2010
2025-2026
427. Que bens
podemos merecer?
Sob a moção do Espírito Santo podemos merecer, para nós mesmos e para
os outros, as graças úteis para nos santificar e para chegar à vida eterna,
como também os bens temporais a nós convenientes segundo o desígnio de Deus.
Ninguém pode merecer a graça primeira, que está na origem da conversão e
da justificação.
2010-2011 4027
428.
Somos todos chamados à santidade cristã?
Todos os fiéis são chamados à santidade cristã. Ela é plenitude da vida
cristã e perfeição da caridade, realiza-se na união íntima com Cristo e, nele,
com a Santíssima Trindade. O caminho de santificação do cristão, depois de ter
passado pela cruz, terá seu acabamento na ressurreição final dos justos, na
qual Deus será tudo em todas as coisas.
2012-2016 2028-2029
A IGREJA, MÃE E EDUCADORA.
429. De que modo a
Igreja nutre a vida moral do cristão?
A Igreja é a comunidade em que o cristão acolhe a Palavra de Deus e os
ensinamentos da "Lei de Cristo" (Gl 6,2); recebe a graça dos
sacramentos; une-se à oferta eucarística de Cristo, de modo que a sua vida
moral seja um culto espiritual; aprenda o exemplo da santidade da Virgem Maria
e dos Santos.
2030-2031 2047
430. Por que o
Magistério da Igreja intervém no campo moral?
Porque é missão do Magistério da Igreja pregar a fé a ser crida e a ser
aplicada na prática da vida. Essa missão se estende também aos preceitos
específicos da lei natural, porque sua observância é necessária para a
salvação.
2032-2040 2049-2051
431. Que finalidades
têm os mandamentos da Igreja?
Os cinco preceitos da Igreja têm como fim garantir aos fiéis o mínimo
indispensável do espírito de oração, da vida sacramental, do esforço moral e do
crescimento do amor de Deus e do próximo.
2041 2048
432. Quais são os
mandamentos da Igreja?
São: 1) participar da missa aos domingos e outras festas de guarda,
ficando livre de trabalhos e de atividades que pudessem impedir a santificação
desses dias; 2) confessar os próprios pecados, recebendo o sacramento da
Reconciliação pelos menos uma vez ao ano; 3) receber o sacramento da Eucaristia
pelo menos pela Páscoa; 4) abster-se de comer carne e observar o jejum nos dias
estabelecidos pela Igreja; 5) atender às necessidades materiais da Igreja, cada
qual segundo as próprias possibilidades.
2042-2043
433. Por que a vida
moral dos cristãos é indispensável para o anúncio do Evangelho?
Porque com sua vida conforme o Senhor Jesus os cristãos atraem os
homens à fé no verdadeiro Deus, edificam a Igreja, informam o mundo com o
espírito do Evangelho e apressam a vinda do Reino de Deus.
2044-2046
Segunda Seção
Os Dez mandamentos
Êxodo 20,2-17 |
Deuteronômio 5,6-21 |
Fórmula catequética |
Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da servidão. |
Eu sou o Senhor, teu Deus, aquele que te fez sair da terra do Egito, da casa da servidão. |
Eu sou o Senhor teu Deus |
Não terás outros deuses diante de mim. |
Não terás outros deuses além de mim... |
1.Amar a Deus sobre todas as coisas. |
Não farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, nos céus, ou embaixo da terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. |
|
|
Não te prostrarás diante esses deuses e não os servirás, porque eu, o Senhor, teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração dos que me odeiam, e faço misericórdia até a milésima geração àqueles que me amam e guardam meus mandamentos. |
|
|
Não pronunciarás em vão o nome do Senhor, teu Deus, porque o Senhor não deixará impune aquele que pronunciar em vão O seu nome. |
Não pronunciarás em vão o nome do Senhor teu Deus... |
2. Não tomar seu Santo Nome em vão. |
Lembra-te do dia do Sábado para santificá-lo. |
Guardarás o dia de sábado para santificá-lo. |
3.Guardar domingos e festas de guarda |
Trabalharás durante seis dias, e farás todas as tuas obras. O sétimo dia, porém, é o sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu animal, nem o estrangeiro que está em tuas portas. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm, mas repousou no sétimo dia; por isso o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou. |
|
|
Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá. |
Honrar teu pai e tua mãe... |
4. Honra pai e mãe. |
Não matarás. |
Não matarás. |
5. Não matar. |
Não cometerás adultério. |
Não cometerás adultério. |
6. Não pecar contra a castidade. |
Não roubarás. |
Não roubarás. |
7. Não furtar. |
Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo. |
Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo. |
8. Não levantar falso testemunho. |
Não cobiçarás a casa de teu próximo, não desejarás sua mulher, nem seu servo, nem sua serva, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença. |
Não cobiçarás a mulher de teu próximo. Não desejarás coisa alguma que pertença a teu próximo. |
9. Não desejar a mulher do próximo. 10.Não cobiçar as coisas alheias |
434.
"Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?" (Mt 19,16).
Ao jovem que lhe dirige essa pergunta Jesus responde: "Se queres
entrar na vida, observa os mandamentos" e depois acrescenta "Vem e
segue-me" (Mt 19,16-21). Seguir Jesus implica a observância dos
mandamentos. A Lei não é abolida, mas o homem é convidado a encontrá-la na
pessoa do divino Mestre, que a realiza perfeitamente em si mesmo, revela seu
pleno significado e atesta sua perenidade.
2052-2054 2075-2076
435. Como Jesus interpreta
a Lei?
Jesus a interpreta à luz do duplo e único mandamento da caridade,
plenitude da Lei: "Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com
toda a tua alma e com todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro
mandamento. O segundo é semelhante a esse: 'Amarás teu próximo como a ti
mesmo'. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos" (Mt
22-37-40).
2055
436. O que significa
"Decálogo"?
Decálogo significa "dez palavras" (Ex 34,28). Essas palavras
resumem a Lei dada por Deus ao povo de Israel no contexto da Aliança, mediante
Moisés. Ao apresentar os mandamentos do amor de Deus (os primeiros três) e do
próximo (os outros sete), traça para o povo eleito e para cada um de nós em
particular o caminho de uma vida livre da escravidão do pecado.
2056-2057
437. Qual é a
ligação do Decálogo com a Aliança?
Compreende-se o Decálogo à luz da Aliança, na qual Deus se revela,
fazendo conhecer a sua vontade. Ao observar os mandamentos, o povo exprime a
própria pertença a Deus e responde com gratidão à iniciativa de amor dele.
2058-2063 2077
438. Que importância
dá a Igreja ao Decálogo?
Fiel à Escritura e ao exemplo de Jesus, a Igreja reconhece no Decálogo
uma importância e um significado primordiais. Os cristãos são obrigados a observá-lo.
2064-2068
439. Por que o
Decálogo constitui uma unidade orgânica?
Os dez mandamentos constituem um conjunto orgânico e indissociável, porque cada mandamento remete aos outros e a todo o Decálogo. Por isso transgredir um mandamento é transgredir toda a Lei.
2069 2079
440. Por que o
Decálogo obriga gravemente?
Porque enuncia os deveres fundamentais
do homem para com Deus e para com o próximo.
2072-2073, 2081
441. É possível
observar o Decálogo?
Sim, porque Cristo, sem o qual nada podemos
fazer, nos torna capazes de observá-lo, com o dom do seu Espírito e da sua
graça.
2074 2082
CAPITULO PRIMEIRO
"Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento"
O PRIMEIRO MANDAMENTO:
EU SOU O SENHOR TEU DEUS.
NÃO TERÁS OUTROS DEUSES ALÉM DE MIM
442. O que implica a
afirmação de Deus: “Eu sou o Senhor teu Deus" (Ex 20,2)?
Implica, para
o fiel, guardar e praticar as três virtudes teologais e evitar os pecados que a
elas se opõem. A fé crê em Deus e rejeita o que lhe é contrário, como,
por exemplo, a dúvida voluntária, a incredulidade, a heresia, a apostasia, o
cisma. A esperança espera com confiança a bem-aventurada visão de Deus e
a sua ajuda, evitando o desespero e a presunção. A caridade ama a Deus
acima de tudo: recusam-se, portanto, a indiferença. a ingratidão, a tibieza, a
acídia ou preguiça espiritual, o ódio de Deus, que nasce do orgulho.
2083-2094
2133-2134
Comporta: adorar a Deus como Senhor de
tudo o que existe; prestar-lhe o culto devido individual e comunitariamente;
orar a ele com expressões de louvor, de agradecimento e de súplica;
oferecer-lhe sacrifícios, sobretudo o espiritual, da nossa vida, unido ao
sacrifício perfeito de Cristo; manter as promessas e os votos feitos a Ele. 2095-2105 2135-2136
Todo homem tem
o direito e o dever moral de procurar a verdade, especialmente no que diz
respeito a Deus e à sua Igreja e, uma vez conhecida, abraçá-la e guardá-la
fielmente, prestando a Deus um culto autêntico. Ao mesmo tempo, a dignidade da
pessoa humana exige que em matéria religiosa ninguém seja forçado a agir contra
a própria consciência nem impedido, nos justos limites da ordem pública, de
agir em conformidade com a sua consciência, de modo privado ou público, de
forma individual ou associada.
2104-2109
2137
445. O que proíbe
Deus quando manda: "Não terás outros deuses além de mim" (Ex 20,2)?
Esse mandamento proíbe:
o politeísmo e a idolatria que diviniza
uma criatura, o poder, o dinheiro, até o demônio;
a superstição,
que é um desvio do culto devido ao verdadeiro Deus e Se exprime também nas
várias formas de adivinhação, magia, feitiçaria e espiritismo;
a irreligião,
que se exprime em tentar a Deus com palavras ou atos, no sacrilégio, que
profana pessoas ou coisas sagradas, sobretudo a Eucaristia, na simonia, que
pretende adquirir ou vender as realidades espirituais;
o ateísmo, que rejeita a existência de Deus, fundando-se muitas
vezes numa falsa concepção da autonomia humana; o agnosticismo, para o
qual nada se pode saber sobre Deus, e que compreende o indiferentismo e o
ateísmo prático.
2110-2128 2138-2140
No Antigo Testamento, e mandamento proíbe representar o Deus absolutamente transcendente. A partir da Encarnação do Filho de Deus, o culto cristão das sagradas imagens é justificado (como afirma o segundo concílio de Nicéia, de 787), pois se fundamenta no Mistério do Filho de Deus feito homem, no qual o Deus transcendente se torna visível. Não se trata de uma adoração da imagem, mas de uma veneração de quem nela é representado: Cristo, a Virgem, os Anjos e os Santos.
2129-2132 2141
O SEGUNDO MANDAMENTO: NÃO PRONUNCIARÁS O NOME DE DEUS EM VÃO
447. Como se
respeita a santidade do Nome de Deus?
Respeita-se
invocando o Nome santo de Deus, bendizendo-o, louvando-o e glorificando-o.
Portanto, devem ser evitados o abuso de apelar para o Nome de Deus para
justificar um crime e qualquer uso inconveniente de seu Nome, como a blasfêmia,
que por sua natureza é um pecado grave, as pragas e a infidelidade
às promessas feitas em Nome de Deus.
2142-2149
2160-2162
448. Por que é
proibido o juramento falso?
Porque assim se invoca a Deus, que é a
própria verdade, como testemunha de uma mentira.
2150-2151 2163-2164
"Não jurar nem pelo Criador nem pela criatura senão com verdade, por necessidade e com reverência" (Santo Inácio de Loyola).
Perjúrio é
fazer, sob juramento, uma promessa com a intenção de não a manter, ou violar a
promessa feita sob juramento. É um pecado grave contra Deus, que é sempre fiel
às suas promessas.
2152-2155
O TERCEIRO MANDAMENTO:
LEMBRA-TE DE SANTIFICAR AS FESTAS
450. Por que Deus
"abençoou
o dia do sábado e o santificou" (Ex 20,11)?
Porque no dia
de sábado se faz memória do repouso de Deus no sétimo dia da criação,
bem como da libertação de Israel da escravidão do Egito e da Aliança que Deus
sancionou com o seu povo.
2168-2172 2189
451. Como se
comporta Jesus em relação ao sábado?
Jesus
reconhece a santidade do sábado e, com autoridade divina, dá sua interpretação
autêntica; "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”
(Mc 2,27).
2173
452. Por qual
motivo, para os cristãos, o sábado foi substituído pelo domingo?
Porque o domingo é o dia da Ressurreição
de Cristo. Como "primeiro dia da semana" (Mc 16,2), ele lembra a
primeira criação; como "oitavo dia", que segue o sábado, significa a nova criação inaugurada pela
Ressurreição de Cristo. Tornou-se assim, para os cristãos, o primeiro de todos
os dias e de todas as festas: o dia do Senhor, no qual ele, com a sua
Páscoa, leva a termo a verdade espiritual do sábado hebraico e anuncia o
repouso eterno do homem em Deus.
2174-2176 2190-2191
453. Como se
santifica o domingo?
Os cristãos santificam o domingo e as outras festas de preceito
participando da Eucaristia do Senhor e abstendo-se também daquelas atividades
que impedem de prestar culto a Deus e perturbam a alegria própria do dia do
Senhor ou o necessário descanso da mente e do corpo. São permitidas as
atividades ligadas a necessidades familiares ou a serviços de grande utilidade
social, desde que não criem hábitos prejudiciais à santificação do domingo, à
vida de família e à saúde.
2177-2185 2192-2193
454.
Por que é importante reconhecer civilmente o domingo como dia festivo?
Para que a
todos seja dada a real possibilidade de gozar de suficiente repouso e de tempo
livre que lhes permitam cuidar da vida religiosa, familiar, cultural e social;
de dispor de um tempo propício para a meditação, a reflexão, o silêncio e o
estudo; de dedicar-se às obras de bem, em particular em favor dos doentes e dos
idosos.
2186-2188
2194-2195
CAPÍTULO SEGUNDO
“Amarás O teu próximo
como a ti mesmo”
O QUARTO MANDAMENTO: HONRAR TEU PAI E TUA MÃE
455.
O que ordena o quarto mandamento?
Ordena honrar e respeitar os nossos pais e aqueles que Deus, para o
nosso bem, revestiu da sua autoridade.
2196-2200 2247-2248
456. Qual é a
natureza da família no plano de Deus?
Um homem e uma mulher unidos em
matrimônio formam juntamente com seus filhos uma família. Deus instituiu a
família e dotou-a da sua constituição fundamental. O matrimônio e a família são
ordenados para o bem dos esposos, para a procriação e para a educação dos
filhos. Entre os membros de uma mesma família estabelecem-se relações pessoais
e responsabilidades primárias. Em Cristo, a família se toma igreja
doméstica, porque é comunidade de fé, de esperança e de amor.
2201-2205 2249
457. Que lugar ocupa
a família na sociedade?
A família é a
célula originária da sociedade humana e antecede que quer reconhecimento por
parte da autoridade pública. Os princípios e os valores familiares constituem o
fundamento da vida social. A vida de família é uma iniciação à vida da
sociedade.
2207-2208
458. Que deveres tem
a sociedade em relação à família?
A sociedade tem o dever de apoiar e consolidar o matrimônio e a
família, no respeito também do princípio de subsidiariedade. Os poderes
públicos devem respeitar, proteger e favorecer a verdadeira natureza de
matrimônio e da família, a moral pública, os direitos dos pais e a prosperidade doméstica.
2209-2213 2250
459. Quais são os
deveres dos filhos em relação aos pais?
Em relação aos pais, os filhos devem respeito (piedade filial),
reconhecimento, docilidade e obediência, contribuindo assim, inclusive com as
boas relações entre irmãos e irmãs, para o crescimento da harmonia e da
santidade de toda a vida familiar. Quando os pais se encontrarem em situações
de indigência, de doença, de solidão ou de velhice, os filhos adultos
devem-lhes ajuda moral e material.
2214-2220 2251
460. Quais são os
deveres dos pais em relação aos filhos?
Os pais, participantes da paternidade divina, são os primeiros responsáveis
pela educação dos seus filhos e os primeiros anunciadores da fé a eles. Têm o
dever de amar e respeitar os filhos como pessoas e como filhos de
Deus, e de prover, quanto possível, às suas necessidades materiais e
espirituais, escolhendo para eles uma escola adequada e ajudando-os com
prudentes conselhos na escolha da profissão e do estado de vida. Em particular
têm a missão de os educar na fé cristã.
2221-2231
461. Como os pais
educam os seus filhos na fé cristã?
Principalmente com o exemplo, a
oração, a catequese familiar e a participação na vida eclesial.
2252-2253
462. Os laços
familiares são um bem absoluto?
Os vínculos familiares, embora importantes, não são absolutos porque a
primeira vocação do cristão é de seguir Jesus, amando-o: "Quem ama pai ou
mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama filho ou filha mais do
que a mim não é digno de mim" (Mt 10,37). Os pais devem favorecer com
alegria o seguimento de Jesus por parte dos seus filhos, em qualquer estado de
vida, mesmo na vida consagrada ou no ministério sacerdotal.
2232-2233
463.
Como deve ser exercida a autoridade nos vários âmbitos da sociedade civil?
Deve ser sempre exercida como um serviço, respeitando os direitos fundamentais
do homem, uma justa hierarquia dos valores, das leis, a justiça distributiva e
o princípio de subsidiariedade. Cada qual, no exercício da autoridade, deve
procurar o interesse da comunidade mais que o próprio, e deve inspirar as suas
decisões na verdade sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo.
2234-2237 2254
464.
Quais são os deveres dos cidadãos em relação às autoridades civis?
Os que se submetem à autoridade devem considerar seus superiores como
representantes de Deus, oferecendo-lhes leal colaboração para O bom
funcionamento da vida pública e social. Isso comporta o amor e o serviço da
pátria, o direito e o dever de voto, o pagamento dos impostos, a defesa do país
e o direito a uma crítica construtiva.
2238-2241 2255
465. Quando o
cidadão não deve obedecer às autoridades civis?
O cidadão não
deve em consciência obedecer quando as ordens das autoridades civis se opõem às
exigências da ordem moral: "É preciso obedecer a Deus antes que aos
homens" (At 5,29).
2242-2243
2256
O QUINTO MANDAMENTO: NÃO MATARÁS
466.
Por que a vida humana deve ser respeitada?
Porque é sagrada.
Desde seu início ela comporta a ação criadora de Deus e permanece para
sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. A ninguém é lícito
destruir diretamente um ser humano inocente, sendo isso gravemente contrário à
dignidade da pessoa e à santidade do Criador. "Não mates o inocente nem o
justo" (Ex 23,7).
2258-2262
2318-2320
467.
Por que a legítima defesa das pessoas e das sociedades não vai contra essa
norma?
Porque com a legítima defesa faz-se a
escolha de se defender e valoriza-se o direito à vida, própria ou de outro, e
não a escolha de matar. A legítima defesa, para quem tem a responsabilidade da
vida alheia, pode ser também um grave dever. Ela não deve, todavia, comportar o
uso da violência maior do que o necessário.
2263-2265
Uma pena imposta por uma legítima autoridade pública, tem o objetivo de
reparar a desordem introduzida pela culpa, de defender a ordem pública e a
segurança das pessoas, de contribuir para a correção do culpado.
2266
469. Que pena se pode
impor?
A pena imposta deve ser proporcional à gravidade do delito. Depois das
possibilidades de que o Estado dispõe para reprimir o crime, tornando inofensivo
o culpado, os casos de absoluta necessidade de pena de morte "são hoje
muito raros, se não até praticamente inexistentes" (Evangelium vitae). Quando
os meios incruentos são suficientes, a autoridade limitar-se-á a esses meios,
porque eles correspondem melhor às condições concretas do bem comum, são mais
conformes à dignidade da pessoa e não tiram definitivamente do culpado a
possibilidade de se redimir.
2267
470. O que proíbe o quinto mandamento?
O
quinto mandamento proíbe como gravemente contrários à lei moral:
o
homicídio direto e voluntário e a cooperação com ele;
o
aborto direto, querido como fim ou como meio, bem como a cooperação com
ele, sob pena de excomunhão, porque o ser humano, desde sua concepção, deve ser
respeitado e protegido de modo absoluto em sua integridade;
a
eutanásia direta, que consiste em pôr fim, com um ato ou omissão de uma
ação devida, à vida de pessoas deficientes, doentes ou próximas da morte;
o suicídio e a cooperação voluntária com ele, porquanto é uma
ofensa grave ao justo amor de Deus, de si e do próximo; quanto à
responsabilidade, ela pode ser agravada em razão do escândalo ou atenuada por
particulares distúrbios psíquicos ou grave medo.
2268-2283 2321-2326
471.
Quais procedimentos médicos são consentidos quando a morte é considerada
iminente?
Os cuidados que ordinariamente se devem a uma pessoa doente não podem
ser legitimamente interrompidos. São, porém, legítimos o uso de analgésicos,
que não tenham a morte como objetivo, e a renúncia à "obstinação terapêutica",
ou seja, à utilização de procedimentos médicos desproporcionais e sem razoável
esperança de êxito positivo.
2278-2279
472. Por que a
sociedade deve proteger todo embrião?
O direito
inalienável à vida de todo indivíduo humano desde sua concepção é um elemento
constitutivo da sociedade civil e da sua legislação. Quando o Estado não põe
sua força a serviço dos direitos de todos e em particular dos mais fracos,
entre os quais os concebidos ainda não nascidos, minam-se os fundamentos mesmos
de um Estado de direito.
2273-2274
473. Como se evita o
escândalo?
O escândalo,
que consiste em induzir outros a fazer o mal, evita-se respeitando a alma e o
corpo da pessoa. Se se induz deliberadamente outros a pecar gravemente,
comete-se uma culpa grave.
2284-2287
474.
Que dever temos em relação ao corpo?
Temos de ter um razoável cuidado da saúde física própria e
alheia, evitando, todavia, o culto do corpo e toda espécie de excessos.
Além disso, devem ser evitados os usos de drogas que causam gravíssimos danos à
saúde e à vida humana, e também o abuso dos alimentos, do álcool, do fumo e dos
medicamentos.
2288-2291
São moralmente
legítimas se estão a serviço do bem integral da pessoa e da sociedade, sem
riscos desproporcionais para a vida e a integridade física e psíquica dos
indivíduos, oportunamente informados e conscientes.
2292-2295
476.
São permitidos o transplante e a doação de órgãos, antes e depois da morte?
O transplante de órgãos é moralmente
aceitável com o consentimento do doador e sem riscos excessivos para ele. Para
o nobre ato da doação dos órgãos após a morte deve ser plenamente constatada a
morte real do doador.
2296
477.
Que práticas são contrárias ao respeito da integridade corpórea da pessoa
humana?
São: a tomada de reféns e seqüestros de pessoa, o terrorismo, a
tortura, a violência, a esterilização direta. As amputações e as mutilações de
uma pessoa são moralmente permitidas somente para indispensáveis fins
terapêuticos dela. 2297-2298
478. Que cuidados se
deve ter com os moribundos?
Os moribundos
têm direito a viver com dignidade os últimos momentos da sua vida terrena, sobretudo
com o apoio da oração e dos sacramentos que preparam para o encontro com o Deus
vivo.
2299
479. Como devem ser
tratados os corpos dos defuntos?
Os corpos dos
defuntos devem ser tratados com respeito e caridade. Sua cremação é permitida
se feita sem pôr em questão a fé na ressurreição dos mortos.
2300-2301
480. O que pede
o
Senhor de toda pessoa a respeito da paz?
O Senhor, que
proclama "felizes os que promovem a paz" (Mt 5,9), pede a paz
do coração e denuncia a imoralidade da cólera, que é o desejo de vingança pelo
mal recebido, e do ódio, que leva a desejar o mal para o próximo. Essas
atitudes, se voluntárias e consentidas em coisas de grande importância, são
pecados graves contra a caridade.
2302-2303
A paz no mundo, a qual é necessária para o respeito e o desenvolvimento
da vida humana, não é simples ausência da guerra ou equilíbrio de forças
contrárias, mas é "a tranqüilidade da ordem" (Santo Agostinho),
"fruto da justiça" (Is 32,17) e efeito da caridade. A paz terrena é
imagem e fruto da paz de Cristo.
2304-2305
482. O que exige a
paz no mundo?
Exige a justa
distribuição e a tutela dos bens das pessoas, a livre comunicação entre os
seres humanos, o respeito pela dignidade das pessoas e dos povos, a prática
assídua da justiça e da fraternidade.
2304; 2307-2308
483. Quando é
moralmente permitido o uso da força militar?
O uso da
força militar é moralmente justificado pela presença contemporânea das seguintes
condições: certeza de um durável e grave dano sofrido; ineficácia de toda
alternativa pacífica; fundadas possibilidades de êxito; ausência de males
piores, considerado o atual poder dos meios de destruição.
2307-2310
484. Em caso de ameaça de guerra, a quem cabe
a avaliação rigorosa de tais condições?
Cabe ao juízo prudente dos
governantes, a quem compete também o direito de impor aos cidadãos a obrigação
da defesa nacional, salvo o direito pessoal à objeção de consciência, a se
realizar com outra forma de serviço à comunidade humana.
2309
485. Em caso de
guerra, o que exige a lei moral?
A lei moral permanece sempre válida, mesmo em caso de guerra. Ela exige
que se tratem com humanidade os não-combatentes, os soldados feridos e os
prisioneiros. As ações deliberadamente contrárias ao direito dos povos e as
disposições que as impõem são crimes que a obediência cega não é suficiente
para escusar. Deve-se condenar as destruições de massa, bem como o extermínio
de um povo ou de uma minoria étnica, que são pecados gravíssimos, e se tem
moralmente a obrigação de resistir às ordens de quem as ordena.
2312-2314 2328
486. O que é preciso
fazer para evitar a guerra?
Deve-se fazer
tudo o que for razoavelmente possível para evitar de qualquer modo a guerra, dados
os males e as injustiças que ela provoca. Em particular, é preciso evitar a
acumulação e o comércio das armas não devidamente regulamentadas pelos poderes
legítimos; as injustiças, sobretudo econômicas e sociais; as discriminações
étnicas e religiosas; a inveja, a suspeita, o orgulho e o espírito de vingança.
O que se fizer para eliminar essas e outras desordens ajuda a edificar a paz e
a evitar a guerra.
2315-2317
2327-2330
O SEXTO MANDAMENTO:
NÃO COMETERÁS ADULTÉRIO
487.
Qual é o dever da pessoa humana em relação à própria identidade sexual?
Deus criou o ser humano, homem e mulher, com igual dignidade pessoal, e
inscreveu nele a vocação do amor e da comunhão. Cabe a cada um aceitar a
própria identidade sexual; reconhecendo sua importância para a pessoa toda, a
especificidade e a complementaridade.
2331-2336 2392-2393
A castidade é a positiva integração da sexualidade na pessoa. A
sexualidade se torna humana quando é integrada de modo justo na relação de
pessoa a pessoa. A castidade é uma virtude moral, um dom de Deus, uma graça, um
fruto do Espírito.
2337-2338
489. O que comporta
a virtude da castidade?
Comporta a
aquisição do domínio de si como expressão de liberdade humana voltada ao dom de
si. É necessária, para esse fim, uma integral e permanente educação, que se
realiza em graduais etapas de crescimento.
2339-2341
490. Quais os meios
disponíveis que ajudam a viver a castidade?
Numerosos são
os meios à disposição: a graça de Deus, a ajuda dos sacramentos, a oração, o
conhecimento de si, a prática de uma ascese adequada às várias situações, o
exercício das virtudes morais, em particular da virtude da temperança, que visa
fazer guiar as paixões pela razão.
2340-2347
491. De que modo
todos são chamados a viver a castidade?
Todos,
seguindo a Cristo, modelo de castidade, são chamados a levar uma vida casta
segundo o próprio estado de vida: uns vivendo na virgindade ou no celibato
consagrado, um modo iminente de se dedicar mais facilmente a Deus com coração
indiviso; outros, se casados, vivendo a castidade conjugal; se não casados,
vivendo a castidade na continência.
2348-2350
2394
492. Quais são os
principais pecados contra a castidade?
São pecados gravemente contrários à castidade, cada qual segundo a
natureza do próprio objeto: o adultério, a masturbação, a fornicação, a
pornografia, a prostituição, o estupro, os atos homossexuais. Esses pecados são
expressão do vício da luxúria. Cometidos com menores, esses atos são um
atentado ainda mais grave contra a integridade física e moral deles.
2351-2359 2396
Embora
no texto bíblico do Decálogo se leia "não cometer adultério» (Ex 20,14), a
Tradição da Igreja segue em conjunto os ensinamentos morais do Antigo e do Novo
Testamento e considera o sexto mandamento englobando todos os pecados contra a
castidade.
2336
494. Qual é o dever
das autoridades civis em relação à castidade?
Elas, por
serem obrigadas a promover o respeito da dignidade da pessoa, devem contribuir
para criar um ambiente favorável à castidade, até impedindo, com leis
adequadas, a difusão de algumas das supracitadas graves ofensas à castidade,
para proteger, sobretudo os menores e os mais fracos.
2354
495. Quais são os bens
do
amor conjugal, ao qual se ordena a sexualidade?
Os bens do
amor conjugal, que para os batizados é santificado pelo sacramento do
matrimônio, são: unidade, fidelidade, indissolubilidade e abertura à
fecundidade.
2360-2361 2397-2398
496. Que significado
tem o ato conjugal?
O ato conjugal tem um duplo significado: unitivo (a mútua doação dos cônjuges)
e procriador (a abertura à transmissão da vida). Ninguém deve romper a conexão
inseparável que Deus quis entre os dois significados do ato conjugal, excluindo
um ou outro.
2362-2367
497. Quando é moral
a regulação dos nascimentos?
A regulação
dos nascimentos, que representa um dos aspectos da paternidade e maternidade
responsáveis, é objetivamente conforme à moralidade quando é feita pelos
esposos sem imposições externas, não por egoísmo, mas por sérios motivos e com
métodos conformes aos critérios objetivos da moralidade, ou seja, com a
continência periódica e o recurso aos períodos infecundos.
2368-2369
2399
498. Quais são os
meios imorais para a regulação dos nascimentos?
É
intrinsecamente imoral toda ação -
como, por exemplo, a
esterilização direta ou contracepção - que, em previsão do ato conjugal, ou na
sua realização, ou no desdobramento das suas conseqüências naturais, se
proponha como objetivo ou como meio impedir a procriação.
2370-2372
499. Por que a
inseminação e a fecundação artificial são imorais?
São
imorais porque dissociam a procriação do ato com que os esposos se dão
mutuamente, instaurando assim um domínio da técnica sobre a origem e sobre o destino da pessoa humana. Além
disso, a inseminação e a fecundação heteróloga, com o recurso a técnicas
que envolvem uma pessoa estranha ao casal conjugal, ferem o direito do filho de
nascer de um pai e de uma mãe
conhecidos por ele, ligados entre si pelo matrimônio e com o direito exclusivo
a se tomarem pais somente um por meio do outro.
2373-2377
500. Como deve ser
considerado um filho?
O filho é um dom de Deus, o dom maior do matrimônio. Não existe
um direito a ter filhos (“o filho devido, a todo custo"). Existe, sim, o direito
de filho de ser o fruto do ato conjugal dos seus pais e também o direito de ser
respeitado como pessoa desde o momento de sua concepção.
2378
501. O que podem
fazer os esposos quando não têm filhos?
Quando o dom
do filho não lhes é concedido, os esposos, depois de ter esgotado os legítimos
recursos à medicina, podem mostrar sua generosidade mediante a guarda ou
adoção, ou pela prestação de serviços significativos a favor o próximo.
Realizam assim uma valiosa fecundidade espiritual.
2379
502. Quais são as
ofensas à dignidade do matrimônio?
São: o adultério, o divórcio, a
poligamia, o incesto, a união livre (convivência, concubinato), o ato sexual
antes ou fora do matrimônio.
2380-2391 2400
O SÉTIMO MANDAMENTO:
NÃO ROUBARÁS
503. O que enuncia o sétimo mandamento?
Enuncia a destinação e a distribuição universal dos bens, a propriedade
privada e o respeito às pessoas, a seus bens e à integridade da criação. A
Igreja tem fundamentada nesse mandamento também a sua doutrina social. que compreende
o reto agir na atividade econômica e na vida social e política, o direito e o
dever do trabalho humano, a justiça e a solidariedade entre as nações, o amor
pelos pobres.
2401-2402
504.
Em que condições existe o direito à propriedade privada?
O direito à
propriedade privada existe desde que adquirida ou recebida de modo justo e
desde que continue primordial a destinação universal dos bens para a satisfação
das necessidades fundamentais de todos os homens.
2403
505. Qual é O fim da
propriedade privada?
O fim da propriedade privada é garantir a liberdade e a dignidade das
pessoas individualmente, ajudando-as a satisfazer as necessidades fundamentais
próprias daqueles de quem se tem responsabilidade e também de outros que vivem
em necessidade.
2404-2406
506. O que
prescreve o sétimo mandamento?
O sétimo mandamento prescreve o respeito aos bens alheios, mediante a
prática da justiça e da caridade, da temperança e da solidariedade. Em
particular, exige o respeito das promessas e dos contratos estipulados; a
reparação da injustiça cometida e a restituição do que foi roubado; o
respeito da integridade da criação mediante o uso prudente e moderado
dos recursos minerais, vegetais e animais que estão no universo, com especial
atenção para as espécies ameaçadas de extinção.
2407 2450-2451
507. Que
comportamento deve ter o homem em relação aos animais?
O homem deve
tratar os animais, criaturas de Deus, com benevolência, evitando quer: o excessivo
amor em relação a eles quer seu uso indiscriminado, sobretudo para
experimentações científicas efetuadas fora dos limites razoáveis e com inúteis
sofrimentos para os animais.
2416-2418
2457
508. O que proíbe
o sétimo mandamento?
O sétimo mandamento proíbe em primeiro lugar o furto, que é a usurpação
do bem alheio contra a razoável vontade do proprietário. Isso se verifica
também no pagamento de salários injustos; na especulação sobre o valor dos bens
para disso tirar vantagem com prejuízo de outros; na falsificação de cheques ou
de faturas. Proíbe, além disso, cometer fraudes fiscais ou comerciais, causar
voluntariamente um dano às propriedades privadas ou públicas. Proíbe também a
usura, a corrupção, o abuso privado de bens sociais, os trabalhos mal
realizados de modo culposo, o desperdício. 2408-2413
2453-2455
509. Qual é o conteúdo
da doutrina social da Igreja?
A doutrina social da Igreja, como desenvolvimento orgânico da verdade
do Evangelho sobre a dignidade da pessoa humana e sobre sua dimensão social,
contém princípios de reflexão, formula critérios de juízo e oferece normas e
orientações para a ação.
2419-2423
510. Quando a Igreja
intervém em matéria social?
A Igreja intervém
ao emitir um juízo moral em matéria econômica e social quando isso é exigido
pelos direitos fundamentais da pessoa, pelo bem comum ou pela salvação das
almas.
2420 2458
511. Como deve ser
exercida a vida social e econômica?
Deve ser exercida, segundo os próprios métodos, no âmbito da ordem
moral, a serviço do homem em sua integralidade e de toda a comunidade humana,
no respeito da justiça social. Ela deve ter o homem como autor, centro e fim.
2459
512. O que se opõe à
doutrina social da Igreja?
Opõem-se à
doutrina social da Igreja os sistemas econômicos e sociais que sacrificam os
direitos fundamentais das pessoas, ou que fazem do lucro sua regra exclusiva ou
seu fim último. Por isso a Igreja recusa as ideologias associadas nos tempos
modernos ao "comunismo" ou às formas atéias e totalitárias de
"socialismo". Além disso, rejeita, na prática do
"capitalismo", o individualismo e a primazia absoluta da lei do
mercado sobre o trabalho humano.
2424-2425
513. Que significado
tem o trabalho para o homem?
O trabalho
para o homem é um dever e um direito, mediante o qual ele colabora com Deus
criador. Com efeito, trabalhando com empenho e competência, a pessoa põe em
prática capacidades inscritas na sua natureza, exalta os dons do Criador e os
talentos recebidos, sustenta a si mesmo e a seus filhos, serve a comunidade
humana. Além disso, com a graça de Deus, o trabalho pode ser meio de
santificação e de colaboração com Cristo para a salvação dos outros.
2426-2428
2460-2461
514. A que tipo de
trabalho tem direito toda pessoa?
O acesso a um
seguro e honesto trabalho deve estar aberto a todos, sem injusta discriminação,
no respeito da livre iniciativa econômica e de uma justa retribuição.
2429,2433-2434
515. Qual é a responsabilidade
do Estado a respeito do trabalho?
Cabe ao
Estado promover a segurança em relação às garantias das liberdades individuais
e da propriedade, além de uma moeda estável e serviços públicos eficazes;
vigiar e guiar o exercício dos direitos humanos no setor econômico. Em relação às circunstâncias, a sociedade deve
ajudar os cidadãos a encontrar trabalho.
2431
516. Que dever têm
os dirigentes de empresas?
Os dirigentes de empresas têm a responsabilidade econômica e ecológica
das suas operações. Devem considerar o bem das pessoas e não apenas o aumento
dos lucros, embora eles sejam necessários para assegurar os investimentos, o
futuro das empresas, a ocupação e o bom andamento da vida econômica.
2432
517. Que deveres têm
os trabalhadores?
Eles devem exercer seu trabalho com consciência, competência e
dedicação, procurando resolver as eventuais controvérsias com o diálogo. O
recurso à greve não-violenta é moralmente legítimo quando parece ser o
instrumento necessário em vista de uma vantagem proporcional e ao levar em
conta o bem comum.
2435
518. Como se realiza
a justiça e a solidariedade entre as nações?
No plano internacional das as nações e instituições devem agir com base
na solidariedade e subsidiariedade, com o fim de eliminar ou pelo menos reduzir
a miséria, a desigualdade dos recursos e dos meios econômicos, as injustiças
econômicas e sociais, a exploração das pessoas, o acúmulo das dívidas dos
países pobres, os mecanismos perversos que obstaculizam o desenvolvimento dos
países menos progredidos.
2437-2441
519.
De que modo os cristãos participam da vida política e social?
Os fiéis
leigos intervêm diretamente na vida política e social animando, com espírito
cristão, as realidades temporais e colaborando com todos, como autênticas
testemunhas do Evangelho e agentes de paz e de justiça.
2442
520. Em que se
inspira o amor pelos pobres?
O amor pelos
pobres se inspira no Evangelho das bem-aventuranças e no exemplo de Jesus, na
sua constante atenção pelos pobres. Jesus disse: "Todas as vezes que
fizestes isso a um destes pequeninos, foi a mim que o fizestes" (Mt
25,40). O amor pelos pobres se verifica mediante o empenho contra a pobreza material e também contra as
numerosas formas de pobreza cultural, moral e religiosa. As obras de
misericórdia, espirituais e corporais, e as numerosas instituições benéficas
surgidas ao longo dos séculos são um concreto testemunho do amor preferencial
pelos pobres que caracteriza os discípulos de Jesus.
2443-2449
2462-2463
O OITAVO MANDAMENTO:
NÃO DARÁS FALSO TESTEMUNHO
521. Qual o dever do
homem a respeito da verdade?
Toda pessoa é chamada à sinceridade e à veracidade no agir e no falar.
Cada um tem o dever de procurar a verdade e de a ela aderir, ordenando toda a
própria vida segundo as exigências da verdade. Em Jesus Cristo, a verdade de
Deus se manifestou inteiramente: ele é a Verdade. Quem o segue vive no
Espírito de verdade, e é avesso à duplicidade, à simulação e à hipocrisia.
2464-2470 2504
522. Como se dá
testemunho da verdade?
O cristão deve dar testemunho da verdade evangélica em todos os campos
da sua atividade pública e privada, mesmo com o sacrifício, se necessário, da
própria vida. O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé.
2471-2474 2505-2506
523. O que proíbe o oitavo mandamento?
O oitavo mandamento proíbe:
o
falso testemunho e o perjúrio, a mentira, cuja gravidade
se mede pela verdade que ela deforma, pelas circunstâncias, pelas intenções do
mentiroso e pelos danos sofridos pelas vítimas;
o juízo
temerário, a maledicência, a difamação, a calúnia, que
diminuem ou destroem a boa reputação e a honra, a que tem direito toda pessoa;
a bajulação, a adulação ou
complacência, sobretudo se endereçada a pecados graves ou à consecução
de vantagens ilícitas.
Uma culpa cometida contra a verdade
comporta a reparação se causou danos a outros.
2475-2487 2507-2509
524. O que pede o
oitavo mandamento?
O oitavo mandamento pede o respeito à verdade,
acompanhado pela discrição da caridade: na comunicação e na
informação, que devem avaliar o bem pessoal e comum, a defesa da vida
privada, o perigo de escândalo; na manutenção dos segredos profissionais, que
devem sempre ser mantidos, exceto casos excepcionais por graves e proporcionais
motivos. E é também exigido o respeito pelas confidências feitas sob
sigilo.
2488-2492
2510-2511
525. Como deve ser o
uso dos meios de comunicação social?
A informação midiática deve estar a serviço do bem comum e no seu
conteúdo deve ser sempre verdadeira e, salvas a justiça e caridade, também
íntegra. Deve, além disso, exprimir-se de modo honesto e conveniente,
respeitando escrupulosamente as leis morais, os legítimos direitos e a
dignidade da pessoa.
2493-2499 2512
526. Que relação
existe entre verdade, beleza e arte sacra?
A verdade é bela em si mesma. Ela comporta o esplendor da beleza
espiritual. Existem, além da palavra, numerosas formas de expressão da verdade,
em particular as obras artísticas. São fruto de um talento dado por Deus e do
esforço do homem. A arte sacra, para ser verdadeira e bela, deve evocar
e glorificar o Mistério de Deus que se mostrou em Cristo e levar à adoração e
ao amor de Deus Criador e Salvador, Beleza excelsa de Verdade e de Amor.
2500-2503 2513
O NONO MANDAMENTO:
NÃO COBIÇARÁS A MULHER DO TEU PRÓXIMO
527. O que pede
o
nono mandamento?
O nono
mandamento pede que se vença a concupiscência carnal nos pensamentos e nos desejos.
A luta contra essa concupiscência passa pela purificação do coração e pela
prática da virtude da temperança.
2514-2516 2528-2530
528. O que proíbe o
nono mandamento?
O nono mandamento proíbe cultivar
pensamentos e desejos relativos às ações proibidas pelo sexto mandamento.
2517-2519 2531-2532
529. Como se chega à
pureza do coração?
O batizado, com a graça de Deus e
lutando contra os desejos desordenados, chega à pureza do coração mediante a
virtude e o dom da castidade, a pureza de intenção, a transparência do olhar
exterior e interior, a disciplina dos sentimentos e da imaginação, a oração.
2520
530. Que outras
exigências tem a pureza?
A pureza exige o pudor, que,
guardando a intimidade da pessoa, exprime a delicadeza da castidade e regula olhares
e gestos em conformidade com a dignidade das pessoas e da sua comunhão. Ela
livra do erotismo geral e mantém longe de tudo o que favorece a curiosidade
doentia. Exige também uma purificação do ambiente social, mediante uma
luta constante contra a permissividade dos costumes, baseada numa errônea
consciência da liberdade humana.
2521-2527 2533
O DÉCIMO MANDAMENTO:
NÃO DESEJARÁS COISA ALGUMA DE TEU PRÓXIMO
531. O que exige e o
que proíbe o décimo mandamento?
Esse
mandamento, que completa o anterior, exige uma atitude interior de respeito com
referência à propriedade alheia e proíbe a avidez, a ambição
desenfreada dos bens alheios e a inveja, que consiste na tristeza
sentida diante dos bens alheios e no desejo descomedido de se apropriar deles.
2534-2540
2551-2554
532. O que pede
Jesus
com a pobreza de coração?
A seus discípulos Jesus pede que O prefiram a tudo e a todos. O
desapego das riquezas - segundo o espírito da pobreza evangélica - e o abandono
à providência de Deus, que nos liberta da preocupação pelo dia de amanhã,
preparam para a bem-aventurança dos "pobres de coração, pois deles é o
Reino dos céus" (Mt 5,3).
2544-2547 2556
533. Qual é o maior
desejo do homem?
O maior desejo do homem é o de ver a Deus. Esse é o clamor de todo o
seu ser: "Quero ver a Deus!". O homem, com efeito, realiza a sua
verdadeira e plena felicidade na visão e na bem-aventurança daquele que o criou
por amor e o atrai a si no seu infinito amor.
2548-2550 2557
"Quem vê a Deus obteve todos os bens que podemos imaginar" (São Gregório de Nissa).
COMPÊNDIO
DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA |
|
TERCEIRA
PARTE |